Saiba tudo sobre a Wicca, a religião da Deusa Mãe

A religião pagã foi idealizada pelo inglês Gerald Gardner e modernizou práticas pagãs cultuadas na antiga Grã-Bretanha acreditando na existência de dois deuses.

Conta pra gente, de quantas religiões você consegue se lembrar? Claro, as primeiras que vai mencionar são catolicismo, evangélica, espiritismo, budismo, islamismo, hinduísmo e por aí vai. E se te dissermos que existe, em meio a tantas doutrinas, uma praticada por amantes da natureza e dos animais que acreditam em uma Deusa Mãe?

Mais ainda, se contarmos que os praticantes dessa religião são bruxos? Você logo vai relacioná-la a algo satânico e do mal, não é mesmo? Pois, está pensando errado! Essa doutrina é a Wicca, religião neopagã influenciada por práticas pré-cristãs e da Europa Ocidental que creem na existência do sobrenatural.

A negatividade em torno dos wiccanos vem, justamente, da imagem que se faz das bruxas ao longo dos séculos, além de denominar tudo o que é pagão ao mal. Para desconstruir mitos impostos sobre a Wicca e trazer mais conhecimento, que tal viajar com a gente pela magia da “religião da Deusa Mãe”?

O que é Wicca?

A Wicca é uma religião neopagã cuja filosofia prega a existência da magia e do sobrenatural. Como comentamos, a doutrina modernizou práticas que vêm da era antes de Cristo, bem como costumes praticados na antiga Grã-Bretanha. Dedica-se ao conhecimento da espiritualidade a partir da natureza e da psique humana.

Celebra os ciclos da vida em inúmeros rituais e, também, festividades sazonais chamadas “sabás” que ocorrem oito vezes ao ano. Seus praticantes são chamados de wiccanos ou bruxos e, por isso, muitas vezes a própria religião é chamada de Witchcraft, bruxaria em inglês.

Seus praticantes afirmam que a Wicca é o resgate do Sagrado Feminino, do culto à Deusa e à feminilidade, o amor à natureza e aos animais, além do respeito ao próximo.

Como a Wicca surgiu?

De fato, as raízes espirituais da Wicca estão nos períodos neolítico e paleolítico quando os homens cultuavam o feminino e uma Deusa Mãe como grande criadora, nutridora e sustentadora da vida.

O culto à Deusa e, também, ao Deus Cornífero para proporcionar caças fartas e proteção seguiu até meados do século 400 quando o Cristianismo dominou a Europa. A partir daí, houve a perseguição dos cultos pagãos, transformando seus símbolos em entidades negativas, como o Diabo.

O idealizador da Wicca foi o inglês Gerard Gardner, um curioso sobre história, arqueologia, antropologia e ciências ocultas. A todo o seu conhecimento, foi acrescentando leituras sobre os rituais celtas e pagãos praticados na Grã-Bretanha enquanto mantinha contato com a maçonaria. É, no mínimo, bastante fundamentação teórica, não é mesmo?

Pois bem, com tudo isso, Gardner foi atualizando seu conhecimento e trazendo-o para o século XX, criando novas práticas ao conjunto das quais chamou de Wicca. E de onde saiu essa palavra? A raiz vem de wicce, originando os termos witch (bruxa, em inglês) e wise (sabedoria, na mesma língua).

E sabe o que Gerard pretendida com a Wicca? Fazer com que as pessoas parassem de acreditar nas bruxas como uma representação do mal, uma crença arraigada pelo Cristianismo medieval. Lembra como queimavam mulheres no meio da praça, acusando-as de bruxaria? E que, até 1950, a bruxaria era proibida no Reino Unido?

A proibição advinha da Lei da Bruxaria, dos anos 1.700. Justamente isso que Gardner queria desmistificar! O modo como ele tentou fazer isso foi através do destaque dado aos valores positivos da doutrina, como o conhecimento e amor à natureza, substituindo os ritos e mistérios que sempre envolveram a bruxaria.

A wicca é uma religião?

Sim, é, e foi reconhecida como tal, por exemplo, pelo governo dos Estados Unidos, inclusive, com a existência de feriados, como o Mabon, que marca o início do outono.

No que os wiccanos acreditam?

Basicamente, os wiccanos acreditam na existência de dois deuses:

Wicca deusa Triplice

  • Deusa Mãe: criadora de tudo que sempre existiu. Sua feminilidade a permite encarnar nas condições de virgindade, mãe e anciã, representando a inocência, plenitude e sabedoria, respectivamente. A deusa é representada pela lua e a adoração a ela exalta o cuidado, o saber da cura e a fertilidade.

Wicca Deusa Mãe

  • Cernunnos: deus masculino conhecido como Cornífero. Casado com a Deusa Mãe, nasce, morre e renasce, em um simbolismo da própria vida. A isso, também estão ligados o início, fim e recomeço das estações do ano, plantas, entre outros elementos. Por muito tempo, foi tido como uma espécie de diabo mas, Cernunnos nada mais é que a representação da masculinidade e virilidade.

Porém, a religião Wicca é politeísta, por isso, seus praticantes cultuam panteões (vários deuses), como aqueles advindos das culturas nórdicas, assírias, celtas e gregas. Por exemplo, existem os cultos à Afrodite (grega), Aditi (hindu), Anu (celta), Astarte (babilônica) e Amaterasu (japonesa). Basta que o wiccano queira fazê-lo.

Lá no começo, falamos que os wiccanos acreditam na reencarnação, não foi? Pois bem, a crença é de que as ações humanas retornam para quem as praticou, o que chamam de Lei Tríplice, de modo que não aceitam que haja a uma personificação do mal.

Quais são os rituais praticados?

Os rituais são praticados nos Solstícios e Equinócios, quando os wiccanos se reúnem para agradecer, renovar e pedir aos deuses. Mas, não só isso. Nessas reuniões, aproveitam para estudar e aprofundar seus conhecimentos sobre a própria religião. De modo geral, as festas são sempre relacionadas à natureza e quatro estações, como era feito no paganismo.

Cada ritual é realizado conforme a situação. Podem ser praticados em noites de lua cheia (esbás), nos sabás (estações do ano) ou nos Wiccaning, nos quais pedem pela proteção das crianças desde o seu nascimento. É como se fosse uma espécie de batismo. A diferença é que, na Wicca, os pais dão a liberdade aos filhos adultos para seguir a religião que quiserem.

Uma coisa interessante é que os wiccanos podem fazer suas próprias poções e feitiços individuais. Por isso, são livres para seguir as fases da lua e promover os rituais em grupos ou individualmente. A demanda é que o lugar esteja limpo, purificado com ervas e tenha um altar arrumado. Podem fazê-lo nas suas casas, em bosques ou outros lugares abertos.
Além disso, no caso de uma celebração em grupo, cada componente terá uma função para que a energia física e espiritual não se disperse. Os elementos e deuses devem ser invocados ao fazer um círculo mágico e, quando o ritual termina, o círculo se fecha e os participantes vão voltando para o presente.

Ah, e as reuniões devem ser registradas no Livro das Sombras, um tipo de diário dos praticantes das religiões pagãs.

Como montar o altar Wicca?

Falamos sobre a importância de montar o altar de forma adequada, certo? Todo wiccano pode montar um altar em sua casa como símbolo de sua fé. É por ele que o praticante realiza suas magias e purifica o ambiente. A quantidade de elementos que coloca nele depende do que vai praticar mas, alguns itens não podem faltar. Veja quais são:

  • Caldeirão de ferro: é nele que o wiccano queima suas ervas e elementos para as magias.
  • Cálice: é um elemento da deusa que deve ser usado, apenas, nos rituais.
  • Varinha mágica de madeira: o próprio wiccano pode fazê-la finalizando com um pedaço de quartzo.
  • Faca de dois gumes cega: é cega porque não foi feita para cortar coisas físicas mas, o ar. É usada para canalizar a energia e pode ser substituída pelo dedo índice.
  • Quatro elementos: a representação da terra, fogo, água e ar pode ser feita de várias formas, como vela, incenso, sal e um pote com água.
  • Pentáculo: como vamos ver adiante, o símbolo representa o ar, água, fogo e terra.
  • Velas coloridas: acender, ao menos, duas, oferecendo uma para o deus e outra para a deusa, além de alguma ilustração que os simboliza
Altar Wiccano
Altar Wiccano

Principais símbolos wiccanos

Assim como os rituais, muitos símbolos inseridos na Wicca pertencem a religiões pagãs, como a cruz egípcia. Mas, veja alguns muito característicos desta doutrina.

Símbolo da Wicca

Pentáculo

O pentagrama inserido em um círculo é encontrado nos altares onde se realizam os ritos, feitiços e conjuros.

Pentagrama

A estrela de cinco pontas representa os elementos, o feminino, o masculino, além da união com o cosmos. É usado em forma de pingentes pelos wiccanos, também funcionando como uma forma de identificação dos seguidores.

Lua Tripla

O símbolo remete às faces da Deusa relacionadas às fases da lua (minguante, cheia e crescente).

Existem wiccanos no Brasil?

Sim! A religião chegou por aqui na década de oitenta quando grupos a trouxeram da Europa para fazer seus rituais por aqui. Um contato maior foi feito a partir de 1990, na tentativa de regularizar e estruturar a religião no país.

E sabe quem contribuiu para sua popularização no Brasil? O escritor Paulo Coelho, com seu livro “Brida”. Existem, atualmente, escolas e associações que ensinam e representam os fundamentos da Wicca, principalmente em Brasília e São Paulo.

Mentiras sobre a Wicca

“Faça o que desejar, sem a ninguém prejudicar”. Esse é um dos maiores ensinamentos de Gerald Gardner que mostram o quanto os praticantes dessa religião são, de certa forma, injustiçados por informações desencontradas. Muito disso se deve à ideia que se fazia das bruxas desde a Idade Medieval.

Naquela época, pessoas que não praticavam o cristianismo ou faziam uso de costumes não aceitos pela Igreja eram chamados de bruxos, sob a alcunha de que faziam o mal. Se algum deles, lá atrás, cometeu atrocidades, esse não é o caso dos wiccanos. A doutrina é, completamente, oposta à magia para maltratar alguém de forma física ou mental.

Tanto que sua diretriz ética, a Lei Tríplice, invoca que o mal feito a alguém retorna para você três vezes mais forte. Além disso, os wiccanos nem acreditam na personificação do mal, em sacrifícios ou algo do tipo. Por isso, nada de achar que, em seus rituais, há sacrifícios de animais ou, até mesmo, seres humanos.

Ao contrário do que muitos afirmam, os wiccanos não são adoradores do diabo, inclusive, por acreditar que se trata de um símbolo não pagão. Também não seguem nenhuma Bíblia Negra, como pode ser espalhado por aí. Apenas registram seus rituais naquele livro que já comentamos, o Livro das Sombras.

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