Afantasia: como é a vida sem visualização mental?

A afantasia é uma condição intrigante e complexa que impede indivíduos de formar imagens mentais, impactando diretamente na capacidade de sonhar visualmente, lembrar de rostos ou imaginar cenas. Este fenômeno, também conhecido como “mente cega”, revela a diversidade da experiência humana no que tange à percepção e à consciência.

Adam Zeman, um neurologista da Universidade de Exeter, foi um dos pioneiros na pesquisa sobre afantasia, destacando que, embora a maioria das pessoas possa facilmente visualizar uma maçã ao fechar os olhos, aqueles com afantasia enfrentam uma tela mental em branco. Curiosamente, estima-se que entre 3% e 4% da população global possua essa condição, o que desafia a noção comum de que a imaginação visual é uma experiência universal.

A descoberta da afantasia veio à tona através de histórias pessoais, como a de Guillermo Antonio Acevedo, um médico que viveu grande parte de sua vida sem saber que sua incapacidade de visualizar era uma condição distinta. Sua jornada de descoberta começou ao se deparar com um artigo de Zeman, levando-o a entender que, ao contrário da maioria, ele não podia “ver” imagens mentais.

A afantasia não é considerada uma doença ou um transtorno, mas sim uma variação na experiência humana. Pesquisadores enfatizam que a condição é majoritariamente congênita, embora possa também surgir de lesões cerebrais. Indivíduos com afantasia tendem a desenvolver estratégias compensatórias para lidar com a falta de visualização, como uma dependência maior em informações textuais e auditivas.

Contrariando o senso comum, a afantasia não necessariamente limita a criatividade ou o sucesso profissional. Personalidades como Ed Catmull, cofundador da Pixar, e Glen Keane, animador da Disney (criador da Pequena Sereia), são exemplos de indivíduos com afantasia que alcançaram feitos notáveis em campos que exigem imaginação visual.

O diagnóstico da afantasia geralmente ocorre por meio de questionários que avaliam a intensidade das imagens mentais, como o Vividness of Visual Imagery Questionnaire.

Ainda não existe um tratamento específico para a afantasia, pois os impactos dessa condição variam e muitas vezes são compensados por outras habilidades cognitivas.