Os 10 melhores poemas de Paulo Mendes Campos

Paulo Mendes Campos nasceu na capital mineira, Belo Horizonte, no dia 28 de fevereiro de 1922. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 1º de julho de 1991, aos 69 anos. Foi escritor e jornalista, considerado um dos nomes mais importantes da crônica brasileira

Paulo Mendes Campos é considerado como um dos maiores escritores da literatura brasileira. O mineiro que nasceu em Belo Horizonte no ano de 1922 pertenceu a uma geração de grandes nomes, entre eles Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino e Rubem Braga, todos exímios poetas e cronistas. Mesmo ao lado de nomes consagrados, foi ele quem melhor traduziu em textos permeados de lirismo e beleza o gênero crônica.

O escritor iniciou a vida literária aos vinte e três anos, quando mudou-se de Minas para o Rio de Janeiro. Suas crônicas despertaram a atenção da crítica literária logo que começaram a ser publicadas em jornais como o Correio da Manhã e o Jornal do Brasil, e também na revista Manchete. A palavra escrita, seu primeiro livro de poemas, foi publicado no ano de 1951. Posteriormente foram publicados outros dois títulos com textos do gênero, Testamento do Brasil, em 1956, e O Domingo Azul do Mar, uma coletânea de poemas, em 1958. Dedicou grande parte de sua obra à crônica, contudo, sua poesia também merece lugar de destaque, haja vista a delicadeza e a singularidade de seus versos.

Para que você conheça melhor a obra poética desse que foi um dos mais importantes cronistas do Brasil, o site Escola Educação selecionou dez poemas de Paulo Mendes Campos para que você contemple a prosa poética do escritor; uma poesia que carrega consigo o lirismo e a beleza espraiada em temas cotidianos. Boa leitura.

Melhores Poemas de Paulo Mendes Campos:

  1. Poema: O Tempo – Paulo Mendes Campos

O TEMPO

Só no passado a solidão é inexplicável.
Tufo de plantas misteriosas o presente
Mas o passado é como a noite escura
Sôbre o mar escuro

Embora irreal o abutre
É incômodo meu sonho de ser real
Ou somos nós aparições fantasiosas
E forte e verdadeiro o abutre do rochedo

Os que se lembram trazem no rosto
A melancolia do defunto

Ontem o mundo existe

O agora é a hora da nossa morte

  1. Poema: Neste Soneto – Paulo Mendes Campos

NESTE SONETO

Neste soneto, meu amor, eu digo,
Um pouco à moda de Tomás Gonzaga,
Que muita coisa bela o verso indaga
Mas poucos belos versos eu consigo.
Igual à fonte escassa do deserto,
Minha emoção é muita, a forma, pouca.
Se o verso errado sempre vem-me à boca,
Só no meu peito vive o verso certo.
Ouço uma voz soprar à frase dura
Umas palavras brandas, entretanto,
Não sei caber as falas de meu canto
Dentro de forma fácil e segura.
E louvo aqui aqueles grandes mestres
Das emoções do céu e das terrestres.

  1. Poema: Tempo-Eternidade – Paulo Mendes Campos

TEMPO-ETERNIDADE

O instante é tudo para mim que ausente
do segredo que os dias encadeia
me abismo na canção que pastoreia
as infinitas nuvens do presente.

Pobre de tempo fico transparente
à luza desta canção que me rodeia
como se a carne se fizesse alheia
à nossa opacidade descontente.

Nos meus olhos o tempo é uma cegueira
e a minha eternidade uma bandeira
aberta em céu azul de solidões.

Sem margens sem destino sem história
o tempo que se esvai é minha glória
e o susto de minha alma sem razões.

  1. Poema: Catinga para Djanira – Paulo Mendes Campos

CANTIGA PARA DJANIRA

O vento é o aprendiz das horas lentas,
traz suas invisíveis ferramentas,
suas lixas, seus pentes finos,
cinzela seus cabelos pequeninos,
onde não cabem gigantes contrafeitos,
e, sem emendar jamais os seus defeitos,
já rosna descontente e guaia
de aflição e dispara à outra praia,
onde talvez enfim possa assentar
seu momento de areia — e descansar.

Livro de Paulo Mendes Campos
Capa do livro “Carta a Otto ou um coração em agosto”, de Paulo Mendes Campos, publicado pelo Instituto Moreira Salles.
  1. Poema: O Morto – Paulo Mendes Campos

O MORTO

Por que celeste transtorno
tarda-me o cosmo do sangue
o óleo grosso do morto?

Por que ver pelo meu olho?
Por que usar o meu corpo?
Se eu sou vivo e ele morto?

Por que pacto inconsentido
(ou miserável acordo)
Aninhou-se em mim o morto?

Que prazer mais decomposto
faz do meu peito intermédio
do peito ausente do morto?

Por que a tara do morto
é inserir sua pele
entre o meu e o outro corpo.

Se for do gosto do morto
o que como com desgosto
come o morto em minha boca.

Que secreto desacordo!
ser apenas o entreposto
de um corpo vivo e outro morto!

Ele é que é cheio, eu sou oco.

  1. Poema: Sentimento do Tempo – Paulo Mendes Campos

SENTIMENTO DO TEMPO

Os sapatos envelheceram depois de usados

Mas fui por mim mesmo aos mesmos descampados

E as borboletas pousavam nos dedos de meus pés.

As coisas estavam mortas, muito mortas,

Mas a vida tem outras portas, muitas portas.

Na terra, três ossos repousavam

Mas há imagens que não podia explicar: me ultrapassavam.

As lágrimas correndo podiam incomodar

Mas ninguém sabe dizer por que deve passar

Como um afogado entre as correntes do mar.

Ninguém sabe dizer por que o eco embrulha a voz

Quando somos crianças e ele corre atrás de nós.

Fizeram muitas vezes minha fotografia

Mas meus pais não souberam impedir

Que o sorriso se mudasse em zombaria

Sempre foi assim: vejo um quarto escuro

Onde só existe a cal de um muro.

Costumo ver nos guindastes do porto

O esqueleto funesto de outro mundo morto

Mas não sei ver coisas mais simples como a água.

Fugi e encontrei a cruz do assassinado

Mas quando voltei, como se não houvesse voltado,

Comecei a ler um livro e nunca mais tive descanso.

Meus pássaros caíam sem sentidos.

No olhar do gato passavam muitas horas

Mas não entendia o tempo àquele tempo como agora.

Não sabia que o tempo cava na face

Um caminho escuro, onde a formiga passe

Lutando com a folha.

O tempo é meu disfarce

  1. Poema: Três Coisas – Paulo Mendes Campos

Três Coisas

Não consigo entender
O tempo
A morte
Teu olhar

O tempo é muito comprido
A morte não tem sentido
Teu olhar me põe perdido

Não consigo medir
O tempo
A morte
Teu olhar

O tempo, quando é que cessa?
A morte, quando começa?
Teu olhar, quando se expressa?

Muito medo tenho
Do tempo
Da morte
De teu olhar

O tempo levanta o muro.

A morte será o escuro?

Em teu olhar me procuro

  1. Poema: As mãos que se Procuram – Paulo Mendes Campos

As Mãos que se Procuram

Quando o olhar adivinhando a vida
Prende-se a outro olhar de criatura
O espaço se converte na moldura
O tempo incide incerto sem medida

As mãos que se procuram ficam presas
Os dedos estreitados lembram garras
Da ave de rapina quando agarra
A carne de outras aves indefesas

A pele encontra a pele e se arrepia
Oprime o peito o peito que estremece
O rosto o outro rosto desafia

A carne entrando a carne se consome
Suspira o corpo todo e desfalece
E triste volta a si com sede e fome.

Amor Condusse Noi Ad Una Morte

  1. Poema: Despede Teu Pudor – Paulo Mendes Campos

Despede Teu Pudor

Despede teu pudor com a camisa
E deixa alada louca sem memória
Uma nudez nascida para a glória
Sofrer de meu olhar que te heroíza

Tudo teu corpo tem, não te humaniza
Uma cegueira fácil de vitória
E como a perfeição não tem história
São leves teus enredos como a brisa

Constante vagaroso combinado
Um anjo em ti se opõe à luta e luto
E tombo como um sol abandonado

Enquanto amor se esvai a paz se eleva
Teus pés roçando nos meus pés escuto
O respirar da noite que te leva.

  1. Poema: A uma Bailarina – Paulo Mendes Campos

A uma Bailarina

Quero escrever meu verso no momento
Em que o limite extremo da ribalta
Silencia teus pés, e um deus se exalta
Como se o corpo fosse um pensamento.

Além do palco, existe o pavimento
Que nunca imaginamos em voz alta,
Onde teu passo puro sobressalta
Os pássaros sutis do movimento.

Amo-te de um amor que tudo pede
No sensual momento em que se explica
O desejo infinito da tristeza,

Sem que jamais se explique ou desenrede,
Mariposa que pousa mas não fica,
A tentação alegre da pureza.

Luana Alves
Graduada em Letras

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