Realismo
O Realismo está entre esses estilos de época, estilos que contribuíram para a formação de nossa identidade cultura e, por consequência, literária.
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Machado de Assis nasceu no Rio de Janeiro no dia 21 de junho de 1839. Faleceu em sua cidade natal em 29 de setembro de 1908, aos 69 anos. O escritor, principal representante da literatura realista no país, ganhou de Carlos Drummond de Andrade a alcunha de “Bruxo do Cosme Velho”. É, ainda hoje, considerado o maior escritor da literatura realista no Brasil e um dos mais importantes escritores da literatura universal.
A literatura brasileira é tradicionalmente dividida em escolas literárias ou, como queira, movimentos literários. Essa divisão tem como objetivo facilitar o estudo e o ensino da disciplina nas escolas e universidades e é bastante didática, haja vista que agrupa escritores de acordo com suas características temáticas e estilísticas. O Realismo está entre esses estilos de época, estilos que contribuíram para a formação de nossa identidade cultura e, por consequência, literária. Quer conhecer um pouco mais das características do Realismo brasileiro? Então o Escola Educação apresenta para você esse que certamente é um dos mais interessantes períodos de nossas letras. Boa leitura e bons estudos.
A história do Realismo
O Realismo tem início na Europa na segunda metade do século XIX. As profundas modificações sociais e culturais pelas quais a sociedade europeia passava à época contribuíram para o surgimento de uma nova estética literária, influenciada pelas correntes científicas que explicavam fenômenos sociais, naturais e psicológicos à luz de teorias materialistas. As contradições sociais começam a aparecer, evidenciadas, principalmente, pela Revolução Industrial, conjunto de mudanças que aconteceram na Europa nos séculos XVIII e XIX.
A principal particularidade dessa revolução foi a substituição do trabalho artesanal pelo assalariado e com o uso das máquinas. Como muitos empresários ambicionavam lucrar mais, o operário era explorado sendo forçado a trabalhar até 15 horas por dia em troca de um salário baixo. A partir desse contexto, os escritores realistas observaram a necessidade de descrever a realidade das cidades tal qual ela é, postura que contrariava a ideia de subjetividade tão defendida pelos românticos.
Assim como o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo também buscavam combater o Romantismo a partir de uma perspectiva que trouxesse à tona a realidade. Entre os três movimentos, o Realismo foi aquele que alcançou maior êxito no combate ao Romantismo e no resgate do objetivismo na literatura, apresentando um inclinação pelas descrições. O marco inicial da escola realista na Europa deu-se com a publicação do romance Madame Bovary, em 1857, obra do escritor francês Gustave Flaubert. No Brasil, o livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, publicado em 1881, é apontado como o primeiro do estilo, muito embora as primeiras manifestações do Realismo tenham ocorrido ainda durante o Romantismo, no início da segunda metade do século XIX.
Observe o quadro comparativo das principais características do Realismo e do Romantismo:
Realismo | Romantismo |
Objetivismo | Subjetivismo |
Descrições e adjetivação objetivas, tentando captar o real como ele é | Descrições e adjetivação idealizantes, tentando elevar o objeto descrito |
Linguagem culta e direta | Linguagem culta, em estilo metafórico e poético |
Mulher não idealizada, mostrada com defeitos e qualidades | Mulher idealizada, anjo de pureza e perfeição |
Amor e outros sentimentos subordinados aos interesses sociais | Amor sublime e puro, acima de qualquer interesse |
Casamento como instituição falida; contrato de interesses e conveniências | Casamento como objetivo maior do relacionamento amoroso |
Herói problemático, cheio de fraquezas, manias e incertezas | Herói íntegro, de caráter irrepreensível |
Narrativa lenta, acompanhando o tempo psicológico | Narrativa de ação e de aventura |
Personagens trabalhadas psicologicamente | Personagens planas, de pensamento e ações previsíveis |
Universalismo. | Individualismo, culto do eu |
O Realismo no Brasil
No Brasil, assim como na Europa, o Realismo distanciou-se de elementos próprios do Romantismo, entre eles o exotismo, a fuga da realidade, o mal-do-século e outros, postura que iniciaria um processo que culminaria numa forma diferente de sentir e ver a realidade, ou seja, sob uma perspectiva realista.
Entre os autores que se dedicaram à investigação do comportamento humano e às denúncias das mazelas sociais, Machado de Assis merece destaque: o “Bruxo do Cosme Velho” (Cosme Velho é um bairro da cidade do Rio de Janeiro, bairro no qual o escritor morou durante longos anos), alcunha criada pelo maior poeta brasileiro de todos os tempos, Carlos Drummond de Andrade, produziu uma extensa obra literária dedicada à estética realista, que pode ser percebida sobretudo em seus contos, crônicas e romances. Na obra machadiana encontramos a preocupação do escritor com a técnica de composição do enredo e também a preocupação com a articulação dos temas, com a análise do caráter e do comportamento humano.
“(…) Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. (…) Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”
(Fragmento final do livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis)
A obra de Machado de Assis é dividida em duas diferentes fases: na primeira fase o escritor alia-se à estética romântica, ainda que alguns elementos do Realismo já pudessem ser percebidos. Na segunda fase, encontramos um Machado totalmente associado à escola realista, seus romances, contos e crônicas já apresentam os temas próprios do estilo, bem como uma linguagem ferina, permeada pela fina ironia que é a característica maior do escritor. Com o êxito de Memórias Póstumas de Brás Cubas, que apresentou ao público uma personagem distante da dualidade maniqueísta que divide os homens entre bons e maus, Machado ainda nos deixou obras-primas como Quincas Borba e Dom Casmurro, cuja atmosfera universalizante também alcançou seus últimos romances, Esaú e Jacó e Memorial de Aires.
Da fase realista da prosa machadiana estão os romances:
- Memórias Póstumas de Brás Cubas, (1881)
- Casa Velha, (1885)
- Quincas Borba, (1891)
- Dom Casmurro, (1899)
- Esaú e Jacó, (1904)
- Memorial de Aires, (1908)
Além de Machado de Assis, alcançaram destaque no romance realista os escritores Raul Pompéia e Visconde de Taunay. Entre as obras de Raul Pompéia, O Ateneu é aquela que obteve maior êxito, sendo considerada um exemplo do impressionismo na literatura brasileira, também considerada uma obra Naturalista. Já o escritor Visconde de Taunay destaca-se na literatura regionalista, uma das fases do romance brasileiro. Seu livro de maior sucesso foi Inocência, considerada pelos críticos uma obra transitória, situado entre o Romantismo e o Realismo.
Luana Alves
Graduada em Letras
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