Chico Xavier: ciência investiga as provas da vida após a morte

Investigação científica sobre a mente após a morte: dualismo, materialismo e as psicografias de Chico Xavier.

Chico Xavier, com sua vasta e impressionante produção psicográfica, trouxe à tona um antigo dilema existencial: a mente sobrevive à morte?

René Descartes, ao afirmar “Penso, logo existo”, iniciou uma profunda reflexão sobre a natureza da consciência e sua relação com o corpo.

As revelações de Chico Xavier, no entanto, desafiam o pensamento materialista predominante, reacendendo o debate sobre a possibilidade da existência da mente além do corpo físico.

Descartes defendia que, para chegarmos à verdade absoluta, deveríamos duvidar de tudo, inclusive da própria existência.

No entanto, algo que não se pode duvidar é da própria dúvida: se tenho uma dúvida, estou pensando; se penso, logo existo.

Se penso e existo, então possuo uma mente, onde reside minha consciência. É a mente que nos torna únicos, que nos define como indivíduos.

Fisicamente, podemos ser muito parecidos com outra pessoa, mas nunca teremos a mesma mente. Cada um carrega experiências únicas, acumula conhecimentos, crenças e processos mentais distintos.

Paradigmas da natureza da mente: materialismo x dualismo

Há uma extensa e complexa discussão sobre a natureza da mente. Grosseiramente, podemos reduzir a duas visões: a materialista e a dualista.

Atualmente, o entendimento materialista ou fisicalista é o predominante no meio acadêmico. Segundo essa visão, nossa consciência, sentimentos e pensamentos são resultado de sinapses químicas e elétricas que ocorrem no cérebro e se estendem pelo corpo inteiro. Ou seja, para os materialistas, a mente é um produto do cérebro. Se o cérebro morre, a mente se acaba.

Porém, alguns pensadores defendem que mente e cérebro, apesar de estarem relacionados, são entidades completamente independentes.

Para os dualistas, a mente é uma entidade imaterial e fonte primária de todos os pensamentos. O cérebro é material, sendo o meio pelo qual a mente interage com o ambiente, estendendo toda sua ação pelo corpo e transmitindo estímulos através dos órgãos sensoriais.

Pela visão dualista, a mente, sendo imaterial, sobreviveria mesmo após a morte cerebral. Logo, se de alguma forma fosse possível acessar a mente de uma pessoa falecida, certamente os dualistas teriam uma evidência muito difícil de questionar.

Mas como se comunicar com a mente de uma pessoa que já morreu? Como provar que a mente acessada se trata mesmo da referida pessoa?

Francisco Cândido Xavier, um Corvo Branco

Robert T. Bigelow, empresário americano do setor aeroespacial, criou o Bigelow Institute for Consciousness Studies (BICS), instituto dedicado a financiar pesquisas sobre a sobrevivência da consciência humana.

Em 2021, o BICS lançou um concurso desafiando a comunidade científica a provar, além de qualquer dúvida razoável, que a mente continua a existir mesmo depois da morte.

O concurso contou com aproximadamente 1300 inscritos de vários países, resultando em 204 trabalhos que disputaram um prêmio de 1,8 milhão de dólares (mais de R$ 10 milhões na cotação atual).

No final, foram 29 trabalhos premiados, entre eles, um ensaio científico feito por pesquisadores brasileiros.

No trabalho intitulado ‘A mediunidade como melhor evidência para a vida após a morte: Francisco Cândido Xavier, um Corvo Branco’, os pesquisadores Alexandre Caroli, doutor em teoria literária, e os doutores em neurociências, Marina Weiler e Raphael Casseb investigaram parte da vasta produção psicográfica do médium Chico Xavier e concluíram que todo esse material fornece uma base robusta, sólida e verificável que confirma a continuidade da existência após a morte.

O ‘corvo branco’ é uma referência a uma fala de Willian James, professor de Harvard, considerado um dos maiores expoentes da filosofia e psicologia moderna, quando estudava a mediunidade de Leonora Piper.

Para se provar que nem todos os corvos são pretos, basta que se mostre pelo menos um branco. Da mesma maneira, mesmo que existam muitos médiuns farsantes, se pelo menos um for provado genuíno, então a mediunidade é um fenômeno real.

Cientistas concluíram que todo o material psicografado de Chico Xavier fornece uma base robusta, sólida e verificável que confirma a continuidade da existência após a morte – Imagem: Reprodução

A psicografia de Chico Xavier

Nascido em 1910, no município de Pedro Leopoldo (MG), Chico Xavier teve suas primeiras experiências com a mediunidade na tenra idade de 4 anos.

No colégio, ele se destacava por escrever textos brilhantes, com vocabulário e articulação próprios dos melhores escritores, chegando a ganhar um concurso estadual com menção honrosa por uma redação sobre a Independência do Brasil.

Nessa ocasião, falou ao seu professor que a redação havia sido ditada por um ‘homem do outro mundo’. Teve que largar os estudos, tendo completado apenas o 4º ano do primário.

Conheceu o espiritismo aos 17 anos e viu na doutrina explicação para a sua, até então, estranha condição. Já nessa época, dedicava o pouco tempo disponível que tinha para escrever poemas, que ele afirmava não serem de sua autoria, mas de diversos poetas falecidos notáveis, como Augusto dos Anjos, Olavo Bilac, Machado de Assis e Casimiro de Abreu.

Rapidamente alcançou notoriedade com seu elevado dom na psicografia (capacidade de transcrever mensagens supostamente recebidas de espíritos) e, aos 22 anos, publicou seu primeiro livro ,’Parnaso de Além-Túmulo’.

Em sua 6ª edição, publicada em 1955, a obra contava com 259 poemas de 56 escritores brasileiros e portugueses.

Chico Xavier seguiu em ritmo intenso, chegando a publicar em média 14 livros por ano no seu auge, psicografando textos de diversos estilos e gêneros literários.

Entre os anos 70 e 90, passou a se dedicar mais à psicografia de cartas destinadas a familiares desolados pela perda de seus entes queridos. Eram sessões públicas realizadas todas as sextas e sábados em Uberaba (MG). Estima-se que ele tenha produzido mais de 10 mil cartas consoladoras.

Após 75 anos atuando como médium, Chico Xavier publicou mais de 400 livros e vendeu aproximadamente 50 milhões de exemplares.

Toda a renda das vendas foi revertida para caridade, visto que o médium nunca tomou para si a autoria dos textos, a qual dizia ser de seus diversos autores espirituais.

Pode a ciência provar o fenômeno da mediunidade?

A ciência é um conjunto de conhecimentos obtidos por meio de um processo rigoroso e sistemático que visa explicar os fenômenos que observamos na natureza.

Uma vez que um fenômeno é observado, formulam-se hipóteses que possam explicá-lo e, então, busca-se a verificação da validade ou não de tais hipóteses.

Na medida em que evidências suficientes que suportem uma teoria se acumulam, então, podemos assumir que se trata de um conhecimento científico.

A ciência é um processo, não a verdade absoluta. Se novos fatos surgem e a teoria até então aceita não consegue explicar, então uma nova teoria precisa acomodar esses fatos, e não o contrário.

O objetivo do ensaio premiado foi justamente mostrar que nenhuma das hipóteses materialistas sobre a relação entre mente e cérebro é capaz de acomodar muitos dos fatos verificados na produção psicográfica de Chico Xavier.

Na conclusão dos pesquisadores, sob a ótica das quatro hipóteses apresentadas, a única que é capaz de abarcar o fenômeno de maneira completa é a visão dualista da sobrevivência da mente; portanto, um fenômeno genuíno.

Tabela 1: as quatro hipóteses avaliadas no ensaio científico – Imagem: Escola Educação

Verificação das hipóteses

Os pesquisadores se apoiaram em elementos verificáveis das psicografias. Para esse fim, dividiram os documentos em 3 grupos, segundo a natureza dos textos e suas autorias.

Tabela 2: elementos verificáveis nos textos – Imagem: Escola Educação

Grupo 1

Em relação ao Grupo 1, o estudo destacou alguns fatos históricos e conhecimentos científicos nos textos inalcançáveis para a época e os recursos disponíveis.

Por exemplo, no livro ‘Há dois mil anos’, cuja autoria seria do mentor espiritual de Chico, Emmanuel, são narrados detalhes bem específicos sobre como os romanos classificavam e identificavam seus escravos (procedência, cultura, sexo, idade e até traços de personalidade), a maneira como eram humilhados, torturados e expostos para negociação.

Em 1939, ano em que o livro foi publicado, a pouca documentação disponível sobre o assunto na época estava em latim ou em fontes indiretas em inglês, sendo pouquíssimo provável que o médium tenha tido acesso a esse material.

O ensaio também citou um artigo científico publicado em 2013, no qual os pesquisadores compararam as descrições da glândula pineal e da epífise em treze livros escritos por André Luiz na década de 1940 com o conhecimento científico disponível apenas 60 anos depois.

Eles concluíram que vários dados altamente complexos estavam de acordo com a atual literatura.

Grupo 2

Para a validação dos elementos do Grupo 2, foram utilizados como fonte os estudos do Dr. Alexandre Caroli, coautor do ensaio científico.

Em um de seus estudos, ele comparou os textos psicografados no ‘Parnaso de além-túmulo’ de 5 escritores com base na documentação fornecida por respeitados críticos de literatura.

O cientista confirmou que tanto elementos formais (frequência de palavras, métrica dos versos, rima) quanto temáticos dos autores vivos, estavam presentes nos textos escritos pelo médium.

O argumento materialista de que Chico Xavier realizava ‘pastiche’ dos autores mortos soa absurdo, não só pelas dezenas de autores que ele teria que imitar, mas pela forma como o fazia.

Em publicação no Diário da Tarde (Belo Horizonte – 28 de julho 1944), o professor de psiquiatria Dr. Melo Teixeira relatou o seguinte:

“Fazer ‘pastiche’, imitar o estilo de prosadores e poetas — ‘à la manière de’ — depende de pendor e jeito especiais, exige prévia e diuturna leitura dos autores a imitar; paciente esforço de elaboração, de retoques, de policiamento da produção conseguida e isto em tentativas que demandam tempo.
Fazê-lo, como Chico Xavier o costuma, de improviso, numa elaboração e redação instantâneas, sem segundos sequer de meditação para coordenar ideias, passando em sucessão ininterrupta da prosa ao verso, da página de ficção para a de filosofia, ou moral […] é alguma coisa de inexplicável, que não está ao alcance de qualquer imitador de estilos ou amadores de contrafação literária”.

Grupo 3

Por fim, nos textos do Grupo 3, o estudo mostrou a impossibilidade de argumentos como leitura fria e quente ou mesmo rede de informantes para coletar informações sobre o falecido no seu grupo familiar ou ambiente social e de trabalho nas sessões públicas de atendimento consolador.

Além do fato de que, naquela época, não tínhamos acesso à internet e velocidade de informação que se tem hoje.

Mais do que apenas informações, datas e circunstâncias dos acidentes, que poderiam ser coletadas eventualmente em alguns jornais, muitas das cartas continham informações estritamente particulares, que diziam respeito somente à intimidade de um ou outro membro do grupo familiar, nunca divulgadas.

Em alguns casos, muitas informações contidas nas cartas eram tão pessoais do próprio falecido, que a família só pôde confirmar posteriormente. Ainda, algumas assinaturas tiveram autenticidade confirmada por exame grafotécnico.

Fenelon Almeida, repórter do jornal O Povo, assim relatou sua experiência em uma dessas sessões:

“Eu não tive do que duvidar em Chico Xavier. Porque eu o vi a psicografar sem parar, durante quase três horas seguidas — de zero hora e trinta minutos até depois das três horas da madrugada do dia 24 de janeiro de 1981, enchendo folhas e mais folhas com mensagens mediúnicas. Por duas vezes, sem parar ou sequer diminuir o movimento automático de suas mãos, qual a fonte de uma máquina de saída IBM a deslizar vertiginosamente de um para o outro lado do papel, Chico Xavier chorou copiosamente”.

Logo, qualquer hipótese de que o fenômeno mediúnico de Chico Xavier poderia ser apenas um transtorno psiquiátrico ou fruto de uma habilidade super-psi (ex: telepatia) fica derrubada, pois somente a mente do falecido teria acesso àquela informação.

Um dos maiores gênios da história ou um médium genuíno?

Para os autores do ensaio científico, a psicografia de Chico Xavier é evidência robusta de que a mente é uma entidade imaterial, que sobrevive até mesmo após a morte do corpo.

Qualquer farsa intencional, com tamanho volume de documentação, não sobreviveria ao teste do tempo. Até mesmo análises mais recentes, utilizando inteligência artificial, certificam a consistência narrativa de diferentes autorias nos textos.

Acreditar que ele tinha uma capacidade de memória espetacular, a ponto de ser capaz de escrever sem parar por horas e horas, textos de diferentes autores e diferentes estilos literários, carregados de dados e conhecimentos de diversas áreas, não parece ser razoável.

Seria muito mais fácil acreditar que uma pessoa com essa capacidade tomasse vantagem desse dom para tirar proveito próprio; afinal, poderia fazer fortunas e ter o nome marcado na história como um dos maiores gênios de todos os tempos. Mas Chico Xavier viveu uma vida humilde, repassando toda a renda dos livros para a caridade.

Como disse Monteiro Lobato:

“Se Chico Xavier produziu tudo aquilo por conta própria, então ele merece ocupar quantas cadeiras quiser na Academia Brasileira de Letras”.

*Com informações de BBC, SuperInteressante, Research Gate, G1, Portal Luz Espírita e FEESP.

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