Máscaras de pano são efetivas na proteção ao coronavírus? Especialistas discutem o assunto

O Ministro da Saúde recomendou o uso de máscaras para demais grupos da população como proteção ao novo coronavírus, mas especialistas discutem eficácia.

Na última terça-feira, 31 de março, o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, iniciou a menção ao uso de máscaras para demais grupos da população brasileira, além dos profissionais da saúde e aqueles que atuam na frente pelo controle ao contágio do novo coronavírus.

Inclusive, na quinta-feira, 2 de abril, Mandetta reiterou a importância da utilização do método de proteção, até mesmo feito de forma caseira com tecidos:

“Gente, máscara de pano ou máscara comunitária. Isso não tem muita regra. Posso colocar ali [no site] uma sugestão, uma coisa básica. Você pode fazer uma máscara com barreira de tecido. Usar um tecido grosso. Não precisa ir para especificações técnicas, de tem de ser o tecido A, B ou C. O que a gente usa com mais propriedade nos ambientes de saúde é o TNT (tecido não tecido)”, destacou em uma coletiva.

O tema ganhou grandes proporções de discussão e o próprio ministro da Saúde destacou os questionamentos recebidos. Diante disso, a pasta criou um material com recomendações e dicas para produção das máscaras no site do Ministério da Saúde.

Na cartilha publicada é evidenciado que a máscara funciona como barreira para a Covid-19, tendo que ser de uso individual e possuir ao menos duas camadas de pano. A cartilha também destaca o limite de no máximo duas horas para uso, devendo ser lavada para um novo uso.

Ausência de estudos sobre eficácia

Os especialistas ressaltam que há carência de estudos que demonstrem a efetividade no uso da máscara caseira. Ainda que entenda a recomendação de Mandetta, o docente titular de infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Luciano Goldani, alerta para a ausência de indicativos que comprovem a eficácia do equipamento.

“Ele tem boa intenção. Está tentando proteger a população, está preocupado com a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs). Mas, do ponto de vista técnico, precisamos de mais dados sobre esses materiais”, destaca.

Além da falta de comprovação de efetividade no uso dos equipamentos, o infectologista do Hospital Nossa Senhora da Conceição, André Luiz Machado, complementa dizendo que, diferentemente dos demais modelos, a máscara de tecido tende a ficar úmida mais rápido, o que atrapalha a sua eficácia. Outra questão é que ela não possui o poder de filtragem, o que diminui o nível de proteção.

“A barreira do tecido reduz a eliminação de gotículas e oferece uma certa proteção. Não acho que o ministério esteja errado em mudar o posicionamento, pois trabalhos mostram que em países onde o uso de máscaras é mais frequente, como o Japão, houve menos casos. Mas, paralelamente, deve haver um esforço de conscientização das agências de saúde para explicar como a máscara deve ser usada e tirada. Vejo no supermercado as pessoas com as máscaras só na boca. Isso gera uma falsa sensação de proteção”, argumenta.

E existe outro receio por parte dos especialistas. O fato de que, ao pensar estarem protegidas, as pessoas tendem a relaxar nos cuidados de higiene pessoal vistos como mais essenciais, como lavar as mãos, usar o álcool em gel, manter o isolamento e as etiquetas respiratórias.

Uso e descarte são fundamentais

Outra questão crucial e delicada na recomendação do Ministro da Saúde se refere ao manuseio dos equipamentos, ao vestir, tirar e descartar, ressalta o professor da UFRGS. De acordo com Goldani, para evitar a contaminação, é indispensável lavar adequadamente as mãos antes de colocar as máscaras e depois de tirá-las.

“Tem a questão de que o indivíduo pode se contaminar no uso dessas máscaras. Uso e não sei onde colocar, como vou descartar? Como colocar? Há toda uma didática do uso”.

Porém, Goldani lembra que há profissionais que permanecem em contato com muitas pessoas no seu local de trabalho, como nas atividades consideradas essenciais, por exemplo, os motoristas de ônibus, lembrados por Mandetta, que necessitam dessa medida de proteção. Mas ela deve ser feita com materiais que estejam dentro das normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Para quem nunca usou máscara, é difícil se adaptar neste momento sem se contaminar. Vai colocar a mão em frente ao EPI, vai usar errado, trazendo mais prejuízo do que benefício”, elucida o infectologista Machado.

* Com informações de GaúchaZH

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