Considerado como o principal representante da poesia parnasiana brasileira, Olavo Bilac nasceu em 16 de dezembro de 1865, no Rio de Janeiro. Faleceu na mesma cidade, no dia 28 de dezembro de 1918, aos 53 anos. Bilac foi ávido defensor da literatura clássica, e tal engajamento pode ser notado em seus poemas, que resgataram, além dos elementos da literatura greco-romana, as formas fixas do lirismo.
Para fins didáticos, a literatura brasileira foi dividida em escolas literárias. Cada movimento agrega diferentes estilos e diferentes autores, que em um determinado período de nossa história apresentaram obras – seja na poesia, seja na prosa – que refletiam, além dos variados padrões estéticos, o contexto histórico e social no qual estavam inseridos. Entre esses estilos, está o Parnasianismo, um dos mais importantes momentos de nossa literatura. Diferentemente do Realismo e do Naturalismo (correntes literárias em voga na década de 80 do século XIX), cujos interesses voltavam-se para a análise e a crítica da realidade, o Parnasianismo representou na poesia um retorno ao clássico, defendendo que o sentido maior da arte estava nela mesma, e não em sua relação com o mundo exterior.
O Parnasianismo no Brasil surgiu na década de 80 do século XIX, representado principalmente pelos poetas Olavo Bilac (escritor que ficou conhecido como o “Príncipe dos Poetas”), Raimundo Correia, Alberto de Oliveira, Vicente de Carvalho e Francisca Júlia. Entretanto, considera-se como marco inicial do Parnasianismo no país o livro de poesias Fanfarras, de Teófilo Dias, publicado em 1882.
A estética parnasiana diferia em muito da estética romântica e da estética realista: da primeira porque acreditava que o Romantismo havia, por meio da simplicidade da linguagem, valorização da paisagem nacional, emprego de sintaxe e vocabulário mais brasileiros, sentimentalismo, entre outras características, afastado-se do trabalho com a linguagem e com os elementos formais da poesia (como a métrica, rimas, imagens, vocabulário seleto, etc.). Da segunda porque essa prezava pela análise e pela compreensão da realidade social e humana, o que distanciava os escritores realistas da poesia clássica, cuja preocupação residia principalmente no apego à forma, ainda que o conteúdo ficasse em segundo plano.
A origem da palavra Parnasianismo está associada ao Parnaso grego. A escolha do nome que representaria o movimento já deixava explícita a influência da cultura grega nesse novo fazer literário, cujos ideais afastavam-se diametralmente dos ideais realistas e românticos. Para os escritores parnasianos, à literatura não cabia a missão de investigar a realidade dos homens, tampouco servir de instrumento para a exaltação do amor romântico: a “arte pela arte” era o princípio maior, uma vez que o objetivo da arte seria a busca pela perfeição, elemento valorizado pela literatura greco-romana. Os parnasianos acreditavam que, ao apoiarem-se nos modelos clássicos, estariam combatendo os exageros de emoção e fantasia do Romantismo e, simultaneamente, garantindo o equilíbrio que tanto desejavam.
Obra de Edward Burne Jones, pintor do grupo pré-rafaelita, O espelho de Vênus é uma pintura que retoma no século XIX alguns dos princípios da arte renascentista, como a mitologia, a beleza clássica e a sensualidade. Essa retomada dos princípios clássicos estabelece uma dialogia com o momento vivido pela literatura (assim como nas artes plásticas, na literatura também houve um resgate dos modelos clássicos), principalmente com literatura brasileira da década de 80 do século XIX.
Essa preocupação exacerbada com a forma fez com que a literatura parnasiana se afastasse do conteúdo, o que lhe rendeu a fama de “literatura vazia”, uma vez que a artificialidade com a qual os temas (reduzidos e repetitivos) eram abordados deixavam evidente que a poesia do período, apesar do prestígio social que alcançara, era frágil e inócua. A presença de elementos clássicos na poesia parnasiana não ia além de algumas referências a personagens da mitologia e de um enorme esforço de equilíbrio formal. A despeito disso, seguia fazendo enorme sucesso entre as elites, alcançando o reconhecimento das camadas letradas do público consumidor brasileiro. O Parnasianismo perdurou como importante corrente literária até a segunda década do século XX, quando teve início o Modernismo, movimento transgressor e vanguardista que propôs uma ruptura drástica com toda literatura passadista produzida no Brasil até àquela época.
Estão, entre as principais características do Parnasianismo brasileiro:
- Formas poéticas tradicionais: com esquema métrico rígido, rima, soneto.
- Purismo e preciosismo vocabular, com predomínios de termos eruditos, raros, visando à máxima precisão, e de construções sintáticas refinadas. Escolha de palavras no dicionário para escrever o poema com palavras difíceis.
- Tendência descritivista, buscando o máximo de objetividade na elaboração do poema, assim separando o sujeito criador do objeto criado.
- Postura antirromântica, baseada no binômio objetividade temática/culto da forma.
- Destaque ao erotismo e à sensualidade feminina. Referências à mitologia greco-latina.
- O esteticismo, a depuração formal, o ideal da “arte pela arte”. O tema não é importante, o que importa é o jeito de escrever, a forma.
- A visão da obra como resultado do trabalho, do esforço do artista, que se coloca como um ourives que talha e lapida a joia.
- Transpiração no lugar da inspiração romântica. O escritor precisa trabalhar muito, “suar a camisa”, para fazer uma boa obra. O poeta é comparado a um ourives.
- Técnica de descrição que evita a interferência do autor/pesquisador nos objetos/dados que pretende descrever.
Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac foram os principais representantes da poesia parnasiana brasileira. Coube a eles o papel de implantar e solidificar o movimento em nossa literatura, bem como definir melhor os contornos de seu projeto estético
Título: Poetas parnasianos.
Para que você conheça mais sobre a poesia parnasiana, o Escola Educação selecionou três poemas (três sonetos, forma clássica valorizada pelos parnasianos) do estilo, poemas assinados por Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia. Neles você encontrará todas as características dessa escola que marcou a história da literatura brasileira de maneira indelével. Bons estudos e boa leitura é o que desejamos a vocês.
Ouvir Estrelas
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizes, quando não estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.
Olavo Bilac
A Cavalgada
A lua banha a solitária estrada…
Silêncio!… mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.
São fidalgos que voltam da caçada;
Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando,
E as trompas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada…
E o bosque estala, move-se, estremece…
Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se após no centro da montanha…
E o silêncio outra vez soturno desce,
E límpida, sem mácula, alvacenta
A lua a estrada solitária banha…
Raimundo Correia
Horas mortas
Breve momento após comprido dia
De incômodos, de penas, de cansaço
Inda o corpo a sentir quebrado e lasso,
Posso a ti me entregar, doce Poesia.
Desta janela aberta, à luz tardia
Do luar em cheio a clarear no espaço,
Vejo-te vir, ouço-te o leve passo
Na transparência azul da noite fria.
Chegas. O ósculo teu me vivifica
Mas é tão tarde! Rápido flutuas
Tornando logo à etérea imensidade;
E na mesa em que escrevo apenas fica
Sobre o papel — rastro das asas tuas,
Um verso, um pensamento, uma saudade.
Alberto de Oliveira
Luana Alves
Graduada em Letras
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