Semana de Arte Moderna de 1922
O movimento modernista fez com que os artistas brasileiros percebessem a riqueza cultural do próprio país.
Você sabe o que foi a Semana de Arte Moderna de 1922 e onde foi realizada? A Semana de Arte Moderna aconteceu no Theatro Municipal de São Paulo, de 11 a 18 de fevereiro de 1922. O principal propósito da exposição era romper com o modelo artístico imposto pela Europa.
Entre os artistas que participaram da Semana de Arte Moderna de 1922, estavam: Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tácito de Almeida, Di Cavalcanti e Manuel Bandeira.
Resumo da Semana de Arte Moderna de 1922
Confira abaixo um resumo da Semana de Arte Moderna de 1922, entenda o contexto histórico e as características do evento, e veja também alguns exemplos das obras expostas.
Contexto histórico
Com o final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Europa foi atingida por uma intensa crise socioeconômica. Os países envolvidos no conflito concentrariam suas forças a partir daquele momento na reconstrução de suas cidades.
Apesar de a Alemanha ter sofrido os maiores efeitos com a derrota na guerra, até mesmo os países que saíram vitoriosos sofreram algum abalo. Além do elevado número de mortos, a guerra gerou danos terríveis para o mundo. Entre eles podemos citar:
- Os países europeus que antes ocupavam lugar de destaque na economia mundial, emprestando dinheiro a outras nações, agora se viram na posição de devedores.
- Os Estados Unidos ocupam então a posição de maior credor mundial; os países europeus contraíram um empréstimo de cerca de dez bilhões de dólares.
- A Inglaterra deixa de ser a maior potência mundial, posto que agora é ocupado pelos Estados Unidos.
- Desemprego, fome, inflação abrem espaço para a implantação de ideias socialistas.
- O descontentamento social estimula a eclosão de movimentos grevistas em toda a Europa.
- A crise socioeconômica cria um terreno perfeito para a propagação de governos autoritários. De caráter extremamente nacionalista, ideologias como o Nazismo e o Fascismo se colocam como alternativa para retirar os países da crise.
- Formação de novos países a partir da desintegração dos impérios Alemão, Austro-húngaro e Turco-Otomano. Áustria, Hungria, Checoslováquia e Iugoslávia são alguns dos novos países.
Apesar dos altos empréstimos contraídos com os norte-americanos, aos poucos a Europa foi recuperando as suas forças. A ajuda dos Estados Unidos foi fundamental para o restabelecimento da economia, as indústrias europeias apresentaram um grande crescimento, inclusive vendendo os seus produtos para a nova potência mundial.
O aumento do consumo dos norte-americanos beneficiaram as indústrias dos países europeus, os anos de 1920 representaram o auge do consumo e produção dos Estados Unidos, e nessa mesma década eles também amargariam uma grave crise econômica gerada pela superprodução (Crise de 1929 – Grande Depressão).
Nesse contexto de recuperação econômica, a Europa inicia um período de grande movimentação cultural. A guerra não apresentou apenas efeitos nocivos, ela também influenciou o desenvolvimento de um novo modelo artístico.
Baseado no questionamento dos rumos que a sociedade vinha seguindo, intelectuais e artistas de várias partes do mundo usaram a arte como meio de denunciar os novos valores que a sociedade tecnológica passou a impor aos cidadãos.
Segundo os intelectuais que deram inicio a esse movimento, a sociedade burguesa era a responsável pela massificação do trabalhador, e que o ritmo frenético das indústrias contribuía para a perda da identidade cultural dos indivíduos.
Movimento modernista
Muitos movimentos artísticos surgiram como um meio de fuga das pessoas desse ambiente de guerra, competição e opressão. Para eles, a arte deveria se desvincular do padrão elitista imposto pelos museus e estimular o desenvolvimento artístico baseado na criatividade e inovação.
Entre os movimentos surgidos nesse período pode-se citar o Dadaísmo, que buscou romper com todos os modelos tradicionais e criar uma arte que provocativa que instigava as pessoas a repensarem.
Para os artistas do dadaísmo, a arte não deveria ser apenas contemplativa, ela deveria estimular o individuo a contestar o modelo imposto pela elite. Os dadaístas propõem a construção de um modelo artístico recontado a partir de objetos simples do cotidiano. O movimento teve forte influência anarquista.
Outros exemplos de movimentos modernistas foram: Impressionismo, Surrealismo, Simbolismo e o Cubismo.
Modernismo brasileiro
O Brasil também foi influenciado por esses movimentos de rompimento com as tradições. A organização da Semana de Arte Moderna de 1922, que aconteceu no Teatro Municipal de São Paulo entre os dias 11 a 18 de fevereiro de 1922, propunha uma verdadeira revolução artística tanto na literatura, quanto na música, nas artes plásticas e na arquitetura.
Em um contexto social marcado pela agitação do crescimento urbano, da industrialização, dos movimentos operários e da disseminação de ideais socialistas, os modernistas estimularam a criação de uma arte sem vínculo com a Europa, uma arte verdadeiramente nacional.
Desvinculado de padrões anteriormente impostos, o modernismo no Brasil causou grande repercussão e reações conservadoras, principalmente entre a elite paulistana que idolatrava tudo aquilo que era produzido no cenário cultural europeu. Entre outros nomes, a mídia qualificava os artistas modernistas como “subversores da arte”.
A Semana de Arte Moderna serviu como vitrine para a exposição de um novo ideal artístico. Aos poucos, o modernismo foi ganhando força e sendo implantado na sociedade brasileira. Vários movimentos modernistas brasileiros se originaram nesse período: Movimento Pau-Brasil, o Movimento Verde-Amarelo e Grupo da Anta, e o Movimento Antropofágico.
Apesar de apresentarem tendências distintas, eles tinham em comum o desejo de valorizar a identidade nacional.
Entres os principais artistas modernistas brasileiros, podemos destacar: Mário de Andrade, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Graça Aranha, Manuel Bandeira e Heitor Villa-Lobos.
Confira abaixo algumas obras da Semana de Arte Moderna de 1922:
Literatura
No que se referem à literatura, os escritores modernistas utilizaram a sua arte para retratar situações do cotidiano do brasileiro.
Uma das obras criadas nesse período merece destaque: Paulicéia Desvairada, de Mário de Andrade. Em seu livro, o escritor retrata as transformações ocorridas em São Paulo, enfatizando as mudanças provocadas pela urbanização.
Paulicéia Desvairada, publicada em 1922, é uma coletânea de poemas que aborda diversas questões relacionadas ao crescimento urbano da capital paulista. Mário de Andrade foi um dos primeiros modernistas a romper definitivamente com os modelos impostos pela vanguarda europeia.
Veja abaixo o trecho inicial do poema modernista “Ode ao Burguês”, contido na obra referida:
Ode ao Burguês, de Mário de Andrade
“Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os ‘Printemps’ com as unhas!
[…]”
Conclusão
A Semana de Arte Moderna não conquistou a repercussão desejada na época, porém suas ideias aos poucos foram sendo incorporadas no cenário artístico.
O movimento modernista fez com que os artistas brasileiros percebessem a riqueza cultural do nosso país, tornando desnecessário a cópia de modelos artísticos importados da Europa.
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