Revolução Russa (1917)
Para o conjunto do proletariado internacional, a Revolução de 1917, significou o primeiro grande marco do século XX.
A Revolução Russa, ocorrida em 1917, foi o resultado de conflitos ocorridos no século XX. Concomitante à Primeira Guerra Mundial, foi orientada pelos ideais comunistas de Karl Marx e Friendrich Engels que influenciaram uma rebelião popular. Conquistaram o objetivo de abolir a monarquia, fundando um governo organizado por trabalhadores.
Esse processo resultou na criação da União Soviética (URSS), que durou até 1991.
Antecedentes e causas
O sistema político que organizava a sociedade russa do século XVI ao início do XX, era o czarismo. Era um governo absolutista, em que o czar (imperador), centralizava todo o poder em suas mãos.
Todas as classes sociais estavam sob o seu controle: a nobreza, a Igreja Católica Ortodoxa e os servos, que tinham sua liberdade mais restringida em relação as outras duas
(nobreza e igreja).
Na primeira metade do século XIX, no meio rural, os camponeses viviam dominados pela nobreza latifundiária. A permanência do sistema de produção feudal – que atrasava a modernidade do país – gerava uma forte tensão social.
Os trabalhadores rurais viviam em estado de extrema pobreza. Pagavam altos impostos para manter o sistema czarista de Nicolau II.
Os russos ficaram para trás na Revolução Industrial em relação ao Reino Unido, Alemanha, França e Áustria-Hungria. Seus vizinhos europeus se modernizaram e investiram na indústria, enquanto a Rússia ainda sustentava uma economia fundamentalmente agrícola (sistema feudal).
No feudalismo, os senhores feudais não tinham interesse em modernizar as técnicas de plantio/colheita ou investirem em indústrias. E mesmo os poucos trabalhadores urbanos que trabalhavam na frágil indústria russa, viviam insatisfeitos com o governo do czar.
O czar Alexandre II (1855-1881) estabeleceu algumas mudanças, como a emancipação dos servos em 1861. Tal feito teve como consequência uma maior liberdade de produção e comercialização dos camponeses.
Outra mudança, foi a reforma agrária, com a ocupação de novas terras vendidas aos camponeses. Essa medida permitiu o país a aumentar sua produção e se tornar um exportador de grãos.
Contudo, uma grande quantidade de terras ainda pertencia à nobreza. Tal situação proporcionaria em 1917 uma das principais reivindicações da Revolução: a distribuição de terras.
Modernização Russa
Houve, também, um crescimento populacional com a modernização industrial realizada ainda no século XIX. A construção de indústrias em algumas regiões ocidentais da Rússia (São Petersburgo e Moscou), criou uma expressiva classe operária oriunda do campesinato.
A centralização operária nessas indústrias era tão grande que superava as mais desenvolvidas economias do ocidente europeu. Contudo, esse aumento populacional aprofundou os problemas sociais na Rússia. O desemprego aumentou e a produção agrícola se tornou insuficiente para a alimentar a população, o que acabou gerando revoltas.
Visando resolver a situação, o czar começou a estimular a industrialização, financiada por investimentos estrangeiros. Nas últimas décadas do século XIX, o Império Russo finalmente se moderniza. Porém, o absolutismo e as precárias condições de vida persistiram no campo e na cidade, onde os salários eram muito baixos.
A industrialização foi feita com capital estrangeiro, com isso, a Rússia não possuía uma burguesia local que alteraria a dinâmica política do país.
Em contrapartida, os operários – ainda em número escasso – se organizavam cada vez mais, formando grupos de oposição ao czarismo. Os partidos políticos eram proibidos, porém, vários existiam clandestinamente.
O Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR), liderado por Plekhanov e Lenin, influenciado por ideais marxistas, era o mais famoso deles.
As divergências de pensamentos dentro do partido, fizeram com que o mesmo se fragmentasse em dois:
Bolcheviques (maioria, em russo): constituíam a maioria do partido. Liderados por Lenin, defendiam a revolução socialista e a ditadura do proletariado, que seria o momento em que o governo seria controlado pelos trabalhadores. Para alcançar tal objetivo, a luta armada seria necessária.
Mencheviques (minoria, em russo): Para esse grupo, a revolução deveria ser moderada, ou seja, para o proletário alcançar o poder, seria necessário o amadurecimento do capitalismo, para depois ocorrer a instalação do socialismo, que seria alcançado de modo pacífico, por via das eleições
Domingo Sangrento
A Rússia guerreou contra o Japão, em 1904, pelos territórios da China e da Manchúria. Essa Guerra ficou conhecida como Guerra Russo-Japonesa.
A Rússia saiu derrotada, aumentando a rejeição do povo ao czar. As consequências da guerra foram sentidas principalmente pelos camponeses, que abasteceram o exército russo com seu contingente.
A fome, o frio e as mortes provocadas pela guerra levaram grande parte da população de São Petersburgo a exigirem ações por parte do czar.
Com isso, em janeiro de 1905, a multidão de insatisfeitos, comandada pelo padre Gregori Gapone, se dirigiu – desarmados – ao Palácio de Inverno, com o intuito de manifestar suas insatisfações por meio de um abaixo assinado com várias exigências (jornada de trabalho para 8 horas, eleição de uma Assembleia Nacional, liberdade de reunião, entre outros).
Foram recebidos a tiros pelas tropas, ordenadas pelo czar Nicolau II. A violenta repressão deixou centenas de mortos e fortaleceu a oposição de vários setores da sociedade ao czar. Soldados, operários e camponeses formaram conselhos denominados de sovietes.
Devido a pressão revolucionária, o czar promulgou uma Constituição e convocou eleições para a Duma (Parlamento). Dessa maneira, a Rússia passou a ser uma monarquia constitucional. Contudo, o czar ainda concentrava grande parte do poder em suas mãos, deixando o Parlamento com uma atuação limitada.
Tal reação do czar conseguiu conter as revoltas. Entre 1907 e 1914 o país viveu um período de certa calmaria.
A Rússia e a Primeira Guerra Mundial
A Rússia, durante a Primeira Guerra Mundial, integrou a Tríplice Entente, juntamente com a Inglaterra e a França. As sucessivas derrotas e os gastos com o conflito aprofundaram a pobreza no país. Dessa maneira, a Rússia se viu militarmente devastada e economicamente prejudicada.
O início da Revolução Russa
Em fevereiro de 1917, uma manifestação em prol do Dia Internacional da Mulher, em São Petersburgo, se transformou em um protesto geral. A manifestação conseguiu o apoio dos soldados insatisfeitos com o resultado da Rússia na guerra. As manifestações ganharam força.
Ainda no mês de fevereiro, o povo, apoiado com soldados, invadiu o palácio e forçou a renúncia de czar. Os soldados e operários constituíram os sovietes (ou Conselhos Operários).
Dessa maneira, a burguesia e a aristocracia se organizavam na Duma e os trabalhadores, soldados e camponeses organizavam-se nos sovietes. Esse movimento ficou conhecido como “duplo poder”.
As principais reivindicações eram:
- A saída da guerra;
- Medidas para acabar com a fome;
- Distribuição de terras.
No mesmo mês, os mencheviques – apoiado pela burguesia russa – ocuparam o poder. Além dos mencheviques, um governo liberal se instaurou na Rússia, a República de Duma.
Tais governos adotaram medidas a fim de agradar a burguesia, como a redução da jornada de trabalho para 8 horas, liberdade de imprensa, entre outros. Contudo, os mencheviques não atenderam às reivindicações dos camponeses por terras, nem a dos operários por melhores salários.
Com isso, a oposição bolchevique se fortaleceu. Leon Trotsky, organizou a Guarda Vermelha. Lenin, que estava exilado fora do país, retornou clandestinamente e também passou a organizar os sovietes. Para Lenin, a revolução era o único meio dos operários chegarem ao poder.
Tanto Trotsky quanto Lenin apoiavam os lemas “pão, paz e terra” e “todo poder aos sovietes”. Apoiavam a reforma agrária e passaram a recrutar operários e camponeses para a tomada do poder.
Após alguns meses de organização, os bolcheviques derrubaram a República da Duma e instalaram o Conselho dos Comissários do Povo, comandados por Lenin. Tal episódio ficou conhecido como Revolução Bolchevique.
Começou-se, então, o processo da reforma agrária. Nobreza, Burguesia e terras da Igreja foram desapropriadas e redirecionadas aos camponeses. As indústrias começaram a ser controladas pelos operários e os bancos, estatizados. Todas essas ações eram sustentadas pelos ideais marxistas.
No início de 1918, a Rússia se despede da Primeira Guerra Mundial, assinando um tratado de paz (Brest-Litovsk – 1918) com a Alemanha. Aceitou entregar a Estônia, Ucrânia e Finlândia aos alemães .
O governo – se mostrando autoritário – proibiu a organização de outros partidos políticos, apenas o Partido Comunista Russo (antigo POSDR) era permitido.
Em julho de 1918, o czar Nicolau II e sua família foram assassinados, no intuito de evitar qualquer tentativa de restauração monárquica.
Guerra Civil na Rússia (1918 a 1921)
Insatisfeitos com a retirada do poder, os mencheviques se uniram aos aristocratas. Apoiados por diversos países – Reino Unido, França, Japão e Estados Unidos – os mencheviques reagiram.
O Exército Branco (menchevique) entrou em confronto com o Exército Vermelho (bolchevique), iniciando assim, a Guerra Civil na Rússia.
Os bolcheviques confiscaram toda a produção russa para a guerra, – não recebiam financiamento externo – uma política econômica chamada de “comunismo de guerra” e perseguiu a oposição.
Em 1921, o Exército Vermelho vence seus “inimigos”. Como ocorreu uma paralisação da economia em prol da guerra, Lenin estabeleceu a Nova Política Econômica (NEP), que consistia em medidas capitalistas temporárias, com a criação de empresas privadas e comércio em pequena escala.
O governo autorizou a entrada de capital estrangeiro, com o intuito de “preparar o terreno” para o socialismo. O Estado se fazia totalmente presente no âmbito econômico. A NEP alimentou o crescimento econômico industrial e agrícola na Rússia, mas em contrapartida, aprofundou as desigualdades sociais.
Todo esse movimento moldou a forma de organização da União Soviética (1922), principalmente a partir de 1928, quando houve uma estatização das terras e o primeiro Plano Quinquenal. Esse plano iniciou o planejamento da economia soviética, impulsionando a industrialização da mesma.
Consequências da Revolução Russa
Buscando valores igualitários e libertários, Lenin lutou por uma sociedade desigual. Algumas consequências desse período, foram:
- Fim do regime czarista;
- Imposição do regime socialista soviético;
- Desafiou o modelo capitalista;
- Reforma agrária;
- Estatização dos meios de produção (indústrias e bancos);
- Criação da União Soviética (URSS);
Conclusão
A Rússia foi o primeiro país a tentar colocar em prática ideias socialistas, elaboradas por Marx e Engels.
Após a morte de Lenin em 1924, iniciou-se uma disputa pelo poder entre Trotsky e Stalin.
Stalin vence e assume o poder, ao mesmo tempo em que Trotsky é expulso do país. Se exilou em diversos países com sua esposa e neto – únicos membros vivos de sua família – até se estabelecerem, por fim, no México, onde foi assassinado em 1940.
Com Stalin (1924-1953), a URSS viveu um período de governo totalitário e arbitrário.
Aliada aos Estado Unidos e Reino Unido, a URSS foi, durante a II Guerra Mundial, um dos principais inimigos do nazismo.
Após a Guerra, ela alcançou o título de segunda maior potência mundial.
Filmes sobre a Revolução Russa
- Outubro 1928;
- Arca Russa;
- Nicholas & Alexandra.
Livros sobre a Revolução Russa
- A Revolução dos Bichos (George Orwell);
- Os Romanovs – o fim da dinastia (Robert K. Massie);
- Do czarismo ao comunismo (Marcel Novaes).
Leia também:
- Questões sobre a Revolução Russa (1917)
- Rússia – História, bandeira, mapa, economia, cultura e curiosidades
- A Crise do Socialismo no Leste Europeu
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