10 melhores poemas de Arnaldo Antunes

Conheça os 10 melhores poemas de Arnaldo Antunes, um dos artistas mais completos do Brasil. Muito conhecido pela música, ele é também um poeta premiado.

Arnaldo Augusto Nora Antunes Filho nasceu em 02 de setembro de 1960 na cidade de São Paulo – SP. Ele é o quarto, de sete filhos do casal Arnaldo Augusto Nora Antunes e Dora Leme Ferreira Antunes.

Arnaldo é conhecido nacionalmente pela sua atuação em uma das bandas mais icônicas do rock brasileiro, o Titãs. Mas ele não parou por aí: é compositor, artista visual e um exímio poeta.

Começou a ter interesse pela linguagem artística ainda muito jovem, enquanto aluno do Colégio de Aplicação da PUC SP. No São Domingos, aos 13 anos, escreveu seus primeiros poemas e fez os primeiros desenhos.

Em 1975, dois anos depois, passou a estudar no Colégio Equipe, onde tem maior contato com a cena cultural paulistana. Lá ele tem aulas de cinema e publica, ao final do ensino médio, sua primeira novela, Camaleão, que foi impressa na própria escola.

Ainda no Equipe, Arnaldo conhece alguns dos futuros integrantes do Titãs: Sérgio Britto, Paulo Branco Mello, Paulo Miklos, Nando Reis, Ciro Pessoa e Marcelo Fromer. Já nessa época Antunes e Miklos começam a compor juntos.

Três anos depois, em 1978, ele ingressa no curso de Letras na Universidade de São Paulo (USP). Entretanto, no ano seguinte sua família se muda para o Rio de Janeiro e ele transfere o curso para a PUC-RJ.

Em 1980 volta para São Paulo, junto de sua esposa Go. Juntos com o artista plástico José Roberto Aguiar eles realizam diversas performances artísticas, que culminam na formação da Banda Performática, que se apresenta em importantes teatros de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Ele acaba por não concluir a faculdade de Letras, mas segue com a Banda Performática e continua escrevendo e produzindo pequenos livros, editando revistas, participando de festivais e compondo.

Entre 1982 e 1992, Arnaldo Antunes segue como integrante dos Titãs, uma das maiores bandas de rock do Brasil. Mesmo com o sucesso e as inúmeras turnês, ele continua com diversos outros projetos e vertentes artísticas.

Nesses dez anos, Antunes publica seu primeiro livro, composto por poemas visuais e editado artesanalmente: Ou e. A segunda obra, Psia, veio em 1986, pela Editora Expressão. Nessa mesma época, começa a publicar em jornais e revistas.

Durante esse tempo, outros artistas, como Belchior, Marisa Monte, Roberto Carlos, Sandra de Sá e o grupo Gueto gravam suas composições. Ele também segue atuando fortemente na cena artística brasileira e participando de exposições.

No mesmo ano da saída dos Titãs e já como artista solo, ele lança o livro As Coisas, com o qual recebe o Prêmio Jabuti de Poesia em 1993. Durante os próximos dez anos ele mantém o ritmo de apresentações pelo Brasil e até mesmo em outros países.

Sempre em diversas abordagens, participando além dos seus projetos solos, de muitos outros projetos com outros artistas, o que faz da produção de Arnaldo Antunes tão rica e diversificada.

Em 2002, ao lado de Carlinhos Brown e Marisa Monte, montam a banda Tribalistas e gravam um CD com o mesmo nome. O sucesso foi estrondoso no Brasil e em muitos países da Europa. A obra rendeu cinco indicações ao Grammy Latino de 2003, vencendo como o melhor álbum pop contemporâneo brasileiro.

Depois de 15 anos da estreia, em 2017, eles lançaram um segundo álbum, também com o nome de Tribalistas. Porém, dessa vez, a crítica não foi tão receptiva e as canções não emplacaram nacionalmente como da primeira vez.

Em 2008, a revista Rolling Stone elegeu Antunes como um dos cem maiores artistas da música brasileira. Apesar da sua forte intensa atuação no cenário musical, ele nunca deixou de lado a escrita e as artes plásticas.

Muitos de seus poemas foram musicados e fazem parte não só do repertório do Titãs e de seus discos solo, mas de muitos outros artistas brasileiros. Até 2015 ele já havia lançado 20 obras literárias.

Por se tratar de um nome tão relevante para a cultura brasileira com os seus quase quarenta anos de carreira, o Escola Educação reuniu os 10 melhores poemas de Arnaldo Antunes.

Poema: Os buracos do espelho

o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde eu caí

pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some

a janela some na parede
a palavra de água se dissolve
na palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve

já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira
uma orelha alerta, outra ligada

o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora

Poema: Estamos sob o mesmo teto

estamos sob o mesmo teto
secreto
onde o sol indesejável é barrado
eu e você
sob o mesmo nós
dois, sóis
sob o mesmo pôr
(o enigma do amor)
do sol
onde todo contorno finda
estamos
sob a mesma pálpebra
agora
já e ainda
intactos de aurora.

Poema: Cultura

O girino é o peixinho do sapo
O silêncio é o começo do papo
O bigode é a antena do gato
O cavalo é pasto do carrapato

O cabrito é o cordeiro da cabra
O pescoço é a barriga da cobra
O leitão é um porquinho mais novo
A galinha é um pouquinho do ovo

O desejo é o começo do corpo
Engordar é a tarefa do porco
A cegonha é a girafa do ganso
O cachorro é um lobo mais manso

O escuro é a metade da zebra
As raízes são as veias da seiva
O camelo é um cavalo sem sede
Tartaruga por dentro é parede

O potrinho é o bezerro da égua
A batalha é o começo da trégua
Papagaio é um dragão miniatura
Bactérias num meio é cultura.

Poema: Nome

algo é o nome do homem
coisa é o nome do homem
homem é o nome do cara
isso é o nome da coisa
cara é o nome do rosto
fome é o nome do moço
homem é o nome do troço
osso é o nome do fóssil
corpo é o nome do morto
homem é o nome do outro

Poema: Não Tem Que

não tem que
nem precisa de
não tem que precisar de
nem precisa ter que
não tem que precisar ter que
nem precisa ter que precisar de

Poema: Pedra de Pedra de Pedra

pedra de pedra de pedra
o que a faz tão concreta
se não a falta de regra
de sua forma assimétrica
incapaz de linha reta?

talvez a sua dureza
que mão alguma atravessa
tateia mas não penetra
o amálgama dos átomos
no íntimo da molécula?

será por estar parada
em sua presença discreta
sobre o chão mimetizada
obstáculo na pressa
onde o cego pé tropeça?

pedra de pedra de pedra
impenetrabilidade
íntegra ilesa completa
igual na luz ou na treva
do Cáucaso ou da Sibéria

o que a faz tão concreta
de pedra de pedra pedra?
será sua superfície
que expõe a mesma matéria
da entranha mais interna?

casca que continua
por dentro do corpo espesso
e encrua até o avesso
sem consistência secreta
apenas de si repleta

pedra de pedra de pedra
pousada em cima da terra
alheia à atmosfera
que a faz repousar pesada
no berço da sua inércia

com sua massa compacta
onde planta não prospera
e nem bactéria medra
sobre a crosta que o sol cresta
até seu nome empedra.

penha de penha de penha
fraga rocha roca brenha
por que se faz tão concreta?
por sua idade avançada
ou por rolar pela estrada?

talvez por estar inteira
entre uma e outra beira
de sua forma coesa
que se transforma em areia
quando o tempo a desintegra?

ou só porque não anseia
ser outra coisa e não esta?
nem pessoa nem floresta
nem mesmo a mera matéria
que a ideia não alcança?

Poema: O Pulso

O pulso ainda pulsa
O pulso ainda pulsa…

Peste bubônica
Câncer, pneumonia
Raiva, rubéola
Tuberculose e anemia
Rancor, cisticercose
Caxumba, difteria
Encefalite, faringite
Gripe e leucemia…

E o pulso ainda pulsa
E o pulso ainda pulsa

Hepatite, escarlatina
Estupidez, paralisia
Toxoplasmose, sarampo
Esquizofrenia
Úlcera, trombose
Coqueluche, hipocondria
Sífilis, ciúmes
Asma, cleptomania…

E o corpo ainda é pouco
E o corpo ainda é pouco
Assim…

Reumatismo, raquitismo
Cistite, disritmia
Hérnia, pediculose
Tétano, hipocrisia
Brucelose, febre tifóide
Arteriosclerose, miopia
Catapora, culpa, cárie
Câimbra, lepra, afasia…

O pulso ainda pulsa
E o corpo ainda é pouco
Ainda pulsa
Ainda é pouco
Assim…

Poema: Nome Não

os nomes dos bichos não são os bichos
o bichos são:
macaco gato peixe cavalo
macaco gato peixe cavalo
vaca elefante baleia galinha

os nomes das cores não são as cores
as cores são:
preto azul amarelo verde vermelho marrom

os nomes dos sons não são os sons
os sons são

só os bichos são bichos
só as cores são cores
só os sons são
som são, som são
nome não, nome não
nome não, nome não

os nomes dos bichos não são os bichos
os bichos são:
plástico pedra pelúcia ferro
plástico pedra pelúcia ferro
madeira cristal porcelana papel

os nomes das cores não são as cores
as cores são:
tinta cabelo cinema sol arco-íris tevê

os nomes dos sons não são os sons
os sons são

só os bichos são bichos
só as cores são cores
só os sons são
som são, nome não
nome não, nome não
nome não, nome não

10 melhores poemas de Arnaldo Antunes: Átomo

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