Poesia palaciana – A presença da musicalidade durante o Humanismo
Concebida a partir do século XV, a poesia palaciana desconectou do canto e da dança e promoveu ritmo, versificação, métrica e musicalidade às obras.
Esse tipo de poesia foi concebido a partir do século XV, no período do reinado de D. Afonso V (rei de Portugal), durante o movimento literário do Humanismo.
Na circunstância, foi quando a poesia se desligou do canto e da dança e alcançou um grau de formalidade que lhe permitia promover um ritmo, versificação, métrica e musicalidade.
Porém, a musicalidade independia de instrumento musical. A principal ideia era que o sonoro fosse obtido por meio da leitura (declamada ou lida individualmente), o que a diferencia do trovadorismo, necessitando que a poesia fosse cantada e tivesse um acompanhamento musical.
Principais características
Dentre as principais características da poesia palaciana estão a presença de métrica, ritmo e expressividade; o uso de figuras de linguagem; a influência de idealismo e sensualidade; a aplicação de redondilhas (5 ou 7 sílabas poéticas); a ausência de instrumentos musicais e a separação entre poesia e música.
Delimitada por ambiguidades, conotação, aliteração e jogo de palavras, a poesia palaciana trazia reflexões da vida cortês.
Produzida como forma de lazer e entretenimento, eram, em muitas vezes, improvisadas por seus entusiastas. E a sua escrita tinha como objetivo agradar a burguesia, possuindo um caráter aristocrático.
Pertencente às produções humanistas, a poesia palaciana foi pouco popular na época de sua criação, tendo importância ao estudo da literatura. Portanto, seu valor é inquestionável para a análise e questionamento do comportamento artístico e cultural de diferentes reinados.
Tipos de poesia palaciana
Há diferentes tipos de poesia palaciana, entre eles:
- Poemas épicos: na posição de nobres, os poetas declamavam os momentos de guerra, assim como a defesa da nação com força, caso necessário;
- Poesias dramáticas: sendo um reflexo do interior do escritor;
- Poesias satíricas: incluindo assuntos de costumes sociais,como a corrupção do clero;
- Poemas religiosos: destacando a influência da igreja no período;
- Poesias didáticas: escritas como meio de orientação ou defesa de uma ideia.
Exemplos de poesia palaciana
O poeta Garcia de Resende agrupou, aproximadamente, mil poemas palacianos em Cancioneiro Geral. A obra impressa e publicada em 1516, contém 880 composições, de 286 poetas, escritos em espanhol e em português.
Cancioneiro Geral apresenta produções poéticas de Bernadim Ribeiro, D. Pedro (condestável de Portugal), Diogo Brandão, Gil Vicente, Jorge de Aguiar, Sá de Miranda, além do próprio Garcia de Resende.
Veja alguns poemas retirados da obra de Garcia de Resende:
Meu amor, tanto vos quero,
que deseja coração
mil coisas contra a razão.
Porque se não vos quisesse,
como poderia ter
desejo eu me viesse
do que nunca pode ser.
Mas com tanto desespero,
tenho em mim tanta afeição
que deseja o coração.(Aires Teles)
Meu amor, tanto vos amo,
que meu desejo não ousa
desejar nenhuma cousa.
Porque, se a desejasse,
logo a esperaria,
e se eu esperasse,
sei que a vós anojaria,
mil vezes a morte chamo
e meu desejo não ousa
desejar-me outra cousa.(Conde Vimioso)
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