Clarice Lispector

Clarice Lispector foi uma grande escritora. Suas obras ultrapassaram gerações e seguem sendo referência literária. Saiba mais sobre a protagonista da literatura modernista brasileira.

Clarice Lispector foi uma das maiores escritoras da Geração de 45 – a terceira fase do Modernismo brasileiro. Ela recebeu diversos prêmios, como o da Fundação Cultural do Distrito Federal e, graças ao seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, conquistou o prêmio Graça Aranha.

Essa grande escritora modernista nasceu na Ucrânia. Ainda durante sua infância, mudou-se para o Brasil com sua família, residindo na cidade de Maceió. Clarice, apesar de atuar como tradutora, jornalista, romancista e cronista, cursou Direito.

Ao se casar com o diplomata Maury Gurgel, Clarice Lispector viveu em diversos países, como Itália, Suíça, Inglaterra e Estados Unidos, tudo isso em um período de 15 anos. Foi nessa época que seus primeiros romances começaram a ser escritos.

Biografia de Clarice Lispector

Haya Pinkhasovna Lispector, conhecida como Clarice Lispector, nasceu no dia 10 de dezembro de 1920, em Tchetchelnik, Ucrânia. Descendente de judeus, passou seus primeiros anos de vida fugindo de perseguições durante a Guerra Civil Russa (1918–1920).

Dessa forma, chegou ao Brasil em 1921 e viveu nas cidades de Maceió, Recife e Rio de Janeiro. Nesse período, Clarice e sua família passaram por muita dificuldade financeira. Apesar disso, na escola, ela se mostrava uma aluna exemplar.

Desde pequena, Lispector estudava várias línguas, como português, francês, hebraico, inglês e iídiche. Além disso, ela teve aulas de piano e amava escrever poemas.

Seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, terminou de ser escrito em 1943, no mesmo ano em que se casou com Maury Gurgel Valente. A obra foi publicada em 1944 e sua repercussão foi tão positiva que recebeu o Prêmio Graça Aranha.

Perto do Coração Selvagem
Perto do Coração Selvagem (1943)

Sua última obra, A Hora da Estrela, foi escrita em 1977. O romance ganhou uma versão cinematográfica, dirigida por Suzana Amaral, em 1985. O longa-metragem conquistou os maiores prêmios do festival de cinema de Brasília. A atriz principal, Marcélia Cartaxo, ganhou o troféu Urso de Prata em Berlim.

Clarice Lispector faleceu no dia 9 de dezembro de 1977, no Rio de Janeiro, um dia antes de seu aniversário. Seu corpo foi sepultado no cemitério Israelita do Caju.

Infância e adolescência

Clarice passou seus primeiros anos de vida fugindo da Guerra Civil Russa. Quando tinha apenas dois meses, sua família fixou residência em Maceió, Alagoas. Todos os seus familiares mudaram de nome. De Haya, tornou-se Clarice.

Família Lispector
Família Lispector

Em 1929, ela e sua família se mudaram para Recife. Sua infância foi passada no Bairro da Boa Vista. Os primeiros anos escolares da escritora foi no grupo escolar João Barbalho. Na época, ela aprendeu a ler e escrever. Em seguida, começou a escrever seus contos.

Quando Lispector tinha 9 anos, sua mãe faleceu. Aos 12 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, no Bairro da Tijuca. Ela começou a estudar no Colégio Sílvio Leite, onde era presença rotineira na biblioteca.

Casamento e primeiros livros

Clarice Lispector terminou o segundo grau em 1941. No mesmo ano, ingressou na Faculdade Nacional de Direito e começou a trabalhar como redatora na Agência Nacional. Posteriormente, ela foi contratada no jornal A Noite.

Em 1943, a escritora se casou com seu colega de turma, Maury Gurgel Valente. No mesmo ano, ela terminou de escrever sua primeira obra, Perto do Coração Selvagem, que narra a visão adolescente. O livro foi publicado em 1944 e ganhou o Prêmio Graça Aranha.

O esposo de Clarice, diplomata de carreira internacional, em 1944, fez sua primeira viagem para Nápoles, Itália. A escritora o acompanhou e trabalhou como voluntária de assistente de enfermagem no hospital da Força Expedicionária Brasileira. No período, a Europa estava em guerra.

Clarice e Maury em Veneza
Clarice e Maury em Veneza

Apesar dos acontecimentos, Lispector não deixou de escrever. Em 1946 publicou O Lustre e nesse mesmo ano, passou a viver em Berna, na Suíça. Em 1949, nasceu seu primeiro filho, Pedro. Além disso, ela terminou outra obra, A Cidade Sitiada.

Por um tempo, dedicou-se a escrever contos. Até que, no ano de 1952, Clarice publicou Alguns Contos. Seu segundo filho, Paulo, nasceu em 1953, nos Estados Unidos. Um ano mais tarde, sua obra Perto do Coração Selvagem foi publicada em francês.

Jornalismo e literatura infantil

Clarice Lispector separou-se de Maury em 1959 e retornou ao Rio de Janeiro com seus filhos. Ela começou a trabalhar no jornal Correiro da Manhã, na coluna Correiro Feminino. Além disso, ela também escrevia na coluna Só para mulheres no Diário da Noite.

No mesmo período, ela lançou Laços de Família, obra que recebeu o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro. Em 1961, ela publicou A maçã no Escuro, ganhando o prêmio de melhor livro do ano de 1962.

Laços de família
Laços de família (1960).

Clarice Lispector lançou O mistério do coelhinho pensante em 1967. No mesmo ano, ela dormiu com um cigarro aceso e sofreu várias queimaduras no corpo. A escritora precisou passar por diversas cirurgias e, mesmo assim, não deixou de exercer sua paixão, a escrita.

Ela passou a integrar o Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Livro. Clarice era considerada uma “pessoa difícil”. Em 1976, a escritora ganhou o primeiro prêmio X Concurso Literário Nacional de Brasília, pelo conjunto de sua obra.

Clarice Lispector – Livros

Confira abaixo as principais obras de Clarice Lispector:

  • Perto do coração selvagem (1942)
  • O Lustre (1946)
  • A Cidade Sitiada (1949)
  • Laços de Família (1960)
  • A Maçã no Escuro (1961)
  • A Legião Estrangeira (1964)
  • A Paixão Segundo G. H (1964)
  • O Mistério do Coelho Pensante (1967)
  • A Mulher que Matou os Peixes (1968)
  • Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (1969)
  • Felicidade Clandestina (1971)
  • Água Viva (1973)
  • A Imitação da Rosa (1973)
  • Via Crucis do Corpo (1974)
  • Onde Estivestes de Noite? (1974)
  • Visão do Esplendor (1975)
  • A Hora da Estrela (1977)

Clarice Lispector – Frases

Confira algumas frases de Clarice Lispector:

Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.

Vida é o desejo de continuar vivendo e viva é aquela coisa que vai morrer. A vida serve é para se morrer dela.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade.

Se você se sente infeliz agora, tome alguma providência agora, pois só na sequência dos agoras é que você existe.

A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver.

Sei que não posso viver automaticamente: preciso de amparo e é do amparo do amor.

Clarice Lispector – Poemas

A Perfeição

O que me tranquiliza

é que tudo o que existe,

existe com uma precisão absoluta.

O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete

não transborda nem uma fração de milímetro

além do tamanho de uma cabeça de alfinete.

Tudo o que existe é de uma grande exatidão.

Pena é que a maior parte do que existe

com essa exatidão

nos é tecnicamente invisível.

O bom é que a verdade chega a nós

como um sentido secreto das coisas.

Nós terminamos adivinhando, confusos,

a perfeição.

Minha alma tem o peso da luz

Minha alma tem o peso da luz.

Tem o peso da música.

Tem o peso da palavra nunca dita,

prestes quem sabe a ser dita.

Tem o peso de uma lembrança.

Tem o peso de uma saudade.

Tem o peso de um olhar.

Pesa como pesa uma ausência.

E a lágrima que não se chorou.

Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.

Sonhe

Seja o que você quer ser,

porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance

de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.

Dificuldades para fazê-la forte.

Tristeza para fazê-la humana.

E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.

Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.

Para aqueles que se machucam.

Para aqueles que buscam e tentam sempre.

E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.

Dá-me tua mão

Dá-me a tua mão:

Vou agora te contar

como entrei no inexpressivo

que sempre foi a minha busca cega e secreta.

De como entrei

naquilo que existe entre o número um e o número dois,

de como vi a linha de mistério e fogo,

e que é linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,

entre dois fatos existe um fato,

entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam

existe um intervalo de espaço,

existe um sentir que é entre o sentir

– nos interstícios da matéria primordial

está a linha de mistério e fogo

que é a respiração do mundo,

e a respiração contínua do mundo

é aquilo que ouvimos

e chamamos de silêncio

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