O Barroco no Brasil
A Igreja de São Francisco de Assis é um dos monumentos mais significativos da arte colonial, uma das mais conhecidas igrejas brasileiras daquele período e uma das mais celebradas criações do mestre Aleijadinho. Está situada na cidade de Ouro Preto, Minas Gerais.
Gregório de Matos e Pe. Antônio Vieira são os principais representantes da literatura barroca no Brasil. O Barroco, muito mais do que uma manifestação literária, é uma manifestação artística que encontrou representantes também na música (o nascimento da ópera), na arquitetura (observa-se forte adesão ao estilo na construção de igrejas) e nas artes plásticas (destaque para as esculturas de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho).
No século XVII o Brasil colônia começava a dar os primeiros passos para a construção de sua própria literatura. Toda a produção literária de até então estava fortemente vinculada aos modelos lusitanos, além de bastante restrita a uma elite muito pequena e culta. Nessa época ganham voz os primeiros escritores nascidos no Brasil, cuja literatura manifestava o sentimento nativista, ou seja, de valorização da terra natal.
Muito diferente da realidade europeia, luxuosa e aristocrática, a realidade brasileira era de exploração: não passávamos de um grande centro de comércio, de onde explorava-se a cana-de-açúcar, a mão de obra escrava e a mineração.
Além disso, perdurava por aqui uma realidade de violência, em que se perseguia o índio e se escravizavam os negros. A despeito dessa situação, os modelos literários portugueses chegaram ao Brasil, o que propiciou o surgimento do Barroco.
Por meio da literatura os escritores tentavam moralizar a população com os princípios da religião, bem como tentavam mudar a mentalidade colonialista de exploração. Esse movimento ganhou impulso entre 1720 e 1750, época em que foram fundadas várias academias literárias em todo o país.
Entre as principais características da prosa e da poesia barroca estão o interesse por temas religiosos, os dualismos que bem representam o conflito espiritual do homem barroco, emprego de figuras de linguagem e, sobretudo, emprego de uma linguagem requintada – essas duas últimas características podem ser melhor observadas a partir da análise do cultismo e do conceptismo.
No cultismo, também conhecido como gongorismo, há o uso excessivo de figuras de linguagem e jogo de palavras, recursos literários que tinham como objetivo evidenciar a habilidade verbal do escritor, deixando, dessa maneira, a representação da realidade em segundo plano. Ocorre, principalmente, na poesia.
Prosopopeia, do escritor Bento Teixeira, é considerada o marco inicial do Barroco brasileiro. Publicada no ano de 1601, trata-se de um poema que procura imitar um clássico da literatura portuguesa, Os lusíadas, do maior poeta português, Luís Vaz de Camões. Além de Bento Teixeira, destacaram-se os escritores Gregório de Matos, Botelho de Oliveira e Frei Itaparica, todos representantes da poesia barroca. Na prosa, surgiram nomes como Pe. Antônio Vieira, Sebastião da Rocha Pita e Nuno Marques Pereira. Entre todos esses nomes, dois merecem especial atenção: Gregório de Matos e Pe. Antônio Vieira.
Gregório de Matos
Gregório de Matos nasceu em Salvador, Bahia, no ano de 1633 (a data é questionada por alguns estudiosos da literatura). É, sem sombra de dúvidas, o maior poeta barroco brasileiro e um dos fundadores da poesia lírica e satírica em nosso país. Em virtude de sua literatura nada convencional, foi perseguido e precisou exilar-se em Angola.
Quando voltou para o Brasil foi impedido de entrar na Bahia, e em 1696 morreu na cidade de Recife, no estado do Pernambuco. O escritor, que sempre prezou pela irreverência, chocou a sociedade ao quebrar os modelos barrocos europeus: empregava, em sua poesia, um vocabulário de baixo calão, além disso, denunciava as contradições e falsidades da sociedade baiana, o que lhe rendeu sérios atritos com autoridades políticas e religiosas. Por conta de seu comportamento pouco ortordoxo, ganhou a alcunha de “Boca do Inferno”, epíteto que até hoje é utilizado para fazer referência ao primeiro poeta que representou uma literatura genuinamente brasileira.
Sua obra poética pode ser dividida em pelo menos três diferentes vertentes, essas relacionadas à poesia lírica: a poesia religiosa, a poesia amorosa e a poesia filosófica. Na lírica amorosa, observa-se a presença do dualismo amoroso carne/espírito, dualismo que leva a um sentimento de culpa no plano espiritual. Na poesia religiosa, Gregório de Matos obedece aos princípios fundamentais do Barroco europeu, utilizando temas como o amor a Deus, a culpa, o arrependimento, o pecado e o perdão, além de inúmeras referências bíblicas. Nessa vertente o poeta optou por empregar a língua culta, permeada por inversões e figuras de linguagem. Na poesia filosófica, destacam-se textos que se referem ao desconcerto do mundo e às frustrações humanas diante da realidade.
Embora tenha dedicado-se à poesia lírica, foi na poesia satírica que Gregório de Matos melhor se realizou. A sátira constitui a parte mais original de sua obra, já que foge completamente aos padrões preestabelecidos pelo Barroco vigente no século XVII. Por sua percepção crítica da realidade brasileira, sua poesia pode ser chamada de realista e também de brasileira, já que foi a primeira manifestação nativista de nossas letras.
Pe. Antônio Vieira
Padre Antônio Vieira nasceu em Portugal no ano de 1608 e é considerado como a principal expressão do Barroco em Portugal. Sua obra pertence tanto à literatura portuguesa, quanto à literatura brasileira. Veio para o Brasil com sua família quando tinha apenas sete anos de idade, estudou com os jesuítas e ingressou, por vontade própria, na Companhia de Jesus, ordem religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade de Paris, liderados pelo basco Íñigo López de Loyola, conhecido posteriormente como Inácio de Loyola.
Iniciou seu noviciado aos quinze anos, e boa parte de sua obra está relacionada às atividades que desempenhou como religioso, como conselheiro de D. João IV, rei de Portugal, e como mediador e representante de Portugal em relações econômicas e políticas com outros países.
Possuía incomparáveis qualidades como orador. Pronunciou sermões que tornaram-se as principais expressões ideológicas e literárias da Contra-Reforma. Entre seus principais sermões destacam-se: Sermão da sexagésima, Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda, Sermão de Santo Antônio (aos peixes) e Sermão do Mandato. Padre Antônio Vieira, expressão máxima do Barroco em prosa sacra, morreu na Bahia no dia 18 de julho de 1697, com 89 anos.
Luana Alves
Graduada em Letras
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