Naturalismo

Conhecido como a radicalização do realismo, o naturalismo foi um movimento artístico e literário baseado na observação fiel da realidade e na retratação das características biológicas do indivíduo.

naturalismo é um movimento artístico e literário conhecido por ser a radicalização do realismo. Conhecido como uma corrente mais extrema do realismo, é chamado por muitos críticos de realismo-naturalismo.

O movimento é baseado na observação fiel da realidade e na experiência, alegando que o indivíduo é determinado pelo ambiente e pela hereditariedade. Seu surgimento está associado à publicação do livro A origem das espécies (1859), de Charles Darwin.

Contexto histórico

O naturalismo surge em uma Europa imersa em profundas transformações econômicas, políticas e sociais. O século XIX foi marcado por dois grandes eventos: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa.

Com a crescente industrialização, surgiram os primeiros centros urbanos. Já com a consolidação do capitalismo financeiro, a sociedade foi dividida entre a burguesia e o proletariado, classe de trabalhadores que operavam o maquinário industrial. Nesse cenário, surgiram as teorias socialistas de Karl Marx, cuja perspectiva classista influenciou diretamente a estética naturalista.

Com o advento da Segunda Revolução Industrial e o desenvolvimento de novas invenções e descobertas, consolidou-se na Europa o cientificismo. Dessa forma, a metodologia das ciências naturais foi considerada a principal maneira de se compreender a realidade.

Nesse período de exaltação do cientificismo, Darwin propôs sua teoria da evolução das espécies e Mendel postulou suas leis da hereditariedade, dois grandes influenciadoras da corrente naturalista. O homem, então, começou a ser entendido como um produto da natureza, sujeito à seleção natural e herdeiro de características das gerações anteriores.

Além disso, durante esse cenário, propagou-se também o determinismo de Hippolyte Taine. Essa corrente filosófica e geográfica dizia que o contexto, o meio em que o indivíduo vive, determinaria suas ações.

Taine postulou que o meio, a raça e o momento determinam as atitudes e o caráter dos indivíduos, teoria que influenciou diretamente o naturalismo. Com as interpretações errôneas do determinismo, deu-se origem também a correntes teóricas do racismo científico.

Na Europa, o naturalismo se iniciou com o escritor francês Émile Zola que, influenciado pelas teorias científicas da época e pelos romances de Honoré de Balzac, tentou transpor o rigor da análise científica para a ficção. Seus principais romances são Nana (1880) e Germinal (1881).

Características

As principais características do movimento incluem: uma análise social bastante acurada de grupos marginalizados, ou seja, que não eram abordados na literatura no romantismo. Nos romances naturalistas há sempre uma valorização dos ambientes coletivos, como aglomerados e habitações. Na Europa temos Germinal como exemplo e, no Brasil, O Cortiço.

Inspirado pelo cientificismo do século XIX, surgem as seguintes características do naturalismo:

  • A exposição do lado animalesco e selvagem do homem: a fome, o instinto, a sexualidade e a zoomorfização dos personagens.
  • Determinismo: o indivíduo não é mais sujeito, mas apenas figurante da história, resultado das influências do meio em que vive.
  • Cientificismo: o homem é entendido como produto das leis naturais.
  • Objetividade e impessoalidade na narrativa.
  • Patologias sociais: as obras naturalistas priorizam esses temas, abordando as taras sexuais, os vícios, as doenças, o incesto, o adultério, etc.
  • Predominância da forma descritiva.
  • Preferência por temas cotidianos, frequentemente priorizando as relações e vivências das classes marginalizadas.
  • Obras engajadas socialmente: denúncias de aspectos socialmente retrógrados, da miséria e do sistema de desigualdades que fundamentava o capitalismo consolidado como sistema na época.

Muitas dessas teses hoje já foram derrubadas, porém, os romances têm alto valor histórico para a literatura. A maioria dos romances naturalistas apresentavam finais trágicos, que ressaltavam a supremacia dos personagens da elite sobre os personagens das classes mais pobres e operárias.

Naturalismo no Brasil

O naturalismo no Brasil teve seu início no final do século XIX. Influenciados por escritores europeus, os escritores brasileiros passaram a enxergar a literatura como instrumento de denúncia social, e não apenas como entretenimento para a classe média e para a elite brasileira.

O principal representante do naturalismo no Brasil foi o escritor maranhense Aluísio Azevedo. Seu romance O Mulato foi a primeira obra naturalista publicada no país. Nela, o olhar científico do narrador é totalmente voltado para questões raciais, isso porque Raimundo, o protagonista do livro, é filho de um fazendeiro com uma escrava.

Raimundo apaixona-se por sua prima Ana Rosa, mas o tio não permite o casamento pela cor do rapaz, considerado mulato na época. Como na maioria dos romances naturalistas, o destino do protagonista é determinado pela sua origem racial.

Aluízio também é o autor da mais famosa obra naturalista brasileira: O Cortiço. O romance é marcado pela retratação da pobreza, hipersexualização dos personagens, vícios e crimes, além disso, a homossexualidade é retratada como uma patologia, associada à doença, por meio do personagem Albino.

Outro importante escritor naturalista brasileiro foi Adolfo Caminha, autor de Bom-crioulo, primeira obra a tratar a homossexualidade como tema principal. Raul Pompeia também se destacou no cenário, com sua obra O Ateneu, que retrata a realidade de um colégio interno para rapazes. Nessa obra, o meio social é o alvo das críticas do escritor, como se percebe no parágrafo abaixo:

É uma organização imperfeita, aprendizagem de corrupção, […]. O merecimento não tem cotação, cobrejam as linhas sinuosas da indignidade, aprova-se a espionagem, a adulação, a humilhação, campeia a intriga, a maledicência, a calúnia, oprimem os prediletos do favoritismo, oprimem os maiores, os mais fortes, abundam as seduções perversas, […].

Naturalismo em Portugal

O naturalismo em Portugal tem seu início na década de 1875 com a publicação da obra O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz, que engloba diversas características naturalistas. Outros importantes escritores naturalistas portugueses foram Francisco Teixeira de Queirós, Júlio Lourenço Pinto e Abel Botelho.

Apesar de ter grande destaque na literatura, o naturalismo também teve grande influência nas artes plásticas e no teatro. Na pintura, destacaram-se António Carvalho da Silva Porto, João Marques da Silva Oliveira e Columbano Bordalo Pinheiro.

Em Portugal, o movimento é introduzido por Marques de Oliveira e Silva Porto. Destacam-se, internacionalmente, o Grupo do Leão, constituído por artistas que se reuniam na Cervejaria Leão de Ouro em Lisboa. As oito exposições realizadas pelo grupo foram marcantes e muito visitadas, tendo inclusive o rei D. Fernando II adquirido suas obras.

O grupo torna-se uma espécie de vanguarda, considerando-se moderno, como já dizia o nome de sua primeira mostra realizada, as Exposições de Quadros Modernos.

Columbano Bordalo Pinheiro
Grupo do Leão, do pintor português Columbano Bordalo Pinheiro (1885).

Prosa naturalista

A prosa naturalista é um estilo de escrita que apresenta uma narrativa lenta, impessoal, rebuscada em detalhes e a tomada da postura analítica e científica. No Brasil, Aluísio de Azevedo é a principal referência da prosa naturalista.

A narrativa da prosa naturalista preza pela apresentação do ambiente físico e social de maneira extremamente detalhada. Por meio de uma postura científica da realidade, a narrativa é impessoal e o retrato dos personagens é individual.

Além disso, a prosa naturalista é marcada pelo determinismo, que define que o homem é visto como produto do meio em que ele habita, pelo resultado do homem com vícios, desejos incontroláveis e problemas de caráter. É da prosa naturalista a atenção destinada somente a material científico.

Diferença entre realismo e naturalismo

O realismo europeu surgiu na França, em 1856, com a publicação da obra Madame Bovary, de Gustave Flaubert. Já no Brasil, esse estilo foi inaugurado com o livro Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, único autor genuinamente realista, porque não aderiu ao naturalismo posteriormente.

Apesar do realismo e naturalismo terem em comum o olhar objetivo sobre a realidade, eles se diferiram na análise que o narrador faz de suas personagens. No realismo, o foco era a análise psicológica, o entendimento do comportamento humano baseado na mente humana. Já no naturalismo, o plano mental dos personagens é deixado de lado e foca-se em seus traços instintivos e características biológicas.

Sendo assim, os autores naturalistas abraçaram as teorias científicas da época, enquanto os do realismo, as rejeitaram. Machado de Assis, portanto, não recorreu ao cientificismo, como fizeram Aluísio Azevedo, Adolfo Caminha e Raul Pompeia.

Van Gogh
Exemplo do naturalismo na pintura: a obra Os comedores de batatas, de Van Gogh, retrata a miséria e a desesperança de uma família de camponeses (1885).

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