Quantas línguas indígenas existem no Brasil?

O número de idiomas indígenas varia de acordo com o critério da pesquisa. Confira o número total, quais são as 10 mais faladas e o perigo da extinção

Não existe um consenso para o número exato de línguas indígenas no Brasil. Os dados variam de acordo com os critérios de cada pesquisa.

Segundo o último censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010, 274 línguas indígenas eram faladas por indivíduos pertencentes a 305 etnias diferentes. No entanto, esse número, como lembrado pela própria pesquisa, precisava de estudos linguísticos e antropológicos mais aprofundados, já que alguns idiomas declarados podiam ser variações de um mesmo idioma.

Já de acordo com um um estudo de 2013 do Laboratório de Línguas Indígenas (LALI) da Universidade de Brasília (UnB), existem 199 línguas indígenas brasileiras. Os dados estão próximos do site Ethnologue, um banco mundial de idiomas, no qual consta que há 201 línguas indígenas brasileiras vivas.

As línguas indígenas brasileiras

O Brasil tem dois troncos linguísticos quando se fala de línguas indígenas: o tupi, que abriga 10 famílias linguísticas, e o macro-jê, constituído por 9 famílias.

Há também 19 famílias linguísticas, que não são semelhantes o suficiente para serem agrupadas em tronco, e oito línguas isoladas.

(Fonte: Povos Indígenas no Brasil (IPB) do Instituto Socioambiental (ISA))
(Fonte: Povos Indígenas no Brasil (IPB) do Instituto Socioambiental (ISA))

As 10 línguas indígenas mais faladas no Brasil são, segundo o LALI, são:

1. Tikúna (Tukúna)
Família linguística: Tikúna
Tronco linguístico: –
UF: Amazonas
Número de falantes: 30 mil¹

2. Kaingáng (Caingague)
Família linguística: Jê
Tronco linguístico: Macro-Jê
UF: Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo
Número de falantes: 28 mil

3. Makuxí
Família linguística: Karíb
Tronco linguístico: –
UF: Roraima
Número de falantes: 23.500

4. Teréna
Família linguística: Aruák
Tronco linguístico: –
UF: Mato Grosso do Sul
Número de falantes: 20 mil

5. Guajajára (Tenetehára)
Família linguística: Tupí-Guaraní
Tronco linguístico: Tupí
UF: Maranhão
Número de falantes: 19.500

6. Yanomámi
Família linguística: Yanomámi
Tronco linguístico: –
UF: Roraima
Número de falantes: 15.700

7. Língua Geral Amazônica (Nheengatú)
Família linguística: (falada pelos Baré, Baníwa e outros povos no NW do Amazonas
Tronco linguístico: –
UF: Amazonas
Número de falantes: 15 mil

8. Xavánte (A’wén)
Família linguística: Jê
Tronco linguístico: Macro-Jê
UF: Mato Grosso
Número de falantes: 12.900

9. Mundurukú
Família linguística: Mundurukú
Tronco linguístico: Tupi
UF: Pará
Número de falantes: 10 mil

10. Kokáma (Omágua, Cambeba)
Família linguística: mista
Tronco linguístico: –
UF: Amazonas
Número de falantes: 9.500

É importante lembrar que é muito comum encontrar na população indígena casos de bilinguismo, trilinguismo ou multilinguismo. No entanto, como não se sabe a presença certa desses idiomas em uma mesma comunidade, os dados anteriores consideraram a língua básica de cada aldeia.

Extinção

A dificuldade em determinar um número de línguas indígenas acontece devido a vulnerabilidade desses idiomas. De acordo com o estudo do LALI, apenas 16 dessas 199 línguas têm mais de 5 mil falantes.

Segundo o Atlas das Línguas em Perigo da Unesco, divulgado em 2017, são 190 línguas indígenas brasileiras em risco de extinção. 12 já eram consideradas extintas pela organização, já que não possuíam mas nenhum falante vivo.

De acordo com a publicação, existem 5 graus de perigo em que uma língua pode ser classificada:

  • Vulnerável – a maioria das crianças falam o idioma, mas pode ser restrito apenas a certos domínios (como dentro de casa)
  • Definitivamente em perigo – as crianças não aprendem mais o idioma como língua materna em casa
  • Severamente em perigo – o idioma é falada por avós e gerações mais antigas; enquanto a geração dos pais pode compreender, mas não falar com as crianças ou entre eles
  • Criticamente em perigo – os falantes mais jovens do idioma são avós ou mais velhos; eles apenas falam a língua de forma parcial e infrequentemente
  • Extinta – não há mais falantes

Segundo estudos do linguista brasileiro Ayron Rodrigues, estima-se que em 1500, haviam pelo menos 1.175 línguas indígenas. Nesses 500 anos, pelo menos mil idiomas foram extintos no Brasil, uma consequência do extermínio da população indígena e da perseguição a essas línguas, presente por séculos na história brasileira.

Para preservar, registrar e ajudar esses idiomas a sobreviverem, diversas projetos são realizados por iniciativa de universidades, museus (como o Museu do Índio) e organizações como a Fundação Nacional do Índio (Funai). Alguns exemplos são grupos de pesquisa, catalogação e formação de profissionais indígenas capacitados para ajudar suas comunidades colaboram com a preservação dessas línguas indígenas.

¹ Números estimados de acordo com o Censo de 2010.

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