Como a Terra se transformou numa bola de neve há 717 milhões de anos?

Há aproximadamente 717 milhões de anos, o planeta Terra, antes repleto de paisagens úmidas e águas turbulentas azuis, sofreu uma transformação radical, tornando-se um mundo frio e estéril. Este período da história geológica, conhecido como Bola de Neve, marca uma das fases mais intrigantes e extremas do clima terrestre.

Cientistas há muito se debruçam sobre o mistério de como e por que o planeta quase congelou por completo e como permaneceu nesse estado gélido por cerca de 56 milhões de anos. Pesquisadores da Universidade de Sydney propuseram uma teoria reveladora: a diminuição global nas emissões de dióxido de carbono (CO2), resultado da redução da atividade vulcânica.

Segundo eles, esse pode ter sido o gatilho para a entrada e a manutenção da Terra nesse longo período glacial. Menos CO2 na atmosfera significa menor capacidade de reter calor, o que, em condições extremas, pode levar a uma era do gelo.

Este insight, publicado na revista Geology, esclarece o papel dos processos geológicos no clima passado da Terra e pode, inclusive, ajudar a compreender as tendências climáticas atuais. Em um mundo sem a presença humana para influenciar os níveis de CO2, a geologia dominava o jogo climático.

Outras teorias já sugeriram que o clima da Terra poderia ter sido afetado por fatores como a erosão das rochas ígneas, que absorvem CO2 da atmosfera. Contudo, Adriana Dutkiewicz, líder do estudo, destaca que, embora isso possa ter iniciado a glaciação, não seria suficiente para mantê-la por tanto tempo.

Assim, a equipe voltou sua atenção para os vulcões, utilizando modelos recentes das placas tectônicas da Terra para estudar as emissões vulcânicas antes e durante a era do gelo. Seus cálculos indicaram uma queda significativa no CO2 atmosférico, suficiente para desencadear e sustentar a glaciação.

Embora a redução das emissões vulcânicas já tenha sido considerada como uma explicação para a Terra Bola de Neve, esta é a primeira vez que cálculos modelados comprovam a viabilidade desse mecanismo. A pesquisa destaca a importância de compreender a atividade geológica passada para modelar futuras mudanças climáticas e distingui-la das alterações induzidas pelo homem.

Apesar da modelagem oferecer uma base sólida para essa teoria, ainda há desafios significativos para testar completamente essa hipótese devido à escassez de dados reais sobre a crosta oceânica antiga da Terra. Contudo, estudos como este são fundamentais para entender as falhas climáticas do passado e como elas podem informar sobre os processos atuais e futuros.