Lei Eusébio de Queiroz (1850) – Resumo, o que foi, consequências
Promulgada em 4 de setembro de 1850, a Lei Eusébio de Queiroz só começou a ser cumprida de maneira eficaz após a promulgação da Lei Nabuco de Araújo.
A Lei Eusébio de Queiroz foi promulgada em 4 de setembro de 1850, e tinha como objetivo a proibição do tráfico de escravos. Essa foi a primeira das três leis que deram andamento na abolição da escravidão, conhecidas também como leis abolicionistas.
A Lei Eusébio de Queiroz foi criada pelo político Eusébio de Queirós Coutinho Matoso da Câmara, durante o Segundo Reinado.
Lei Eusébio de Queiroz
Muitos fazendeiros brasileiros, principalmente os do norte do país, tinham hipotecado suas terras a fim de pagar dívidas com traficantes de escravos, sendo a maioria portugueses. Dessa forma, corria-se o risco das terras passarem novamente para a mão dos portugueses.
O autor da lei, argumentava, ainda, que com a continuação de entrada de mais negros escravizados, poderia haver um desequilíbrio entre pessoas livres e escravas. Isso poderia acarretar em uma revolta lideradas por negros, como a Independência do Haiti e a Revolta dos Malês.
A elite brasileira se voltou contra o governo Imperial após a Lei Eusébio de Queiroz. Sendo assim, foi aprovado dias depois, em 18 de setembro de 1850, no Senado, a Lei de Terras.
Essa lei garantia a propriedade a quem tivesse um título registrado em cartório, ou seja, quem pudesse comprá-lo. Assim, os fazendeiros poderiam perder um bem móvel (escravos), mas não poderiam perder seus bens imóveis (terras). Dessa forma, aumentou-se o preço dos escravos e o tráfico interno.
A Lei Eusébio de Queiroz só foi, de fato, cumprida, em 1854, quando entrou em vigor a Lei Nabuco de Araújo (nº 731). Essa lei foi promulgada em 5 de junho de 1854, e era um complemento da promulgada quatro anos antes.
Na Lei Nabuco de Araújo, foi estabelecido quem seria responsável e quem julgaria o acusado pelo tráfico. Além disso, eliminou a necessidade de flagrante para denunciar quem praticasse o tráfico de escravos.
Influência da Grã-Bretanha
Os ingleses pressionavam para o fim do tráfico negreiro, desde a vinda da Corte Portuguesa para o Brasil colônia, em 1808. Mas foi através da Lei Bill Aberdeen, promulgada em 1845, na Inglaterra, que o governo imperial brasileiro ficou com medo do que poderia acontecer e criou a Lei Eusébio de Queiroz.
A Lei Bill Aberdeen, proibia o tráfico de escravos entre África e América e autorizava ingleses apreenderem navios negreiros intercontinentais.
A Inglaterra estava interessada no fim da escravidão, mas não porque estava preocupada com os negros que eram transformados em escravos. A preocupação era porque a Inglaterra havia abolido a escravidão há pouco tempo e sabia que o trabalho escravo diminuía o valor dos produtos.
Isto é, a Inglaterra fica com medo de que a colônia se torne uma concorrente no comércio e, por meio da Lei Bill Aberdeen, tenta acabar com o tráfico de escravos entre os continentes.
Lei Eusébio de Queiroz na íntegra
LEI Nº 581, DE 4 DE SETEMBRO DE 1850.
(Vide Decreto n º 731, de 14 de novembro de 1850)
Estabelece medidas para a repressão do trafico de africanos neste Imperio.
Dom Pedro, por Graça de Deos, e Unanime Acclamacão dos Povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo do Brasil: Fazemos saber a todos os Nossos Subditos, que a Assemblea Geral Decretou, e Nós Queremos a Lei seguinte.
Art. 1º As embarcações brasileiras encontradas em qualquer parte, e as estrangeiras encontradas nos portos, enseadas, ancoradouros, ou mares territoriaes do Brasil, tendo a seu bordo escravos, cuja importação he prohibida pela Lei de sete de Novembro de mil oitocentos trinta e hum, ou havendo-os desembarcado, serão apprehendidas pelas Autoridades, ou pelos Navios de guerra brasileiros, e consideradas importadoras de escravos.
Aquellas que não tiverem escravos a bordo, nem os houverem proximamente desembarcado, porêm que se encontrarem com os signaes de se empregarem no trafico de escravos, serão igualmente apprehendidas, e consideradas em tentativa de importação de escravos.
Art. 2º O Governo Imperial marcará em Regulamento os signaes que devem constituir a presumpção legal do destino das embarcações ao trafico de escravos.
Art. 3º São autores do crime de importação, ou de tentativa dessa importação o dono, o capitão ou mestre, o piloto e o contramestre da embarcação, e o sobrecarga. São complices a equipagem, e os que coadjuvarem o desembarque de escravos no territorio brasileiro, ou que concorrerem para os occultar ao conhecimento da Autoridade, ou para os subtrahir á apprehensão no mar, ou em acto de desembarque, sendo perseguido.
Art. 4º A importação de escravos no territorio do Imperio fica nelle considerada como pirataria, e será punida pelos seus Tribunaes com as penas declaradas no Artigo segundo da Lei de sete de Novembro de mil oitocentos trinta e hum. A tentativa e a complicidade serão punidas segundo as regras dos Artigos trinta e quatro e trinta e cinco do Codigo Criminal.
Art. 5º As embarcações de que tratão os Artigos primeiro e segundo e todos os barcos empregados no desembarque, occultação, ou extravio de escravos, serão vendidos com toda a carga encontrada a bordo, e o seu producto pertencerá aos apresadores, deduzindo-se hum quarto para o denunciante, se o houver. E o Governo, verificado o julgamento de boa presa, retribuirá a tripolação da embarcação com á somma de quarenta mil réis por cada hum africano apprehendido, que era distribuido conforme as Leis á respeito.
Art. 6º Todos os escravos que forem apprehendidos serão reexportados por conta …….. para os portos donde tiverem vindo, ou para qualquer outro ponto fóra do Imperio, que mais conveniente parecer ao Governo; e em quanto essa reexportação se não verificar, serão empregados em trabalho debaixo da tutela do Governo, não sendo em caso algum concedidos os seus serviços a particulares.
Art. 7º Não se darão passaportes aos navios mercantes para os portos da Costa da Africa sem que seus donos, capitães ou mestres tenhão assignado termo de não receberem á bordo delles escravo algum; prestando o dono fiança de huma quantia igual ao valor do navio, e carga, a qual fiança só será levantada se dentro de dezoito mezes provar que foi exactamente cumprido aquillo a que se obrigou no termo.
Art. 8º Todos os apresamentos de embarcações, de que tratão os Artigos primeiro e segundo, assim como a liberdade dos escravos apprehendidos no alto mar, ou na costa antes do desembarque, no acto delle, ou immediatamente depois em armazens, e depositos sitos nas costas e portos, serão processados e julgados em primeira instancia pela Auditoria de Marinha, e em segunda pelo Conselho d’Estado. O Governo marcará em Regulamento a fórma do processo em primeira e segunda instancia, e poderá crear Auditores de Marinha nos portos onde convenha, devendo servir de Auditores os Juizes de Direito das respectivas Comarcas, que para isso forem designados.
Art. 9º Os Auditores de Marinha serão igualmente competentes para processar e julgar os réos mencionados no Artigo terceiro. De suas decisões haverá para as Relações os mesmos recursos e apellações que nos processos de responsabilidade.
Os comprehendidos no Artigo terceiro da Lei de sete de Novembro de mil oitocentos trinta e hum, que não estão designados no Artigo terceiro desta Lei, continuarão a ser processados, e julgados no foro commum.
Art. 10. Ficão revogadas quaesquer disposições em contrario.
Mandamos por tanto a todas as Autoridades a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumprão, e fação cumprir, e guardar tão inteiramente, como nella se contêm. O Secretario d’Estado dos Negocios da Justiça a faça imprimir, publicar e correr. Dada no Palacio do Rio de Janeiro aos quatro de Setembro de mil oitocentos e cincoenta, vigesimo nono da Independencia e do Imperio.
IMPERADOR Com Rubrica e Guarda.
EUSEBIO DE QUEIROZ COITINHO MATTOSO CAMARA.
Este texto não substitui o publicado na CLBR, de 1850
Carta de Lei, pela qual Vossa Magestade Imperial Manda executar o Decreto da Assembléa Geral, que Houve por bem Sanccionar, estabelecendo medidas para a repressão do trafico de africanos neste Imperio, na fórma acima declarada.
Para Vossa Magestade Imperial Ver.
Antonio AIves de Miranda Varejão a fez.
Eusebio de Queiroz Coitinho Mattoso Camara.
Sellada na Chancellaria do Imperio em 5 de Setembro de 1850.
Josino do Nascimento Silva.
Publicada na Secretaria d’Estado dos Negocios da Justiça em 5 de Setembro de 1850.
Josino do Nascimento Silva.
Registrada a fl. 135 v. do Lv. 1º de Leis. Secretaria d’Estado dos Negocios da Justiça em 27 de Setembro de 1850.
José Tiburcio Carneiro de Campos.
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