Fernando Pessoa
Um autor muito importantes para o modernismo e grande poeta português, Fernando pessoa escrevia em inglês e português e, também, fazia traduções. Conheça mais sobre o poeta e seus heterônimos.
Fernando Pessoa foi muito importante para a literatura mundial e um grande nome para a literatura portuguesa. Ele se dividiu entre áreas da escrita, sendo poeta, escritor, redator e tradutor, escrevendo tanto em inglês, quanto português.
Além disso, ele também se interessou pela dramaturgia, astrologia, filosofia, publicidade, entre outros.
Biografia
Fernando Pessoa nasceu em 13 de junho de 1888 em Lisboa, onde passou parte da sua infância, morando com seus pais, Joaquim de Seabra Pessoa e Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa.
Nesse período em que ficaram em Portugal, seu pai veio a falecer de tuberculose, quando Fernando Pessoa tinha apenas 5 anos de idade. No ano seguinte seu irmão Jorge faleceu, antes mesmo de completar o primeiro ano de vida.
É nesse período, em 1895, que Fernando Pessoa cria seu primeiro heterônimo, chamado Chevalier de Pas, e um tempo depois escreve seu primeiro poema.
Já no fim desse mesmo ano, sua mãe casa-se com o comandante militar João Miguel Rosa, que logo depois foi nomeado cônsul de Portugal em Durban, na África do Sul. Em decorrência disso, a família se muda para a África.
A partir disso, Fernando passa a ter uma educação inglesa, estudando no colégio de freiras da West High e na Durban High School.
Nos seus estudos, Fernando Pessoa se mostrou um rapaz muito tímido e inteligente, já demonstrando a vocação pela escrita, com seu grande domínio da escrita e grande imaginação.
Em 1905, com 17 anos, Pessoa retorna para Lisboa e se matricula na Faculdade de Letras, no curso de Filosofia, mas em 1907 abandona a faculdade.
Em 1908, Fernando Pessoa aluga seu primeiro quarto e começa a trabalhar com correspondente estrangeiro, traduzindo correspondências comerciais, atividade essa a que eles se dedica durante toda a vida.
O inglês teve grande importância em sua vida, pois seus primeiros estudos e textos foram em inglês e foi assim que Pessoa teve grande contato com Shakespeare, Edgar Allan Poe, John Milton Lord Byron, John Keats,a Shelley, entre outros.
Já em 1915, participa da revista literária Orpheu, a qual foi responsável pelo lançamento dos ideais modernistas e defendendo a liberdade de expressão. Na revista, Pessoa se junta a outros intelectuais como Mário de Sá-Carneiro, Raul Leal, Luís de Montalvor, Almada-Negreiros e Ronald de Carvalho.
Foi nesse período que criou seus heterônimos principais e foi pela Revista Orpheu que publicou poemas como “Ode Triunfal” e “Opiário”, escritos por Álvaro de Campos.
Porém, a revista Orpheu não durou muito tempo e, em 1924, Pessoa junto com o artista plástico Ruy Vaz, fundou a Revista Athena, onde viria a publicar poesias de seus heterônimos Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro.
Entretanto, dia 30 de Novembro em 1935, aos 47 anos, Fernando Pessoa morre com o diagnóstico de cirrose hepática. Porém, hoje em dia esse diagnóstico é contestado, pois mesmo com se consumo excessivo de álcool, não tinha sintomas de cirrose hepática e a mais provável causa da morte é pancreatite aguda.
No dia anterior teria escrito sua última frase: “I know not what tomorrow will bring”, traduzida para “Não sei o que amanhã trará”.
Obras de Fernando Pessoa
Fernando Pessoa só publicou quatro obras em vida, mas é dono de uma vasta obra que hoje se encontra na Biblioteca Nacional de Portugal.
Entre suas obras estão, redações, poesias, peças de teatro, críticas literárias, contos, ensaios filosóficos, traduções, teorias linguísticas, textos políticos, cartas astrológicas e muito mais.
Ele escreveu obras, tanto em inglês, como em português e francês. Seus poemas abordam temas variados e ele gostava de fazer reflexões sobre identidade, verdade e existencialismo, embora tenha escrito muito sobre Portugal.
Obras publicadas em vida
- “35 Sonnetes” e “Antious” de 1918;
- “English Poems, I, II e III” de 1921;
- “Mensagem” de 1934.
Obras póstumas
- Poesias de Fernando Pessoa, 1942;
- Poesias de Álvaro de Campos, 1944;
- A Nova Poesia Portuguesa, 1944;
- Poesias de Alberto Caeiro, 1946;
- Odes de Ricardo Reis, 1946;
- Poemas Dramáticos, 1952;
- Poesias Inéditas I e II, 1955 e 1956;
- Textos Filosóficos, 2 v, 1968;
- Novas Poesias Inéditas, 1973;
- Poemas Ingleses Publicados por Fernando Pessoa, 1974;
- Cartas de Amor de Fernando Pessoa, 1978;
- Sobre Portugal, 1979;
- Textos de Crítica e de Intervenção, 1980;
- Carta de Fernando Pessoa a João Gaspar Simões, 1982;
- Cartas de Fernando Pessoa a Armando Cortes Rodrigues, 1985;
- Obra Poética de Fernando Pessoa, 1986;
- O Guardador de Rebanhos de Alberto Caeiro, 1986;
- Primeiro Fausto, 1986.
Ortônimo
Fernando Pessoa passou a ser chamado de ortônimo por ser a sua personalidade original. Porém, às vezes mesmo Pessoa era visto como um heterônimo entre os outros.
A sua obra ortônima passou por diferentes fases, mas em sua maioria mostra um patriotismo, sempre saudando sua Terra Natal.
Uma explicação para essa diversidade de heterônimos é a necessidade que Pessoa tinha para ver o mundo com diferentes olhares e pensamentos
Heterônimos
Com sua estética de grande uso de heterônimos, Pessoa criou diferentes autores para seus textos, os quais foram amadurecendo e tendo identidades mais fortes. Os heterônimos mais conhecidos são:
Álvaro de Campos
Foi o mais importante heterônimo. Era engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas se sentia sempre estrangeiro em todas as nacionalidades. Além disso, era um poeta moderno com aspirações futuristas, que vivia as ideologias dos século XX.
Ricardo Reis
Era médico e nasceu em Portugal, mas se mudou para o Brasil em protesto à Proclamação da República em Portugal. Possui herança clássica da literatura ocidental e se classificava como latinista e monárquico. Estudou latim, grego e mitologia, sendo um admirador da cultura clássica.
Alberto Caeiro
Nascido em Lisboa, Caeiro é proveniente do campo e não possui formação completa. É órfão de pai e mãe, sendo criado e protegido por uma tia. Morreu de Tuberculose. Ele vivia com bastante contato com a natureza, o que era importante para seus princípios e valores.
Bernardo Soares
É o escritor do livro “Desassossego”, considerada uma das obras fundadoras da ficção portuguesa no século XX. Soares era definido pelo próprio Fernando Pessoa como um “semi-heterônimo”, visto que o autor projetou nele algumas de suas características.
Frases de Fernando Pessoa
Confira algumas das mais famosas frases de Fernando Pessoa:
- “Para viajar basta existir.”
- “Tenho em mim todos os sonhos do mundo.”
- “A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.”
- “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.”
- “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.”
- “Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?”
- “Querer não é poder. Quem pôde, quis antes de poder só depois de poder. Quem quer nunca há-de poder, porque se perde em querer.”
- “O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela.”
- “Adoramos a perfeição, porque não a podemos ter; repugna-la-íamos se a tivéssemos. O perfeito é o desumano porque o humano é imperfeito.”
Poemas de Fernando Pessoa
Autopsicografia (Fernando Pessoa)
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Tabacaria (Álvaro de Campos)
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo.
que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes
e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Anjos ou Deuses (Ricardo Reis)
Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,
A visão perturbada de que acima
De nos e compelindo-nos
Agem outras presenças.
Como acima dos gados que há nos campos
O nosso esforço, que eles não compreendem,
Os coage e obriga
E eles não nos percebem,
Nossa vontade e o nosso pensamento
São as mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem e nós não desejamos.
O Guardador de Rebanhos (Alberto Caeiro)
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.
Isto (Bernardo Soares)
Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério de que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
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