Como um parque nacional mudou após empresa de sucos despejar cascas de laranja

Descarte de resíduos de suco transforma área desmatada na Costa Rica, sugere estudo.

Há alguns anos, ecologistas fizeram uma descoberta que chocou e, ao mesmo tempo, trouxe grande esperança à comunidade científica internacional.

Em 1998, uma empresa de suco da Costa Rica recebeu autorização para descartar resíduos de sua produção na Área de Conservação Guanacaste, um parque nacional localizado no país caribenho.

Para receber a autorização, a companhia comprometeu-se a doar uma de suas áreas arborizadas para o poder público.

No entanto, o interessante de toda essa história é que a área na qual a empresa foi autorizada a depositar os resíduos de sua produção era seca e desmatada, mesmo estando em meio a um bolsão de mata virgem.

Ao todo, a empresa despejou pouco mais de 12 toneladas de casca de laranja, bagaço de frutas e outros resíduos.

Depósito original. (Imagem: divulgação)

Na época, os ecologistas Daniel Janzen e Winnie Hallwachs acompanharam todo o processo e aproveitaram a oportunidade para conduzir um estudo.

Os estudiosos foram até o local, observaram o descarte e deixaram o lugar, que ficou sem receber visitas por muitos anos.

Aproximadamente 17 anos depois, em 2015, Daniel Janzen incumbiu o estudante de pós-graduação, Timothy Treuer, de visitar o local original onde ocorreu o descarte de rejeitos em 1998. O que Treuer encontrou foi algo “assustador”!

O que aconteceu com a área de descarte?

No primeiro momento, Timothy Treuer não conseguiu sequer encontrar o local onde a empresa havia descartado os rejeitos da produção de suco.

De acordo com Treuer, esse fato o assustou de imediato, pois, segundo Daniel Janzen e Winnie Hallwachs, a área estava sinalizada com uma placa grande e brilhante.

Porém, ao consultar Janzen, Timothy obteve outras informações que lhe serviram futuramente na busca pelo depósito perdido.

Depois de receber novas orientações, o estudante voltou ao local e finalmente encontrou a área onde os rejeitos foram depositados.

Em seu relato, Treuer diz que não entende como uma área pôde mudar tanto. “Foi como sair da noite para o dia”, disse ele.

“Foi difícil acreditar que a única diferença entre as duas áreas fosse um monte de cascas de laranja. Parecem ecossistemas completamente diferentes”, completou.

Um novo lugar emergiu dos rejeitos

Nos anos que se seguiram à redescoberta do antigo depósito, Timothy Treuer e um grupo de colegas da Universidade de Princeton conduziram estudos no local e descobriram aspectos ainda mais interessantes sobre a mudança que o lugar sofreu.

Em primeiro lugar, eles descobriram o local onde ficava a placa indicativa. Segundo os estudantes, o objeto foi completamente “engolido” por uma densa, abundante e invasiva vegetação.

Os pesquisadores também constataram que o solo do local se tornou rico em minerais, bem como a biodiversidade local sofreu um salto significativo.

Dentre a vegetação, eles encontraram uma figueira com nada menos que três metros de diâmetro, que floresceu durante os 17 anos em que a área ficou livre para se regenerar.

Um dos pesquisadores que estava com Timothy Treuer descreveu seu espanto ao ver a árvore.

“Você poderia ter colocado 20 pessoas para subir naquela árvore de uma só vez e ela teria suportado o peso sem problema”, iniciou. “Aquela coisa era realmente enorme”, concluiu.

Os resultados das descobertas feitas por Treuer e seus colegas foram todos publicados na revista Restoration Ecology.

Uma arma contra o desmatamento e as mudanças climáticas

As descobertas feitas na Área de Conservação Guanacaste apontaram para uma possível solução para os problemas das mudanças climáticas e do desmatamento.

Vista aérea da área cedida como depósito. (Imagem: divulgação)

O fato de os rejeitos de uma fábrica de suco, em especial as cascas de laranja, terem modificado todo um ecossistema, lança a ideia de que o que hoje é tratado como lixo por muitas indústrias pode, na verdade, servir como um adubo gratuito e “salvador” para áreas desmatadas.

Vários estudos apontam que, atualmente, as taxas de desmatamento estão mais elevadas do que deveriam. As florestas estão desaparecendo rapidamente, contribuindo para a intensificação do efeito estufa.

Por outro lado, os preciosos resíduos orgânicos, que poderiam reflorestar grandes partes do planeta, estão apodrecendo em aterros sanitários ao redor do globo.

Para Timothy Treuer, o ideal seria engajar organizações relacionadas ao meio ambiente, governos e empresas que geram resíduos. Por meio dessas parcerias multilaterais, estudos como o iniciado em 1998 na Costa Rica poderiam ser replicados no mundo inteiro.

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