Primeira Guerra Mundial
O fim dos Impérios Europeus. O século XX mostra suas garras para a humanidade.
Para pensarmos a história da Primeira Guerra temos que ter a noção de continuidade de processos importantes ocorridos no século XIX, como por exemplo, “A primavera dos povos” de 1848, um levante popular que foi rapidamente reprimido e reafirmou a soberania dos impérios da Alemanha, Áustria-Hungria e Rússia.
Otto Von Bismark, chanceler alemão, vai propor uma política de alianças em 1873, que ficou conhecida como Liga dos Três Imperadores.
A Rússia alimentava a ideia do pan-eslavismo, que procurava unir as regiões dos povos eslavos em uma grande nação e para isso contava com o apoio da Sérvia na região dos Balcãs.
Por outro lado, o império Austro-Húngaro procurava o domínio da região da Bósnia-Herzegovina que pertencia ao enfraquecido Império Turco. Na região dos Balcãs estava o centro das divergências entre o império Russo e Austro-Húngaro, isso foi suficiente para colocar fim na liga criada por Otto von Bismarck em 1878.
Em 1882, Bismarck estabelece então a Tríplice Aliança, colocando a Itália ao lado de alemães e austro-húngaros. A Itália não era uma potência relevante para o cenário que se descortinava na Europa, e talvez por isso teve uma postura dúbia durante a Primeira Guerra, assinando acordos secretos com a Rússia e com a França, países pertencentes ao bloco antagonista, a Tríplice Entente.
A Tríplice Entente, além dos dois já citados países, contava com a Inglaterra, que surpreendentemente rompeu a rivalidade com a França e assinou um acordo de coalizão, tudo para impedir as ambições alemãs que se tornavam cada vez mais fortes e ameaçadoras dentro do continente e do mundo.
As alianças estabeleciam no mundo um alerta de tensão, qualquer movimento que atingisse algum dos interesses dessas nações poderiam resultar na Grande Guerra. Foi o que aconteceu em 1914 com o assassinato do herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, o arquiduque Francisco Ferdinando em Sarajevo, capital da Bósnia.
Devemos lembrar que a Questão Balcânica tinha como eixo central o pan-eslavismo e o nacionalismo sérvio. A anexação das regiões da Bósnia pelo Império Austro-Húngaro feria os interesses da Sérvia e da Rússia. Assim, um nacionalista bósnio pertencente ao grupo secreto sérvio Mão Negra atingiu o arquiduque.
A partir desse fato a política de alianças entrou em cena. Os austro-húngaros fizeram exigências à Sérvia que se sentiu afrontada e se negou a atendê-las, o que fez com que a Rússia se posicionasse em defesa dos sérvios no momento em que o Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia.
Desta maneira, Alemanha, França e Inglaterra também colocaram seus exércitos para marcharem e logo a Guerra iria se espalhar pelo continente e outras regiões do planeta.
O centro da guerra foi a Alemanha e seu grande poderio militar. Os alemães iniciaram a guerra atacando a França e tentando adentrar o território francês pelo Norte, invadindo a Bélgica. Essa invasão do espaço belga foi o pretexto usado para a Inglaterra declarar guerra à Alemanha.
O objetivo dos alemães era invadir Paris nas primeiras semanas e depois ficar livre para lutar contra a Rússia, só que os russos já avançavam na outra frente de batalha e os alemães ficaram divididos. Essa guerra de movimentação e invasão logo deu lugar a uma guerra de posições e trincheiras, com exércitos fixos em suas posições e lançando suas artilharias.
Em 1917, após sucessivas derrotas, os russos envolvidos com o processo revolucionário soviético, derrubam a monarquia czarista e decidem sair da guerra, oficializada com o tratado de Brest-Litovski, assinado em 1918.
Também em 1917, os alemães produzem um bloqueio marítimo para a Inglaterra, impedindo o abastecimento da ilha. É nesse movimento que os EUA, até então neutros na guerra, anunciam sua entrada após o afundamento do transatlântico Lusitânia, que levou à morte muitos americanos.
Com a força dos EUA, que eram a nova potência industrial do mundo, os aliados da Tríplice Entente vencem os alemães e os países que formavam a Tríplice Aliança. A “Guerra Total” exigia também a rendição total e incondicional do inimigo, que ficaria sujeito à política dos vencedores no pós-Guerra. O Tratado de Versalhes (1919) foi talvez o grande mal causador do surgimento do totalitarismo como política salvadora dos países europeus, como Alemanha e Itália.
A partir da derrota da Alemanha na Primeira Guerra, o que se buscou, por parte dos países vencedores (principalmente França e Inglaterra), foi enfraquecer os germânicos com a chamada “paz punitiva”; limitaram o número de soldados no exército alemão para 100 mil, restringiram o controle da força aérea e da marinha alemã, além de redistribuir as fronteiras europeias deixadas pelos póstumos impérios Habsburgo e austríaco de forma a não favorecer a Alemanha em nenhum aspecto.
Os EUA, aproveitando a visibilidade internacional, propõem a criação da Liga das Nações em 1919. No sufocamento da economia alemã estará o caráter propulsor da Segunda Guerra Mundial, aliado à crise do capitalismo na década de 20.
Carlos Beto Abdalla
Historiador e Mestre em Estudos Literários
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