Dadaísmo
Considerada a vanguarda europeia mais polêmica e irreverente, o dadaísmo foi um movimento que questionava a arte vigente da época. Surgido no ápice da Primeira Guerra Mundial, apresentou caráter ilógico, nonsense e de protesto.
O dadaísmo, conhecido também como movimento dadá, pertencente às vanguardas europeias do século XX. O movimento carregava como lema a destruição como criação, questionando a arte por meio da ironia.
Além disso, também foi um movimento propulsor das ideias surrealistas, por meio de seu caráter ilógico, nonsense, antirracionalista e de protesto. Podemos dizer que os principais representantes do dadaísmo foram Hugo Ball, Hans Arp, Tristan Tzara e Marcel Duchamp.
Contexto histórico
O dadaísmo, surgido em meados de 1916, teve seu início em um mundo devastado pela Primeira Guerra Mundial. O horror e a violência da guerra destruíram o senso lógico e a suposta ordenação da civilização, culminando nos artistas um desprezo pelos valores culturais vigentes.
Para eles, o bom senso estético, a alta cultura e o ideal de beleza desses valores permitiam passivos o horror, o massacre e a violência da guerra. Como ruptura desse modelo, a arte deveria negar os valores vigentes, levantar a bandeira do absurdo e escandalizar o público visto que, a ruína da guerra não parecia chocar o suficiente para por fim ao combate.
Os artistas dadaístas franceses e alemães exilaram-se na Suíça, devido à discordância do posicionamento de seus países frente à Primeira Guerra. Surge, então, dentro de um cabaré em Zurique, o movimento dadaísta.
O Cabaret Voltaire foi fundado por um grupo de artistas refugiados com tendências anarquistas como um lugar para manifestações políticas e artísticas. O intuito principal era chocar a burguesia da época e criticar a arte tradicionalista, a guerra e o sistema. Inspirados no futurismo, os artistas dadaístas lançaram seu primeiro manifesto, escrito por Hugo Ball, cujo primeiro parágrafo dizia:
Dadá é uma nova tendência da arte. Percebe-se que o é porque, sendo até agora desconhecido, amanhã toda a Zurique vai falar dele. Dadá vem do dicionário. É bestialmente simples. Em francês quer dizer ‘cavalo de pau’. Em alemão: ‘Não me chateies, faz favor, adeus, até à próxima!’. Em romeno: ‘Certamente, claro, tem toda a razão, assim é. Sim, senhor, realmente. Já tratamos disso’. E assim por diante. Uma palavra internacional. Apenas uma palavra e uma palavra como movimento.
Características do dadaísmo
Assim como todas as vanguardas europeias, o dadaísmo tinha como principal característica um caráter contestador da arte. Desde a escolha do nome do movimento até seu manifesto e suas obras publicadas, o movimento é por si só considerado anárquico e provocador.
Tendo a crítica ao capitalismo como pilar, o movimento defendeu uma arte espontânea, baseada no nonsense, ou seja, na completa falta de sentido. O dadaísmo é associado a duas técnicas artísticas:
Colagem
Técnica em que pedaços de diferentes tipos de materiais, como papel e tecido, são colados um ao lado do outro ou sobrepostos, criando uma imagem resultante das combinações.
Ready-made
Deslocamento de um objeto de seu contexto para outro, visando provocar estranhamento. Um exemplo é a obra de arte Fonte, de Marcel Duchamp, em que um mictório é deslocado de seu contexto original para ser exposto em uma galeria de arte.
Além disso, o movimento dadá também tem como características a espontaneidade, improvisação e irreverência artística. Como o sentimento de nacionalismo era usado na guerra para alimentar nas nações a crença de superioridade em relação a outra, o dadaísmo negava qualquer tipo de nacionalismo e patriotismo.
Ao romper com os modelos tradicionais e clássicos, a nova vanguarda apresentou um caráter anarquista e niilista, com busca ao caos e à desordem.
Principais obras do dadaísmo
- A Fonte (1917) – Marcel Duchamp.
- A Roda de Bicicleta (1913) – Marcel Duchamp.
- Monalisa com bigode (1919) – Marcel Duchamp.
- Corte com a faca de cozinha (1919) – Hannah Hoch.
- Cabeça Mecânica (1920) – Raoul Hausmann.
- O rouxinol chinês (1920) – Max Ersnt.
- O presente (1921) – Man Ray.
- Lágrimas de Vidro (1932) – Man Ray.
- Cabeça com bigode (1932) – Hans Arp.
- Prelúdio para um braço quebrado (1915) – Marcel Duchamp.
- O vidro grande (1915-1923) – Marcel Duchamp.
- Ubu Imperador (1923) – Max Ernst.
Principais artistas
Hugo Ball (1886–1927)
Poeta, filósofo, romancista, ator, jornalista e crítico social, Hugo Ball é considerado um dos principais representantes do movimento dadaísta.
Fugindo da Primeira Guerra Mundial, o escritor alemão se exilou na Suíça, onde trabalhou como pianista e, posteriormente, criou o Cabaret Voltaire. Ball foi autor do primeiro manifesto dadaísta.
Hans Arp (1886–1966)
Escultor, pintor e poeta alemão, também conhecido como Jean Arp, estudou na Escola de Artes e Ofícios de Estrasburgo, na Academia de Artes Weimar e na Académie Julian, em Paris.
Conhecido por seu trabalho com materiais não convencionais e técnicas de colagem, rejeitou fortemente a tradição acadêmica.
Tristan Tzara (1896–1963)
O poeta romeno Tristan Tzara foi um dos principais fundadores do dadaísmo. Influenciado por escritores simbolistas, escreveu inúmeras poesias dadaístas.
Com o fim do movimento, Tzara aderiu ao surrealismo e posteriormente filiou-se ao partido comunista francês, onde assumiu um teor mais político em suas obras.
Max Ernst (1891–1976)
Max Ernst foi um pintor, escultor e artista gráfico alemão. No início de sua carreira, teve uma breve passagem pelo cubismo, mas logo aderiu ao dadaísmo.
Ernst se dedicou a copiar as técnicas de pintura e desenho dos antigos mestres, dentre eles August Macke, pioneiro do expressionismo alemão.
Marcel Duchamp (1887–1968)
Influenciado pelo Fauvismo e por Henri Matisse, o pintor e escultor Marcel Duchamp é o autor de uma das mais famosas obras dadaístas: A Fonte, assinada com o pseudônimo de R. Mutt.
Adepto do cubismo, criou seus primeiros ready-mades, como a obra Roda de bicicleta em 1913.
Dadaísmo no Brasil
O dadaísmo no Brasil influenciou alguns artistas plásticos, porém a influência maior do movimento foi na literatura. Na busca de algo arrojado e polêmico, os artistas e escritores dos primeiros anos do modernismo no Brasil tiveram grandes influências do movimento dadaísta.
Flávio Carvalho foi um dos grandes artistas a representar o movimento artístico no país, destacando-se por sua convivência direta com os dadaístas na Europa.
Ismael Nery é outro exemplo, o artista modernista adicionou às suas pinturas características dessa tendência artística, período auge de sua carreira.
Na literatura brasileira, o grande propulsor do movimento dadaísta foi o escritor Mário de Andrade. Percussor do movimento modernista no país, aproveitou a tendência para praticar em seus poemas as características nonsense do dadaísmo.
Na obra Paulicéia Desvairada, o autor exibe um poema chamado Ode ao Burguês, com inúmeras características dadaístas. Confira o trecho abaixo:
Eu insulto o burgês! O burguês-níquel,o burguês-burguês!A digestão bem feita de São Paulo!O homem-curva! o homem-nádegas!O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! (…)
Dadaísmo na literatura
O movimento dadaísta se difundiu nas artes plásticas e também na literatura. Os poetas dadaístas defendiam a disposição aleatória das palavras, a falta de lógica e irracionalidade, próprias do dadaísmo. Dessa forma, os poemas eram marcados pela banalização das rimas e da construção poética.
Os principais nomes da literatura dadaísta são Hugo Ball, autor dos chamados poemas sonoros ou poemas fonéticos (sem palavras), e Tristan Tzara, cuja poesia traz sílabas sem sentido, elipses e imagens obscuras.
Raoul Hausmann destaca-se com o chamado poema-pôster ou poema-cartaz, como sua obra OFFEAH, poema optofonético, que se resume a um cartaz onde está impresso: “OFFEAHBDCBDQ,,qjyE!”. Antes das vírgulas, há o desenho de certa mão com indicador apontado para baixo.
No Brasil, não houve propriamente uma literatura dadaísta. No entanto, o modernismo e o concretismo sofreram fortes influências dessa vanguarda europeia. A poesia concretista apresenta alta semelhança com a poesia sonora ou fonética dadaísta.
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