Obras de grandes escritores usadas para alfabetizar os pequenos
A alfabetização por meio de textos escritos por autores conhecidos é efetiva trabalhar a reflexão sobre a escrita e estimular a capacidade de memória.
O uso de textos curtos na alfabetização é muito comum entre professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Esse tipo de material é interessante por ser de fácil manipulação devido à simplificação de sua estrutura.
Entretanto, é importante saber selecionar os textos utilizados, prestando atenção na riqueza da linguagem e na informação que eles trazem. Os melhores exemplos do que pode, sem medo, ser aplicado em sala de aula são as parlendas.
Escritas por escritores conhecidos da literatura infantil, as parlendas já fazem parte das brincadeiras praticadas pelas crianças, além de estimular a memória dos pequenos. Seu uso favorece a ampliação do repertório textual usado na alfabetização.
Suas vantagens estão na elaboração dos textos, sempre com maior complexidade, construindo novos modelos de aprendizagem. O contato com obras mais estruturadas traz referências futuras na escrita da criança.
É a isso que chamamos de modelização. Trata-se de montar o repertório textual do aluno com textos que se constituem como base em suas próprias produções. Felizmente, professores não precisam ir longe na busca por autores referência nesse campo.
O Brasil é o berço de grandes escritores, muitos deles especialistas na literatura infantil. São contos, poemas e poesias que as crianças, de fato, já conhecem por meio da oralidade mas, podem passar a usá-los como padrão nas suas próprias construções.
Os campeões de uso em sala de aula são Vinícius de Moraes, Cecília Meireles, Otávio Roth, Manuel Bandeira, só para citar alguns. Suas obras podem ser apresentadas tanto sob a forma escrita quanto por outras mídias.
Isso significa que o professor pode trazer esses escritores com vídeos, fotografias, áudios, jogos e outros materiais que facilitam a identificação e memorização das crianças. A partir daí, o educador trabalha conceitos como rimas, repetições, vocabulário, entre outros.
A importância do letramento
Você já ouviu falar de letramento? O conceito tem foi adotado pelas escolas para se referir às práticas de ensino cujo objetivo é “alfabetizar letrando”. O processo leva em conta a reflexão e construção de todos os aspectos da escrita na aprendizagem. É aí que entra a escrita, desde que trabalhada de forma informal e criativa.
Quanto mais efetivo for o trabalho de letramento nas escolas, melhor o aluno se relaciona com a escrita formal. O letramento se baseia na premissa de que construir a linguagem escrita origina o próprio ato de escrever. Por isso, é importante iniciar atividades desde a Educação Infantil, tendo em mente que o objetivo inicial é letrar para, depois, alfabetizar.
Como alfabetizar os pequenos com obras de grandes escritores?
A alfabetização por meio de obras é muito efetiva porém, precisa ser bem trabalhada. Não basta, apenas, chegar com os textos e começar uma leitura. Existe todo um processo que potencializa os efeitos desse tipo de atividade.
Prepare-se
Lá em cima, já falamos de que nem todo texto curto ou obra literária é referência para a alfabetização. Por isso, o educador deve selecionar material de qualidade, o que não falta entre nossos escritores.
Dando uma boa pesquisada na internet, o professor pode encontrar excelentes textos de Cecília Meireles, Manoel de Barros, Cora Coralina, José Paulo Paes, Vinícius de Moraes e Patativa do Assaré.
Apresente a proposta
Ao selecionar os textos, chega a hora de apresentar a proposta para os alunos. Uma ideia é montar um projeto, ou seja, além de trabalhar a leitura e produção de textos, fazer com que isso tenha algum fruto. Pode ser uma amostra ou uma apresentação para toda a escola. Isso faz com que os pequenos se empolguem e coloquem mais dedicação.
Faça uma apresentação dos autores
Além da leitura das obras, apresente os autores, as obras que escreveram e o contexto sócio-cultural onde estavam inseridos. É uma forma excelente de fazer os alunos conhecerem mais sobre a cultura de nosso país, além de promover descobertas interessantes.
Faça rodas de leitura
Promova rodas de leitura para que as crianças tenham contato com todas as obras. Nesse momento, vá introduzindo conceitos importantes para a escrita, como linguagem, rimas, repetições e vocabulário.
Hora de escrever
O professor pode começar a escrita tanto de forma coletiva quanto individual. Assim, os alunos podem trocar ideias, construir textos coletivos para, depois, passarem para a produção de suas próprias obras.
Trabalhe uma boa apresentação
Tanta produção não pode ficar escondida! Reúna as obras escritas pelos alunos e as apresente sob a forma de livro, sarau ou mural.
No final, avalie como foi a atividade, anotando os pontos positivos e negativos, assinalando o que pode ser repetido, melhor trabalhado ou melhorado.
Exemplos de obras de grandes escritores
Para começar, que tal selecionar alguns dos textos que trouxemos para você?
A bailarina – Cecília Meireles
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.
Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá
Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.
Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.
Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.
A chácara do Chico Bolacha – Cecília Meireles
Na chácara do Chico Bolacha,
o que se procura
nunca se acha!
Quando chove muito,
o Chico brinca de barco,
porque a chácara vira charco.
Quando não chove nada,
Chico trabalha com a enxada
e logo se machuca
e fica de mão inchada.
Por isso, com o Chico Bolacha
o que se procura
nunca se acha!
Dizem que a chácara do Chico
só tem mesmo chuchu
e um cachorro coxo
que se chama Caxambu.
Outras coisas ninguém procura,
porque não acha,
coitado do Chico Bolacha!
A Casa – Vinícius de Moraes
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque a casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na Rua dos Bobos
Número Zero.
As Borboletas – Vinícius de Moraes
Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas.
Borboletas brancas
São alegres e francas.
Borboletas azuis
Gostam muito de luz.
As amarelinhas
São tão bonitinhas!
E as pretas, então…
Oh, que escuridão!
Pontinho de Vista – Pedro Bandeira
Eu sou pequeno, me dizem,
e eu fico muito zangado.
Tenho de olhar todo mundo
com o queixo levantado.
Mas, se formiga falasse
e me visse lá do chão,
ia dizer, com certeza:
— Minha nossa, que grandão!
A Lua foi ao Cinema – Paulo Leminski
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava para ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor,
que até hoje a lua insiste:
– Amanheça, por favor!
A Centopeia – Marina Colasanti
Quem foi que primeiro
teve a ideia
de contar um por um
os pés da centopeia?
Se uma pata você arranca
será que a bichinha manca?
E responda antes que eu esqueça
se existe o bicho de cem pés
será que existe algum de cem cabeças?
Convite – José Paulo Paes
Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.
Só que
bola, papagaio, pião
de tanto brincar
se gastam.
As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.
Como a água do rio
que é água sempre nova.
Como cada dia
que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?
Os comentários estão fechados, mas trackbacks E pingbacks estão abertos.