14 Melhores Poemas de Paulo Leminski
Paulo Leminski Filho nasceu em Curitiba no dia 24 de agosto de 1944. Foi escritor, poeta, crítico literário, tradutor e professor brasileiro. Faleceu aos 44 anos, em sua cidade natal, no dia 7 de junho de 1989.
Paulo Leminski certamente ocupa um espaço privilegiado na literatura brasileira. Poucos escritores alcançaram tanta popularidade quanto o curitibano que ainda hoje continua arrebatando admiradores em todo país. A obra de Paulo perpetua-se por sua qualidade estética e por sua representatividade. Reproduzida à exaustão nas redes sociais, fato que comprova que sua poesia não ficou restrita à academia, ganhou leitores e fãs, fazendo com que uma antologia do autor recentemente publicada desbancasse best-sellers no número de vendagens.
A obra de Paulo Leminski combina elementos como a concisão, a irreverência, a coloquialidade e o rigor da construção formal. Foi um dos principais representantes da Poesia Marginal, também conhecida como Geração Mimeógrafo, tendência que agremiou escritores que utilizavam os recursos visuais da publicidade, subvertiam o cânone literário e distribuíam seus livros de maneira independente, sem contar com o apoio das grandes editoras. Leminski herdou parte da estética concretista, movimento surgido no Brasil na década de 1950, sendo considerado como um de seus principais nomes, ao lado de escritores como Décio Pignatari e Augusto de Campos.
Poeta, romancista e tradutor, Paulo Leminski nasceu no dia 24 de agosto de 1944, em Curitiba, capital do Paraná. Ainda jovem teve contato com o latim, a teologia, a filosofia e a literatura clássica, e aos 12 anos ingressou no Mosteiro de São Bento, em São Paulo. Em 1963 abandonou a vocação religiosa e em 1963 publicou, na revista Invenção (responsável por publicar a obra de poetas concretistas) cinco poemas. Atuou como professor de História e Redação em cursos pré-vestibulares e posteriormente tornou-se diretor de criação e redator em agências de publicidade, fato que influenciou sua produção poética. O primeiro romance, Catatau, foi lançado em 1975, livro que o próprio autor denominaria como “prosa experimental”.
Admirador da cultura japonesa, Leminski foi tradutor e seguidor de Matsuo Bashô, um dos poetas mais famosos do período Edo no Japão. Bashô é considerado como um mestre do haikai, tipo de poema curto formado por três versos, em que o primeiro e o terceiro versos são pentassílabos, ou seja, formados por cinco sílabas poéticas, e o segundo verso é heptassílabo, formado por sete sílabas. O interesse pela métrica oriental fez com que Leminski fosse reconhecido como o principal divulgador da poesia haicaísta no Brasil.
O escritor também contribuiu significativamente para a Música Popular Brasileira. Foi parceiro de nomes consagrados como Caetano Veloso, Moraes Moreira, Arnaldo Antunes e Itamar Assumpção. É significativa também sua contribuição como crítico literário e tradutor: entre os principais autores que traduziu estão James Joyce, Samuel Beckett, Yukio Mishima, Alfred Jarry, entre outros. Faleceu precocemente, no dia 07 de junho de 1989, aos quarenta e quatro anos de idade, vítima de uma cirrose hepática.
Para que você mesmo possa conferir a genialidade e a criatividade deste que é um dos mais populares e queridos escritores de nossa literatura, o site Escola Educação selecionou quinze poemas de Paulo Leminski que certamente serão um convite para que você desvende sua obra. Boa leitura!
Veja os 14 Melhores Poemas de Paulo Leminski:
-
Poema: Bem no fundo – Paulo Leminski
Bem no fundo
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
-
Poema: Dor elegante – Paulo Leminski
Dor elegante
Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante
Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha
Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra
-
Poema: Invernáculo – Paulo Leminski
Invernáculo
Esta língua não é minha,
qualquer um percebe.
Quem sabe maldigo mentiras,
vai ver que só minto verdades.
Assim me falo, eu, mínima,
quem sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta não é minha língua.
A língua que eu falo trava
uma canção longínqua,
a voz, além, nem palavra.
O dialeto que se usa
à margem esquerda da frase,
eis a fala que me lusa,
eu, meio, eu dentro, eu, quase.
-
Poema: O que quer dizer – Paulo Leminski
O que quer dizer
O que quer dizer diz.
Não fica fazendo
o que, um dia, eu sempre fiz.
Não fica só querendo, querendo,
coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
Só se dizendo num outro
o que, um dia, se disse,
um dia, vai ser feliz.
-
Poema: M. de memória – Paulo Leminski
M. de memória
Os livros sabem de cor
milhares de poemas.
Que memória!
Lembrar, assim, vale a pena.
Vale a pena o desperdício,
Ulisses voltou de Tróia,
assim como Dante disse,
o céu não vale uma história.
um dia, o diabo veio
seduzir um doutor Fausto.
Byron era verdadeiro.
Fernando, pessoa, era falso.
Mallarmé era tão pálido,
mais parecia uma página.
Rimbaud se mandou pra África,
Hemingway de miragens.
Os livros sabem de tudo.
Já sabem deste dilema.
Só não sabem que, no fundo,
ler não passa de uma lenda.
-
Poema: Aviso aos náufragos – Paulo Leminski
Aviso aos náufragos
Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.
Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.
Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta pagina, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Não e assim que é a vida?
-
Poema: Amar você é coisa de minutos… – Paulo Leminski
Amar você é coisa de minutos…
Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui
-
Poema: Adminimistério – Paulo Leminski
Adminimistério
Quando o mistério chegar,
já vai me encontrar dormindo,
metade dando pro sábado,
outra metade, domingo.
Não haja som nem silêncio,
quando o mistério aumentar.
Silêncio é coisa sem senso,
não cesso de observar.
Mistério, algo que, penso,
mais tempo, menos lugar.
Quando o mistério voltar,
meu sono esteja tão solto,
nem haja susto no mundo
que possa me sustentar.
Meia-noite, livro aberto.
Mariposas e mosquitos
pousam no texto incerto.
Seria o branco da folha,
luz que parece objeto?
Quem sabe o cheiro do preto,
que cai ali como um resto?
Ou seria que os insetos
descobriram parentesco
com as letras do alfabeto?
-
Poema: Sintonia para pressa e presságio – Paulo Leminski
Sintonia para pressa e presságio
Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.
Soo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.
Eis a voz, eis o deus, eis a fala,
eis que a luz se acendeu na casa
e não cabe mais na sala.
-
Poema: Atraso Pontual – Paulo Leminski
Atraso Pontual
Ontens e hojes, amores e ódio,
adianta consultar o relógio?
Nada poderia ter sido feito,
a não ser o tempo em que foi lógico.
Ninguém nunca chegou atrasado.
Bençãos e desgraças
vem sempre no horário.
Tudo o mais é plágio.
Acaso é este encontro
entre tempo e espaço
mais do que um sonho que eu conto
ou mais um poema que faço?
-
Poema: Desencontrários – Paulo Leminski
Desencontrários
Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.
Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.
-
Poema: Poesia: – Paulo Leminski
Poesia:
“words set to music” (Dante
via Pound), “uma viagem ao
desconhecido” (Maiakóvski), “cernes
e medulas” (Ezra Pound), “a fala do
infalável” (Goethe), “linguagem
voltada para a sua própria
materialidade” (Jakobson),
“permanente hesitação entre som e
sentido” (Paul Valery), “fundação do
ser mediante a palavra” (Heidegger),
“a religião original da humanidade”
(Novalis), “as melhores palavras na
melhor ordem” (Coleridge), “emoção
relembrada na tranquilidade”
(Wordsworth), “ciência e paixão”
(Alfred de Vigny), “se faz com
palavras, não com ideias” (Mallarmé),
“música que se faz com ideias”
(Ricardo Reis/Fernando Pessoa), “um
fingimento deveras” (Fernando
Pessoa), “criticismo of life” (Mathew
Arnold), “palavra-coisa” (Sartre),
“linguagem em estado de pureza
selvagem” (Octavio Paz), “poetry is to
inspire” (Bob Dylan), “design de
linguagem” (Décio Pignatari), “lo
impossible hecho possible” (Garcia
Lorca), “aquilo que se perde na
tradução (Robert Frost), “a liberdade
da minha linguagem” (Paulo Leminski)…
-
Poema: A lua no cinema – Paulo Leminski
A lua no cinema
A lua foi ao cinema,
passava um filme engraçado,
a história de uma estrela
que não tinha namorado.
Não tinha porque era apenas
uma estrela bem pequena,
dessas que, quando apagam,
ninguém vai dizer, que pena!
Era uma estrela sozinha,
ninguém olhava pra ela,
e toda a luz que ela tinha
cabia numa janela.
A lua ficou tão triste
com aquela história de amor
que até hoje a lua insiste:
— Amanheça, por favor!
-
Poema: Eu queria tanto – Paulo Leminski
Eu queria tanto
eu queria tanto
ser um poeta maldito
a massa sofrendo
enquanto eu profundo medito
eu queria tanto
ser um poeta social
rosto queimado
pelo hálito das multidões
em vez
olha eu aqui
pondo sal
nesta sopa rala
que mal vai dar para dois.
Luana Alves
Graduada em Letras
Os comentários estão fechados, mas trackbacks E pingbacks estão abertos.