Mitologia Africana – Deuses, histórias e práticas
Pouco difundida no Brasil, a mitologia africana é muito rica e influenciou a criação de religiões brasileiras, como o candomblé.
A mitologia dos iorubás é responsável por englobar tanto a visão de mundo, quanto a religião deste povo. Além da África, principalmente na Nigéria, ela se faz presente em países das américas para onde os africanos escravizados foram trazidos, a exemplo do Brasil e Cuba.
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a mitologia iorubá é monoteísta, sendo que o deus supremo e o criador de tudo é Olorum. Ele criou todas as coisas do mundo, incluindo as outras divindades, e posteriormente ordenou que Oxalá criasse os seres humanos.
Depois de diversas tentativas com outros materiais, como a água, madeira, ferro, fogo e ar, seguindo uma ideia de Nanã, o homem, finalmente, foi criado com o barro.
No Brasil, durante muito tempo os africanos escravizados tiveram que esconder seus cultos, uma vez que eles eram proibidos, enquanto o catolicismo era a única religião aceita pelos colonizadores.
Justamente por isso o sincretismo religioso é tão grande no país, já que os cultos de matriz africana tiveram que se fundir aos católicos para que suas divindades pudessem ser cultuadas. Aqui, a mitologia iorubá, entre outras coisas, proporcionou a criação das principais religiões de matriz africana, a exemplo do candomblé.
Deuses da Mitologia Africana
Antes de tudo, é necessário esclarecer que apesar de serem popularmente chamados de deuses, os orixás não são considerados como tal. Uma vez que Olorum é tido como o deus supremo do Iorubá, os orixás são considerados ancestrais divinizados após à morte.
Conheça as principais características de alguns dos orixás que são tidos como os principais dentro dessa mitologia.
Airá
De origem da região Savé, seu nome pode ser traduzido como redemoinho, sendo este, o fenômeno que mais se assemelha a um furacão na Nigéria. É um orixá da família do raio, mas também está relacionado ao vento, como seu nome indica, portanto, pode ser adorado como aquele que domina o encontro dos ventos.
Veste-se de branco, e o uso de coroa é substituído por um eketé. É bastante próximo de Oxalá. Suas comidas preferidas não são temperadas com sal ou dendê, ao invés disso, é utilizada a banha de ori africana, o quiabo está entre as refeições que mais aprecia.
Exu
É o orixá responsável pela ligação entre o mundo humano e o mundo dos orixás. Sem ele, não há comunicação entre as duas dimensões, e além disso, seus filhos e o terreiro não estarão protegidos. Além da função de protetor, ele está relacionado com a distribuição de prosperidade, fartura, boa sorte nos negócios e fertilidade.
Quando é bem tratado, as oferendas destinadas a ele retornam em dobro, mas quando seus filhos o esquecem os caminhos são fechados e além de dar má sorte, ele pode tornar-se o pior dos inimigos. Algumas vezes é erroneamente confundido com o diabo por conta da extravagância de seu culto e de seu jeito brincalhão.
Iemanjá
Um dos orixás mais populares aqui no Brasil, com muitas festividades, o nome de Iemanjá vem da expressão “Yèyé omo ejá”, que quer dizer, “Mãe cujos filhos são peixes”. É considerada a deusa da nação de Egbé, e para os brasileiros, é tida como a rainha das águas e dos mares. Além disso, é dona da fertilidade feminina e do psicológico dos seres humanos.
Extremamente respeitada como mãe de muitos orixás, por isso, a fecundidade é atribuída a ela. É também protetora dos pescadores e jangadeiros, os ama e protege, mas quando os deseja pode matá-los e torná-los seus esposos no fundo do mar.
Ogum
Ogum é o orixá da guerra, do fogo, do ferro, da tecnologia. É também o deus da sobrevivência. Ele é conhecido por fazer suas próprias ferramentas para serem usadas na caça, guerra e agricultura. Na África, só pode ser cultuados por homens, em templos exclusivos para ele.
É um temível guerreiro, implacável e violento e ganhou muito respeito por seu caráter devastador. É o principal orixá que desceu do céu após a criação. Acredita-se que ele tenha sido uma das primeiras divindades a ser cultuada pelos povos Iorubá da África.
Okô
É considerado o deus da sexualidade e da agricultura. É ligado a colheita e a fertilidade da terra. No Brasil ele é pouco conhecido, principalmente porque os africanos escravizados que vieram para cá não atuaram na disseminação de seu culto. Ele é representado com um cajado de madeira na mão, como símbolo da sua relação com as árvores, além de uma flauta de osso que ela ligada à sua relação com fertilidade e sexualidade.
Consegue curar a malária em auxílio àqueles que lidam com a agricultura é constantemente é árbitro de conflitos entre mulheres e na resolução de conflitos entre os próprios orixás. Na época da colheita do inhame várias festividades são feitas em homenagem ao orixá.
Olorun
Também chamado de Olodumaré. É o senhor do céu, o deus supremo, criador de tudo, inclusive das outras divindades, sendo considerado o pai delas. Criou a terra, a água, todas as espécies de vida, além do espírito. Por isso mesmo tem poder sobre todas as coisas criadas.
Não pode ser incorporado, porque é absoluto. Não aceita oferendas pois está acima de todas as coisas materiais. Se ele não tivesse permitido, Odudua não poderia ter gerado o mundo, nem Oxalá poderia ter dado vida aos homens.
Osanyin
É detentor de um axé imprescindível, essencial até mesmo a todas as divindades. É o responsável por reger a energia de todas as folhas, além do encantamento físico e metafísico que elas possuem. Em especial, tem poder sobre as folhas litúrgicas e aquelas que possuem propriedades medicinais.
O poder mágico do axé pode ser encontrado em folhas, que só podem ser colhidas por um sacerdote de Osanyin devidamente preparado e com as devidas precauções. Além disso, essas folhas não podem ser cultivadas em jardins, portanto, são colhidas diretamente das florestas.
Oxalá
Está relacionado a criação tanto do mundo quando da espécie humana. Pode se apresentar na forma de moço (Oxaguiã) ou de velho(Oxalufã), e material e imaterialmente pelo assentamento sagrado chamado de igba oxala.
É cultuado e considerado como o maior e mais respeitado orixá. É tido como o pai maior de todas as religiões de matriz africana. Simboliza a paz é suas principais características são a calma, a serenidade e o caráter pacificador. E ele pertencem os olhos que tudo veem.
Oxóssi
É tido como o orixá da caça, da fartura, além das florestas e relação entre os reinos animal e vegetal. Sua representação mais comum é na floresta, sempre caçando com um arco e uma flecha. Contudo, a caça é uma metáfora para o conhecimento. Ao atingi-lo, Oxóssi acerta seu alvo, justamente por isso, está ligado aos campos do ensino, arte e cultura.
Oyá ou Iansã
É a orixá dos ventos e raios, comandante das tempestades e dos espíritos dos mortos, estes últimos, são controlados por meio do Eruexim, um rabo de cavalo que é um de seus símbolos. Seu nome pode ser traduzido como “a mãe do céu rosado” ou “mãe do entardecer”.
Esposa de Xangô, costuma ser saudada após os trovões. Entretanto, é muito sensual e a troca de parceiros aparece com certa frequência em suas histórias, mas raramente ao mesmo tempo, uma vez que costuma ser leal aos parceiros. Ela é filha de Iemanjá e Oxalá, portanto, irmã de Oxum, Obá e Oxossi. Não gosta de afazeres doméstico, e portanto, está sempre presente nos campos de batalha.
Xangô
É tido como um dos orixás mais importantes. É protetor da justiça divina e dos homens, além de orixá do fogo, raios e trovões. As principais características de seu comportamento é a virilidade, agressividade, violência e senso de justiça. Além disso, é conquistador, bonito e sensual.
Quem pede a justiça de Xangô deve saber que também será julgado e além disso, se estiver devendo à justiça divina também terá que pagar.
Outros orixás
Seria impossível, aqui, listar todas as divindades da mitologia Iorubá. Apesar das divergências, estima-se que o número seja superior a 400. A título de curiosidade, além dos principais detalhados acima, citamos mais alguns orixás e suas principais atribuições.
Axabó – orixá feminino pertencente a família de Xangô.
Egungun – ancestral cultuado após a morte em Casas separadas dos Orixás.
Ibeji – são orixás gêmeos.
Ifá ou Orunmila-Ifa – conhecido por ser o orixá da adivinhação e do destino.
Iroko – orixá da árvore sagrada, que no Brasil é conhecida como gameleira branca.
Iyami-Ajé – é a sacralização da figura materna.
Logunedé – orixá jovem da caça e da pesca.
Nanã – orixá feminino das águas das chuvas, dos pântanos e da morte, mãe de Obaluaiyê, Iroko, Oxumarê e Ewá, orixás de origem daomeana.
Obá – junto com Iansã e Oxum, é uma das esposas de Xangô. É um orixá feminino do rio Oba.
Odudua – é pai de Oranian e dos Iorubá, é um orixá também admitido como criador do mundo.
Olokun – orixá divindade do mar.
Olossá – orixá dos lagos e lagoas.
Onilé – este orixá está relacionado ao culto da terra.
Oranian – orixá filho mais novo de Odudua.
Oxalufã – orixá velho e sábio.
Oxum – orixá feminino dos rios, do ouro e amor.
Oxumarê – orixá da chuva e do arco-íris.
Xapanã – orixá das doenças epidérmicas e pragas.
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