Ozempic: investimento em pesquisa justifica preço elevado?
Empresa farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk registra receitas altas com Ozempic e Wegovy, gerando questionamentos sobre a justificativa para os preços elevados.
O Ozempic, um medicamento amplamente utilizado para o controle do diabetes, tem sido alvo de críticas devido aos seus preços elevados.
Fabricado pela Novo Nordisk, o remédio tornou-se um símbolo da controvérsia sobre os altos custos dos medicamentos essenciais, provocando questionamentos sobre a verdadeira justificativa por trás de tais valores.
A Novo Nordisk, que também produz o Wegovy, defende que os preços refletem o investimento bilionário em pesquisa e desenvolvimento.
No entanto, com receitas que já ultrapassam significativamente os custos iniciais, surgem dúvidas sobre a necessidade de manter valores tão altos, especialmente em um contexto onde muitos pacientes enfrentam dificuldades para obter acesso ao tratamento.
Por que o Ozempic é tão caro?
A principal justificativa oferecida pela Novo Nordisk para o preço elevado do Ozempic é o custo de desenvolvimento e pesquisa.
A empresa alega ter investido mais de US$ 68 bilhões (mais de R$ 369 bilhões de reais) ao longo de mais de três décadas para desenvolver tais medicamentos, que só recentemente se tornaram lucrativos.
Além disso, a Novo Nordisk afirma que continua investindo pesadamente, com mais de US$ 30 bilhões (quase R$163 bilhões) destinados à expansão da capacidade de fabricação desde o ano passado.
Entretanto, esses números são colocados em xeque quando se observa o faturamento estratosférico que o Ozempic e o Wegovy geraram.
Até o segundo trimestre deste ano, as vendas combinadas desses medicamentos já somavam quase US$ 50 bilhões (R$ 271 bilhões aproximadamente), com previsões de alcançar US$ 65 bilhões (quase R$ 353 bilhões) até o final de 2024.
O montante é quase equivalente a todo o orçamento da empresa para pesquisa nas últimas três décadas. Isso levanta uma questão: se a empresa já recuperou seus investimentos com larga margem, por que os preços continuam tão elevados?
A pressão regulamentar e governamental
Nos Estados Unidos, a pressão sobre a Novo Nordisk tem aumentado, especialmente porque muitos pacientes não conseguem adquirir o Ozempic devido à falta de cobertura por parte dos planos de saúde.
O alto custo do medicamento tornou-se um obstáculo significativo para muitos que dependem dele para controlar o diabetes ou perder peso.
Em resposta a essas preocupações, o CEO da empresa, Lars Fruergaard Jorgensen, foi convocado para depor no Congresso dos EUA, onde precisará explicar as razões por trás dos preços elevados.
O senador Bernie Sanders, que lidera a investigação, argumenta que o Ozempic poderia ser produzido de forma lucrativa por menos de US$ 100 por mês (menos de R$ 543), com base em consultas com fabricantes de medicamentos genéricos.
Comparado ao preço atual de tabela, que é de aproximadamente US$ 968 por mês (mais de R$ 5.256), tal discrepância só aumenta as críticas e pressões sobre a Novo Nordisk.
Comparações com outros medicamentos
Para compreender melhor a controvérsia, é útil comparar o Ozempic com outros fármacos populares.
Um exemplo frequentemente citado é o Lipitor, uma pílula para controle de colesterol fabricada pela Pfizer, que por muitos anos foi o medicamento mais vendido no mundo.
Antes de perder sua patente em 2011, o tratamento com Lipitor custava cerca de US$ 150 por mês (pouco mais de R$ 814), valor significativamente menor do que o Ozempic.
Tal comparação destaca o quanto os preços praticados pela Novo Nordisk se desviam do que historicamente tem sido considerado aceitável para medicamentos de uso amplo (mesmo com patente exclusiva).
A Novo Nordisk encontra-se em uma posição delicada. Por um lado, precisa justificar seus preços elevados para manter os investimentos em inovação e expansão da capacidade de produção.
Por outro lado, enfrenta um crescente escrutínio público e governamental que questiona se há ética em manter preços tão altos para medicamentos que, embora revolucionários, têm uma demanda crescente e atendem a necessidades de saúde crítica.
*Com informações de Terra Brasil Notícias e O Globo
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