Não é a Bíblia: conhece o livro mais antigo do mundo?

O livro mais antigo do mundo é uma obra monumental que retrata os primórdios da literatura e da cultura humana.

A ‘Epopeia de Gilgamesh’ é muito mais do que um simples texto antigo; é a porta de entrada para o entendimento da civilização humana, marcando o início da literatura escrita e ecoando através dos séculos como uma das narrativas mais influentes da história.

Composta há cerca de 4 mil anos, essa epopeia foi originalmente gravada em tábuas de argila usando a escrita cuneiforme, o sistema de escrita mais antigo que conhecemos.

A obra, atribuída ao rei Gilgamesh de Uruk, não é apenas a mais antiga que sobreviveu até os dias de hoje, mas também um reflexo profundo das preocupações e aspirações humanas universais.

Origem e redescoberta

A ‘Epopeia de Gilgamesh’ tem suas raízes na antiga Mesopotâmia, uma região localizada entre os rios Tigre e Eufrates, que hoje corresponde ao território do Iraque.

O poema épico foi escrito em várias línguas e versões ao longo de milênios, com a mais antiga datando de aproximadamente 2000 a.C.

A versão padrão, que inclui o famoso relato do Dilúvio, foi consolidada entre 1300 e 1000 a.C., embora fragmentos ainda mais antigos tenham sido encontrados.

Por muitos séculos, o conhecimento sobre Gilgamesh foi perdido, até que, em 1839, o arqueólogo britânico Austen Layard começou a desenterrar as cidades soterradas da antiga Mesopotâmia.

Em 1872, George Smith, um estudioso autodidata, decifrou as tábuas de argila que continham a epopeia, trazendo novamente à luz uma das maiores obras literárias da humanidade.

A história de Gilgamesh

A epopeia narra as aventuras de Gilgamesh, o lendário rei de Uruk, uma das cidades mais importantes da Mesopotâmia.

Gilgamesh é descrito como dois terços deus e um terço humano, um herói de força incomparável, mas também um governante tirânico.

Sua jornada começa com a criação de Enkidu, um ser selvagem enviado pelos deuses para desafiar e equilibrar Gilgamesh.

Após um confronto inicial, os dois se tornam grandes amigos e juntos enfrentam inúmeras aventuras, como a batalha contra o monstruoso Humbaba e o touro celestial enviado pela deusa Ishtar.

No entanto, a narrativa ganha profundidade quando Enkidu morre, deixando Gilgamesh devastado e ciente da própria mortalidade.

Em busca de evitar o destino de todos os mortais, Gilgamesh embarca em uma jornada para descobrir o segredo da imortalidade.

Ele encontra Utnapishtim, o único humano que recebeu a vida eterna após sobreviver a um grande dilúvio.

No entanto, Gilgamesh falha em sua busca e, ao retornar a Uruk, aprende que a imortalidade verdadeira reside nos legados que deixamos para o mundo.

A influência cultural e literária

A ‘Epopeia de Gilgamesh’ ocupa um lugar central na formação da literatura mundial, influenciando profundamente várias tradições literárias e religiosas que surgiram posteriormente.

Comparada à Bíblia Hebraica, é possível perceber que muitos temas abordados na epopeia, como o dilúvio e a busca pela imortalidade, aparecem em textos sagrados posteriores.

Por exemplo, o relato do dilúvio em Gilgamesh antecede o relato bíblico do dilúvio de Noé, sugerindo que essas histórias, compartilhadas ao longo do tempo e espaço, moldaram o pensamento religioso e cultural de diversas civilizações.

Além disso, a estrutura da ‘Epopeia de Gilgamesh’ também ecoa em outras grandes obras épicas, como a ‘Ilíada’ e a ‘Odisseia’ de Homero.

Assim como Gilgamesh, os heróis gregos também enfrentam batalhas épicas, desafios dos deuses e reflexões sobre a mortalidade e o destino.

Tais paralelos demonstram como a epopeia mesopotâmica estabeleceu um padrão narrativo e temático que influenciou diretamente a literatura ocidental.

A própria essência da ‘Epopeia de Gilgamesh’, com sua combinação de mitologia, história e filosofia, ressoa na literatura hebraica, grega e romana, estabelecendo um diálogo intertextual que atravessa milênios.

Enquanto a Bíblia explora a relação entre o divino e o humano através de narrativas morais e espirituais, Gilgamesh aborda essas questões de uma forma mais existencial, refletindo sobre a natureza da vida e da morte em um contexto mais secular e heroico.

Assim, a epopeia não apenas inaugurou a tradição literária, mas também forneceu uma base a partir da qual outras culturas construíram as próprias narrativas épicas e religiosas.

Sua influência é palpável não apenas em textos sagrados como a Bíblia, mas também em obras literárias que definiram a cultura ocidental, perpetuando temas universais que ainda hoje encontramos nas mais diversas formas de expressão cultural.

*Com informações de Universidade de Yale, Universidade de Idaho e Mega Curioso.

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