Descendentes de escravizados nos EUA são identificados por pesquisa genética; entenda
Uma pesquisa genética, feita em parceria entre Harvard e o Museu Nacional de História Natural (NMNH), revelou descendentes vivos de escravizados nos EUA.
Você já imaginou descobrir que é descendente de escravizados? Nos Estados Unidos, um estudo publicado na renomada revista Science revelou a identificação de descendentes vivos de pessoas que foram escravizadas entre o final do século 18 e o início do século 19.
Pesquisadores da Universidade de Harvard, em colaboração com o Museu Nacional de História Natural (NMNH) do Smithsonian e a empresa 23andMe, especializada em análise de DNA, conduziram a pesquisa.
A pesquisa
O processo de pesquisa começou com a coleta de dados genômicos de 27 indivíduos enterrados no Catoctin Furnace, uma antiga instalação industrial que operou de 1776 a 1903, no estado de Maryland.
Os negros escravizados desempenhavam tarefas domésticas e agrícolas no local até a abolição da escravidão em 1865, após a Guerra de Secessão.
Hoje, o Catoctin Furnace é um museu a céu aberto que preserva a arquitetura, objetos usados pelos cativos e um cemitério com 35 sepulturas, sendo que 32 delas contêm restos mortais de indivíduos de ascendência africana.
Após a análise genética desses restos mortais, os pesquisadores cruzaram os dados com informações de uma base genética que continha dados de 9,3 milhões de pessoas da 23andMe.
Éadaoin Harney, pesquisadora de Harvard, enfatizou: “(…) tivemos que desenvolver uma abordagem que pudesse identificar conexões genéticas entre pessoas históricas e vivas, otimizada para trabalhar com dados de DNA antigos.”
Resultado surpreendente
Os pesquisadores conseguiram rastrear as origens ancestrais de muitos dos indivíduos enterrados, descobrindo conexões particularmente interessantes.
Eles tinham relações genéticas com as populações atuais nas regiões do Senegal, Gâmbia, Angola e República Democrática do Congo. Além disso, alguns tinham ascendência europeia, com conexões na Grã-Bretanha e na Irlanda.
A Dra. Éadaoin Harney destacou a dificuldade de acessar um banco de dados genético diverso o suficiente para encontrar parentes vivos dos indivíduos enterrados em Catoctin.
O banco de dados da 23andMe foi fundamental, juntamente com a meticulosa extração de DNA dos restos mortais, que muitas vezes estavam fragmentados e danificados.
Embora a pesquisa tenha revelado essas importantes conexões entre os indivíduos históricos e seus descendentes atuais, os pesquisadores ainda não conseguiram conectar esses descendentes com suas comunidades de origem em Catoctin.
O próximo passo é direcionar os resultados da pesquisa para pessoas que possuem dados genéticos na 23andMe. No entanto, esse processo levanta questões éticas delicadas, as quais os pesquisadores estão estudando atentamente.
Além de se mostrar altamente inovadora, a pesquisa genética poderia ser aplicada em outras partes do mundo, incluindo o Brasil, para entender melhor a história e a ancestralidade das populações afrodescendentes.
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