Infância de Jesus Cristo: pesquisadores descobrem detalhes inéditos

Papiro egípcio de 2 mil anos teria informações sobre a infância de Jesus Cristo.

Uma descoberta abalou o mundo recentemente: um papiro egípcio de 2 mil anos, contendo o relato de um milagre realizado por Jesus ainda criança. O achado mostra de forma inédita detalhes sobre os primeiros anos de vida de Cristo.

O papiro, datado do século IV ou V, foi encontrado na Biblioteca Estadual e Universitária de Hamburgo, na Alemanha.

Inicialmente, ele estava catalogado como um documento comum devido à caligrafia desajeitada, possivelmente escrita por um estudante ou monge em treinamento.

O detalhe foi percebido primeiro pelos pesquisadores Dr. Gabriel Nocchi Macedo (brasileiro), professor e pesquisador da Universidade de Liège (Bélgica), e pelo colega Dr. Lajos Berkes, da Universidade Humboldt (Alemanha). O fato foi crucial para a datação do documento.

O milagre dos pássaros de barro

O relato descrito no papiro é uma versão antiga do Evangelho da Infância de Tomé, um texto apócrifo que narra episódios da infância de Jesus, entre os 5 e 12 anos.

O fragmento, de 5×11 centímetros, contendo 13 linhas, descreve o momento em que Jesus, ainda criança, transforma passarinhos de barro em aves vivas.

Papiro descoberto por pesquisadores oferece o mais antigo relato conhecido da infância de Jesus – Imagem: Staats und Universitätsbibliothek Hamburg/Domínio Público/Reprodução

O texto traduzido por Frederico Lourenço, professor da Universidade de Coimbra (Portugal), diz que Jesus:

“[…] brincava no vau de um riacho; e reuniu as águas correntes em lagoas e as fez logo puras; e realizou estas coisas apenas com a palavra.
E, fazendo barro maleável, plasmou a partir dele doze pardais. E era dia de sábado, quando os fez. E havia muitas outras crianças que brincavam com ele.
Tendo um judeu visto as coisas que Jesus fazia, brincando no sábado, foi imediatamente e anunciou ao pai dele, José. ‘Eis que o teu filho está junto do riacho; e, tomando barro, plasmou doze pardais; e profanou o sábado’.
E José, indo para o local e vendo, gritou-lhe dizendo: ‘Por que fazes estas coisas em dia de sábado, coisas que não é permitido fazer?’.
Jesus, batendo as mãos, gritou as pardais e disse-lhes: ‘Ide!’. E, voando, os pardais partiram, chilreando.”

Este episódio, conhecido como vivificação dos pardais, mostra Jesus brincando com argila em um riacho, moldando doze pardais.

Ao ser repreendido por José, seu pai, por realizar esta atividade em um sábado (que segundo a lei judaica deve ser guardado), Jesus ordena que os pássaros de barro voem, e eles o fazem.

Importância histórica e religiosa da descoberta

O papiro é a cópia mais antiga conhecida do relato, anteriormente datado apenas do século XI.

A descoberta oferece novas perspectivas sobre a transmissão e preservação dos textos apócrifos e seu impacto na compreensão histórica e teológica da figura de Jesus. Segundo o Dr. Berkes:

“É uma descoberta inédita, especialmente porque se trata de um relato sobre a infância de Jesus, uma fase pouco documentada nos textos canônicos.
Este fragmento não apenas preenche uma lacuna significativa na história de Jesus, mas também nos fornece uma visão sobre como os primeiros cristãos poderiam ter compreendido a divindade de Jesus desde os seus primeiros anos de vida.”

O Evangelho da Infância de Tomé, embora não incluído no Novo Testamento, fornece uma narrativa complementar à vida de Jesus, destacando sua divindade desde a infância. Dr. Gabriel Nocchi Maceddo afirma:

“Trata-se de uma descoberta que altera significativamente nossa compreensão sobre os textos apócrifos e sua circulação no mundo antigo. A caligrafia desajeitada sugere que o documento pode ter sido uma tarefa de aprendizado em um mosteiro, o que reforça a ideia de que esses textos eram utilizados para ensino e disseminação da fé cristã nas comunidades monásticas.”

Impacto da descoberta em estudos teológicos

Dr. Macedo e Dr. Berkes, os responsáveis pela análise do papiro, afirmam que esta descoberta pode revolucionar os estudos sobre os textos apócrifos e a infância de Jesus.

Segundo eles, a paleografia, o estudo da caligrafia antiga, foi a chave para a datação do documento.

A ciência possibilitou assim datar que o papiro foi produzido entre os séculos IV e V, tornando-o assim o mais antigo documento conhecido do Evangelho da Infância de Tomé.

A autenticidade e a importância do achado foram confirmadas através de um minucioso processo de comparação com outros textos antigos.

Os pesquisadores utilizaram bancos de dados digitais, com milhares de textos gregos da antiguidade e, ao se depararem com três letras gregas que soam como ‘ies’ (de Jesus), eles tiveram a certeza de que havia algo extraordinário naquele pergaminho relegado pela sua caligrafia desajeitada.

Mas qual a origem do papiro, afinal?

A origem do papiro ainda é incerta, mas há duas teorias principais sobre como ele chegou à biblioteca de Hamburgo.

Pode ter sido parte do núcleo original da coleção adquirida pelo Papyruskartell Alemão entre 1906 e 1913, ou pode ter chegado em uma caixa de papiros não conservados transferida de Berlim em 1990.

Independentemente de sua jornada, o documento agora fornece informações sobre o início do cristianismo e a disseminação dos textos sobre Jesus. O pesquisador brasileiro lamenta:

“Tentamos achar documentos sobre a história do papiro. Infelizmente, não há muita coisa sobre isso. No entanto, a falta de contexto arqueológico não diminui a importância da descoberta. Pelo contrário, abre novas possibilidades de investigação sobre a circulação e uso de textos religiosos no mundo antigo.”

Repercussões da descoberta

Especialistas de todo o mundo têm comentado sobre a relevância da descoberta.

O professor Dr. André Leonardo Chevitarese, historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) diz que tal documento é muito valioso para o entendimento dos textos apócrifos e a sua influência nas comunidades cristãs antigas.

O fato de ser uma cópia tão antiga, segundo o professor, reforça sua autenticidade e a importância do Evangelho da Infância de Tomé.

Para Gerson Leite de Moraes, teólogo e historiador da Universidade Presbiteriana Mackenzie, todo e qualquer manuscrito que traga as origens do cristianismo é muito significativo.

Tais documentos, segundo ele, corroboram e sedimentam toda uma tradição de elementos teológicos, filosóficos, históricos e sociológicos que estiveram na base da organização do cristianismo.

*Com informações de BBC e Daily Mail.

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