Cientistas desvendam a forma como o cérebro processa vozes ouvidas
De acordo com especialistas, o nosso cérebro entende vozes de maneiras distintas, variando conforme o volume da fala.
Uma descoberta recente explica como nosso cérebro lida com conversas em ambientes barulhentos e pode ter um impacto significativo no desenvolvimento de aparelhos auditivos mais eficientes.
Vinay Raghavan, pesquisador da Universidade de Columbia, em Nova York, deu uma explicação interessante sobre como o cérebro processa a percepção da fala. Segundo ele, a ideia predominante era de que apenas a voz da pessoa à qual estamos prestando atenção é processada pelo cérebro.
No entanto, Raghavan questiona essa noção, observando que, quando alguém grita em um local lotado, não o ignoramos mesmo quando estamos concentrados em outra pessoa.
Especialistas investigam como o cérebro humano processa as vozes
Durante o estudo controlado por Vinay Raghavan e sua equipe, eletrodos foram acoplados ao cérebro de sete indivíduos durante cirurgias de epilepsia, permitindo a monitoração da atividade cerebral.
Durante esse procedimento, os participantes foram expostos a um clipe de áudio de 30 minutos com duas vozes sobrepostas.
Os participantes permaneceram acordados durante a cirurgia e foram instruídos a alternar sua atenção entre as duas vozes presentes no áudio. Uma das vozes era de um homem, enquanto a outra era de uma mulher.
As vozes se sobrepondo falavam simultaneamente, com volumes semelhantes, mas, em determinados momentos do clipe, uma voz era mais alta do que a outra, simulando a variação de volumes encontrados em conversas de fundo em ambientes lotados.
A equipe de pesquisa utilizou os dados obtidos da atividade cerebral dos participantes para desenvolver um modelo que previu como o cérebro processa as vozes de diferentes volumes e como isso pode variar dependendo da voz na qual o participante foi treinado a focar.
Resultado da pesquisa
Os resultados revelaram que a voz mais alta das duas era codificada tanto no córtex auditivo primário, responsável pela percepção consciente do som, quanto no córtex auditivo secundário, responsável pelo processamento sonoro mais complexo.
Essa descoberta foi surpreendente, uma vez que os participantes foram instruídos a não focar a voz mais alta, mesmo assim, o cérebro processava essa informação de maneira significativa.
De acordo com Raghavan, esse estudo é inovador ao mostrar, através da neurociência, que o cérebro codifica informações da fala mesmo quando não estamos prestando atenção ativa nelas.
A descoberta abre um novo caminho para compreender como o cérebro processa estímulos aos quais não estamos direcionando nossa atenção.
Tradicionalmente, acredita-se que o cérebro seletivamente processa apenas os estímulos aos quais estamos conscientemente focados. Porém, os resultados desse estudo desafiam essa visão, demonstrando que o cérebro continua a codificar informações mesmo quando estamos distraídos ou envolvidos em outras tarefas.
Os resultados revelaram também que a voz mais baixa só foi processada pelo cérebro nos córtex primário e secundário quando os participantes foram instruídos a concentrar sua atenção nessa voz específica.
Além disso, surpreendentemente o cérebro levou cerca de 95 milissegundos adicionais para processar essa voz como discurso em comparação com quando os participantes orientados a focar a voz mais alta.
Ainda segundo Vinay Raghavan, as descobertas do estudo mostram que o cérebro provavelmente emprega controles distintos para codificar e representar vozes com volumes diferentes durante uma conversa. Essa compreensão poderia ser aplicada no desenvolvimento de aparelhos auditivos mais eficazes.
O especialista sugere que, se fosse possível criar um aparelho auditivo capaz de identificar em qual pessoa o usuário está prestando atenção, seria possível aumentar o volume apenas da voz dessa pessoa específica.
Um avanço com esse calibre poderia melhorar significativamente a experiência auditiva em ambientes ruidosos, permitindo que o usuário se concentre melhor na fonte sonora de interesse.
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