Dipirona: por que este remédio popular no Brasil é proibido em tantos países?
Em 2022, mais de 215 milhões de unidades de dipirona foram vendidas no Brasil, mas, nos EUA e na Europa, esse medicamento é proibido há muitos anos. Entenda os motivos!
Abra sua caixinha de remédios. É quase certo que você terá uma cartela ou um frasquinho de dipirona dentro dela.
Não é surpresa, pois, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), apenas em 2022 foram vendidas mais de 215 milhões de unidades do medicamento.
Ela, a dipirona, é sempre uma das primeiras opções dos médicos e das mães para aliviar dores e febre. Sempre está na lista dos remédios mais comprados por aqui.
O que nem todo mundo sabe é que a dipirona, há muitos anos, é proibida nos Estados Unidos e em vários países da Europa. Entenda os motivos disso e saiba porque o mesmo não acontece no Brasil!
Barrada
O motivo dessa proibição em tantos países é a agranulocitose, um dos possíveis efeitos colaterais do medicamento.
Trata-se de uma alteração grave no sangue que leva à queda drástica na quantidade de alguns tipos de células de defesa.
No entanto, essa é apenas uma possibilidade que começou a ser expressa a partir de 1964. Nesse ano, um artigo mostrou que uma em cada 127 pessoas que tomaram aminopirina (substância com estrutura muito parecida com a dipirona) desenvolvia agranulocitose.
Os autores do artigo, entretanto, levaram em conta apenas a semelhança entre as duas substâncias. Como é de conhecimento geral, o que é parecido não é necessariamente idêntico.
Contudo, o estrago já estava feito e a Food and Drug Administration (FDA), agência estadunidense equivalente à Anvisa, proibiu a dipirona no país em 1977.
Seguindo os EUA, a Austrália, o Japão, o Reino Unido e algumas partes da Europa também proibiram a venda do fármaco.
(Imagem: divulgação)
O tempo inocentou a dipirona — ou quase
A partir de 1980, novas evidências mostraram que o medicamento é, de fato, seguro. Um novo estudo, realizado com 22,2 milhões de pessoas de oito países (Israel, Alemanha, Itália, Hungria, Espanha, Bulgária e Suécia), colocou em xeque a pesquisa anterior, com apenas 127 participantes.
O resultado foi uma incidência de 1,1 caso de agranulocitose para cada 1 milhão de pessoas. Esta é uma incidência muito baixa, o que comprova que a dipirona é um medicamento que pode ser usado sem medo.
Estudos posteriores, feitos em Israel, mostraram que as chances de desenvolver a alteração sanguínea com o uso do medicamento são menores que 1% — e a possibilidade de morte é ainda menor.
Entretanto, os números da população na Suécia voltaram a pintar a dipirona como vilã. Em 1990, o país liberou o medicamento, mas nove anos depois voltou atrás, com 14 episódios de agranulocitose possivelmente ligados ao uso do remédio.
No Brasil
Aqui, a dipirona é liberada, mas sempre foi amplamente estudada. Entre janeiro de 2002 e dezembro de 2005, cientistas brasileiros, da Argentina e do México revisaram dados de 548 milhões de pessoas que ingeriram o fármaco.
Foram encontrados 52 casos de agranulocitose, o que representa uma taxa de 0,38 caso por milhão de habitantes por ano. Portanto, é um medicamento considerado seguro para a nossa população.
O que explica essa mudança de números de um país para outro?
Quem tem a resposta para essa pergunta é Danyelle Marini, diretora do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo.
Em entrevista à BBC, ela explicou que “há uma mutação genética que parece facilitar o aparecimento” da condição sanguínea em algumas pessoas. Tais genes estão, de fato, mais presentes em indivíduos dos EUA e de partes da Europa.
Além disso, dosagens mais altas e utilização por tempo prolongado também podem influenciar o aparecimento da agranulocitose.
Comentários estão fechados.