Reforma do ensino médio pode comprometer futuro do país
Alerta é da doutora da PUC-Rio, Fátima Lima, ao criticar redução da carga horária para disciplinas ‘clássicas’
As alterações produzidas pela reforma do ensino médio podem afetar diretamente a evolução financeira das famílias brasileiras e, por consequência, comprometer o desenvolvimento econômico e social do país.
O alerta foi lançado pela doutora em Educação pela PUC-Rio e coordenadora da Rede de Estudos sobre Implementação de Políticas Públicas Educacionais (Reiipe), Fátima Lima, ao participar, na última terça-feira (1º) do evento “Novo Ensino Médio: desafios estruturantes ao federalismo cooperado”, realizado pelo Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB).
Na oportunidade, Fátima classificou a redução da carga horária de disciplinas clássicas – uma das mudanças contidas na mencionada reforma – como um dos obstáculos para que a formação geral dos alunos se torne efetiva. “Estamos falando de uma reforma que atua sobre a vida dos estudantes, não somente na trajetória escolar, mas também na sua relação com o mundo do trabalho. Ela também afeta as famílias porque a educação é o fator que mais se relaciona com a mudança da vida econômica da família”, comentou.
Ao comentar as mudanças mais substanciais da reforma do ensino médio, instituídas pela Lei 13.415/2017, a doutora da PUC-Rio acentua que a nova norma envolve a questão da repetência no país, pois “60% dos estudantes, que participaram de classes de aceleração, repetiram o primeiro ano do ensino médio, em que, posteriormente, uma parte deixou a escola, e a outra acabou reprovada no segundo ano”.
Além da ‘pouca atratividade’ de tal nível de ensino para os estudantes – devido à baixa carga horária e ineficiência na tarefa de profissionalização das turmas – Fátima apontou que os colégios, de maneira geral, não dispõem de estrutura para oferecer tais serviços aos alunos. “Um quarto das escolas não tem quadra de esportes, 30% não têm biblioteca e um quarto não tem laboratório de informática”, disse ela, ao acrescentar que a ampliação da jornada escolar não pode ser efetivada, tendo em vista que 57% das instituições de ensino não oferecem matrícula em horário integral.
“É impossível pensarmos em formulação e implementação de política sem fazer um diagnóstico, mas assim foi implementado o novo ensino médio”, avaliou a doutora da PUC, para quem existe, ainda, a dificuldade em garantir a efetividade da reforma no território. “Existem ensinos médios absolutamente diferentes sendo implementados, o que já dificulta que possamos pensar em um federalismo de cooperação”, afirmou.
As observações de Fátima foram endossadas pelo diretor de Ensino Médio e Profissional da Pró-Reitoria de Ensino do Colégio Pedro II, Walber Carvalho Melo. “Uma política pública de Estado só pode ir a campo, quando a Nação em seu todo estiver sob o olhar e sob o alcance dessa política pública. Caso contrário, ela se torna uma política de privação de possibilidades de futuro e de sucesso”, concluiu.
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