Se você não consegue mais ler um livro inteiro, não está sozinho – e há um motivo para isso

Transição para o consumo digital impacta a habilidade de leitura profunda e a atenção das novas gerações.

Em um mundo cada vez mais digital, o hábito de ler livros está em declínio. O jornalista britânico Johann Hari, em seu best-seller “Foco Roubado”, investiga essa tendência preocupante e aponta influências modernas que afetam nossa capacidade de manter a atenção.

Hari dedicou três anos a entender por que tantas pessoas estão abandonando os livros. Ele concluiu que fatores externos são responsáveis pela distração.

A transição de leituras profundas para informações digitais rápidas está alterando a maneira como processamos as informações.

Desinteresse na leitura e dados alarmantes

Nos Estados Unidos, o número de leitores frequentes está caindo. Entre 2004 e 2017, a leitura por prazer entre homens reduziu-se em 40% e, entre mulheres, em 29%.

Outra pesquisa, feita pela Gallup, indicou que o número de pessoas que não leem livros triplicou entre 1978 e 2014.

  • 57% dos americanos não leram um livro sequer em um ano típico.
  • Em 2017, o tempo médio de leitura diária foi de 17 minutos, contra 5,4 horas no celular.

Os dados também apontam que essa tendência não é exclusivamente americana. Entre 2008 e 2016, o mercado de romances no Reino Unido caiu 40%. O ano de 2011 foi especialmente crítico, com uma queda de 26% nas vendas de livros de ficção em brochura.

Ademais, a literatura complexa está perdendo terreno, afetando a forma como experimentamos o “fluxo”, um estado mental focado descrito pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi.

Diferenças entre leitura de livros e de telas

A professora Anne Mangen, da Universidade de Stavanger, explica que ler livros nos ensina a focar em um tópico por longos períodos. Já a leitura em telas promove uma leitura superficial e fragmentada, o que afeta nossa capacidade de entendimento e memória.

Suas pesquisas concluem que a leitura digital treina o cérebro para pular de informação em informação, prejudicando a compreensão de textos mais longos. Experimentos demonstram que a leitura em telas leva a uma compreensão inferior, especialmente em crianças no ensino básico.

O declínio na leitura profunda pode afetar nossa compreensão e paciência cognitiva. Professores, até mesmo em Harvard, estão notando dificuldades para incentivar a leitura. A crise de atenção levanta questões sobre o futuro do pensamento crítico e intelectual.

O futuro da leitura profunda é nebuloso, e há chances de que este se torne um hábito restrito a poucos, semelhante a interesses de nicho como a ópera.

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