A dissertação
A dissertação, assim como a narração, a descrição, a exposição e a injunção/prescrição é um tipo textual.
Você sabe o que é uma dissertação? A dissertação está entre os cinco principais tipos textuais (dissertação, narração, descrição, injunção/prescrição e exposição). Tipo muito cobrado em prova de concursos e vestibulares, a dissertação – em sua modalidade dissertação-argumentativa – é o tipo escolhido para a avaliação de Redação do Exame Nacional do Ensino Médio. Por esses motivos, é indispensável que você conheça suas características discursivas, elementos que nos possibilitam reconhece-la dentre os demais tipos. Vamos lá?
A principal característica do texto dissertativo é a defesa de uma ideia, de um ponto de vista, ou ainda o questionamento sobre um determinado assunto. Para que a clareza da exposição de ideias não fique comprometida, o texto dissertativo pode ser dividido em três diferentes partes:
- Introdução: esse é o momento em que você deverá apresentar a ideia ou o ponto de vista para o leitor/corretor. Ela deve ser breve e não apresentar muitos elementos que elucidem de maneira antecipada o teor do texto, pois isso deve ser feito no desenvolvimento, a parte que veremos a seguir.
- Desenvolvimento ou argumentação: nessa parte do texto dissertativo você deverá desenvolver o ponto de vista com a finalidade de convencer seu leitor; para tanto, você deve lançar mão de argumentos consistentes, criar exemplos, tecer comparações, recorrer a opiniões de especialistas, fornecer dados (verídicos, sempre), etc.
- Conclusão: parte final do texto, a conclusão dá o fecho ao texto, e deve ser coerente com seu desenvolvimento, isto é, deve ser coerente com os argumentos apresentados.
A linguagem do texto dissertativo
O texto dissertativo exige o emprego de uma linguagem não-literária, isto é, nele deve imperar a função referencial, predominante os gêneros cuja principal intenção seja informar de maneira imparcial e objetiva. As palavras devem ser utilizadas sempre em seus sentidos denotativos, o que significa que figuras de linguagem e demais recursos estilísticos devem ser evitados. É indispensável no textos dissertativos a coerência das ideias e a utilização de elementos coesivos, em especial das conjunções que explicitam as relações entre as ideias expostas.
Sendo assim, você deve ter percebido que a elaboração de um texto dissertativo não está centrada na função poética da linguagem e sim na colocação e na defesa de ideias e na forma como essas ideias são articuladas. Caso seja indispensável a utilização de figuras de linguagem, lembre-se de que elas devem ser empregadas sempre quando apresentarem valor argumentativo, isto é, como um instrumento a mais para a defesa de uma determinada ideia.
Planejando a dissertação
Para não correr o risco de rodar, rodar, rodar e não sair do lugar na hora de desenvolver os argumentos e os pontos de vista em um texto dissertativo, é importante que você elabore um plano de ação que garanta que as ideias tenham progressividade, isto é, que as ideias caminhem em direção à conclusão. Por isso você deve planejar bem o seu texto, procurando elaborar um esquema (lembrando que o esquema não deve ser confundido com um rascunho, certo?).
Vamos lá: cada dissertação, dependendo do tema e da argumentação, pede um esquema. Por exemplo, uma dissertação subjetiva permite ao produtor do texto utilizar certos recursos que seriam descabidos numa dissertação objetiva. Embora não exista um esquema padrão, existem alguns elementos que podem ser aplicados em todos os tipos de dissertação no momento da elaboração do esquema:
O primeiro passo é certificar-se de que você entendeu o tema proposto, pois de nada adiantará um esquema bem feito se a qualidade dos argumentos ficar a desejar. Depois, o esquema deve ser dividido nas partes que compõem a redação (introdução, desenvolvimento e conclusão), que aqui serão representados, respectivamente, pelas letras a, b e c. Na introdução (a) de seu esquema você deverá colocar o tema que será defendido; no desenvolvimento (b) você deverá colocar as palavras que resumam os argumentos que você apresentará para sustentar a tese; na conclusão (c), uma palavra que represente a conclusão a ser dada para o texto.
É comum que durante a elaboração do esquema sejamos inundados por inúmeras ideias. Não tem problema, anote-as, ainda que você não vá utilizá-las. Essas ideias costumam surgir sem ordem alguma, por isso é importante que você, posteriormente, ordene-as de acordo com seu grau de relevância, processo que chamamos de hierarquização de ideias. Esse processo pode ser feito por meio de números atribuídos às palavras que aparecem no esquema, segundo a ordem em que serão utilizadas na produção do texto. Observe um exemplo:
Tema: A pena de morte: você é contra ou a favor?
- Contra, não resolve
-
- Direito à vida – religião
- outros países – EUA
- erro judiciário
- classes baixas
- tradição
- ineficaz: solução: erradicação da pobreza.
Observação: Na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), além de apresentar a conclusão para o texto, o candidato deverá ainda elaborar uma proposta de intervenção para o problema, que consistirá em apresentar soluções viáveis e aplicáveis a curto-prazo de tempo, capazes de resolver a problemática sugerida pela prova.
Depois de fazer o esquema você devera segui-lo passo a passo, transformando as palavras em frases, o que dará forma á redação.
A gramática da dissertação
É importante ficar atento quanto aos aspectos formais da dissertação: ela dispensa o uso abusivo de figuras de linguagem, assim como o valor conotativo (fora do significado habitual, dicionarizado) das palavras. Por suas características, o texto dissertativo requer uma linguagem mais sóbria, denotativa, concisa e objetiva, para isso você deve optar pelo emprego da terceira pessoa.
Ao contrário do que nos exige a narração, a dissertação não apresenta uma progressão temporal; os conceitos genéricos, abstratos e, em geral, não se prendem a uma situação de tempo e espaço; por isso o emprego dos verbos no presente. Ao contrário da descrição, caracterizada pelo emprego do período simples, a dissertação trabalha com o período composto (normalmente, por subordinação), com o encadeamento de ideias, por isso é fundamental o emprego correto dos conectivos para que o texto fique claro, elegante e coeso.
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Redação de Carlos Eduardo Lopes Marciano, 19 anos, do Rio de Janeiro:
O verdadeiro preço de um brinquedo
É comum vermos comerciais direcionados ao público infantil. Com a existência de personagens famosos, músicas para crianças e parques temáticos, a indústria de produtos destinados a essa faixa etária cresce de forma nunca vista antes. No entanto, tendo em vista a idade desse público, surge a pergunta: as crianças estariam preparadas para o bombardeio de consumo que as propagandas veiculam?
Há quem duvide da capacidade de convencimento dos meios de comunicação. No entanto, tais artifícios já foram responsáveis por mudar o curso da História. A imprensa, no século XVIII, disseminou as ideias iluministas e foi uma das causas da queda do absolutismo. Mas não é preciso ir tão longe: no Brasil redemocratizado, as propagandas políticas e os debates eleitorais são capazes de definir o resultado de eleições. É impossível negar o impacto provocado por um anúncio ou uma retórica bem estruturada.
O problema surge quando tal discurso é direcionado ao público infantil. Comerciais para essa faixa etária seguem um certo padrão: enfeitados por músicas temáticas, as cenas mostram crianças, em grupo, utilizando o produto em questão.Tal manobra de “marketing” acaba transmitindo a mensagem de que a aceitação em seu grupo de amigos está condicionada ao fato dela possuir ou não os mesmos brinquedos que seus colegas. Uma estratégia como essa gera um ciclo interminável de consumo que abusa da pouca capacidade de discernimento infantil.
Fica clara, portanto, a necessidade de uma ampliação da legislação atual a fim de limitar, como já acontece em países como Canadá e Noruega, a propaganda para esse público, visando à proibição de técnicas abusivas e inadequadas. Além disso, é preciso focar na conscientização dessa faixa etária em escolas, com professores que abordem esse assunto de forma compreensível e responsável. Só assim construiremos um sistema que, ao mesmo tempo, consiga vender seus produtos sem obter vantagem abusiva da ingenuidade infantil.
Luana Alves
Graduada em Letras
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