É possível cavar um buraco e sair do outro lado do mundo?

Essa questão, tratada jocosamente por muitos, tem uma pitada de conhecimento científico.

Se alguém perfurasse a Terra até transpassá-la, onde iria parar? É interessante imaginar essa situação, embora para a maioria a resposta fosse simplesmente “em algum lugar no oceano”. Mas, de fato, seria viável escavar através da Terra e emergir do outro lado?

Em busca dessas respostas, a China recentemente embarcou na missão de cavar um buraco com 10 mil metros de profundidade, sendo este o mais profundo já tentado no país.

Após escavar 10 camadas de rocha, a equipe responsável por essa iniciativa almeja alcançar as rochas do Período Cretáceo, datadas de aproximadamente 145 milhões de anos.

Porém, mesmo que o buraco perfurado na China seja notavelmente profundo, não se equipara ao buraco mais fundo já feito pelo ser humano na Terra. Esse título pertence ao Kola Superdeep Borehole, localizado na península de Kola, no noroeste da Rússia.

O projeto russo, que esteve em andamento de 24 de maio de 1970 até pouco após o colapso da União Soviética, ocorrido no final de 1991, atingiu uma profundidade de pouco mais de 12 mil metros abaixo da superfície.

A equipe russa fez uma descoberta surpreendente, revelando que as rochas encontradas abaixo da superfície terrestre eram consideravelmente mais úmidas do que se esperava. Anteriormente, acreditava-se que a água não penetrava tão profundamente nas rochas.

No entanto, mesmo alcançando a profundidade de 12 mil metros, tanto a equipe do Kola Superdeep Borehole quanto a nova equipe na China não conseguiram romper a litosfera da Terra (crosta) para alcançar o manto, que era o objetivo de ambas as expedições.

Mas, a possibilidade de “perfurar” a Terra é uma realidade?

Isso depende de inúmeros fatores, considerando que a espessura da crosta terrestre varia substancialmente.

Em média, a crosta tem cerca de 30 quilômetros de espessura, embora em áreas montanhosas essa medida possa chegar a até 100 quilômetros.

Debaixo dos oceanos, essa espessura não é tão variável, mantendo-se em média entre 6 e 7 quilômetros. Assim, os 12 quilômetros alcançados pelos russos e os recentes 10 quilômetros obtidos pelos chineses seriam suficientes nesse cenário.

Contudo, apesar da menor espessura da crosta sob os oceanos, a complexidade do processo aumenta devido a fatores como a estabilidade da broca e o controle da pressão da água.

(Imagem: Freepik/reprodução)

E se alguém tentasse literalmente perfurar a Terra completamente?

Inicialmente, é importante ressaltar que tentar perfurar a Terra em qualquer local do globo implicaria em complicações extremas, todas relacionadas à intensa pressão e calor.

Doug Wilson, um geofísico e pesquisador da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, explica que a cada 3 metros perfurados, é adicionada uma atmosfera adicional de pressão sobre equipamentos, pessoas e tudo mais envolvido na escavação.

Suponhamos, portanto, que alguém se empenhasse em perfurar a Terra para atravessá-la literalmente. Conforme a escavação avançasse, já nos primeiros 100 metros, a pressão se tornaria suficiente para converter os perfuradores em uma espécie de “gosma” no interior do planeta.

Por outro lado, a temperatura enfrentada pela máquina de perfuração seria presumivelmente intransponível, pois o núcleo terrestre atinge uma temperatura aproximada de 5.200ºC.

Wilson sugeriu que o bombeamento contínuo de água poderia auxiliar (embora provavelmente não fosse eficaz) no resfriamento da broca. No entanto, à medida que os aventureiros se aproximassem do núcleo externo, seria como perfurar um líquido, já que em determinado ponto o manto terrestre consiste apenas em magma (rochas derretidas).

Caso, hipoteticamente, conseguissem alcançar o núcleo sólido da Terra, enfrentariam outros desafios, já que essa região interna do planeta é sólida devido à pressão extrema no centro da Terra, não por causa de uma redução na temperatura.

Finalmente, caso alguém conseguisse penetrar no núcleo sólido, seria igualmente esmagado e/ou distorcido devido à imensa pressão.

Resumindo, não é, de forma alguma, uma ideia sensata tentar atravessar a Terra pelo seu interior. É muito mais seguro e viável viajar de avião, carro ou mesmo de barco!

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