Educação em 2020: Maiores perdas e ganhos na pandemia
Especialistas, estudantes e professores debatem sobre a importância do ano de 2020 para a educação brasileira.
Com a pandemia do novo coronavírus, milhões de alunos ficaram sem opções no âmbito educacional. Muitos estudantes não têm acesso à internet para participar do estudo remoto, e alguns precisaram trabalhar para ajudar na renda dentro de casa, já que muitas famílias perderam o emprego.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estima que mais de 1,5 bilhões de alunos foram afetados durante a pandemia. Números preocupantes, já que o vínculo com a escola está cada vez menor, resultando em um abandono escolar crescente.
No Brasil, as escolas ficaram fechadas por mais tempo do que no resto do mundo. Foram entrevistadas mil e quinhentas famílias para uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) em parceria com o Unicef. O levantamento apontou que apenas 3% dos brasileiros voltaram a ter algum tipo de atividade presencial.
A evasão escolar é uma das maiores preocupações para 2021. Muitos pais de família estão preocupados com o desinteresse dos filhos pelas aulas remotas, e isso dificulta o acesso à aprendizagem.
Ao mesmo tempo, especialistas apontam que 2020 não foi um ano perdido para os estudantes. Eles aprenderam a incluir a tecnologia como aliada nos estudos. Pesquisas realizadas pelo Datafolha apontam que 71% dos pais estão acompanhando mais a vida estudantil dos filhos, além de uma maior valorização do professor.
Além disso, a Câmara dos Deputados aprovou a regulamentação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que é o dinheiro que financia grande parte da educação básica, sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro. O repasse que antes era de 12%, agora terá que ser até 23% no ano de 2026.
Sendo assim, a BBC News Brasil conversou com alunos, professores e especialistas para chegar a uma conclusão. Afinal, quais foram as perdas e ganhos para a educação no Brasil em 2020?
Os desafios para a educação no Brasil em 2020
Luciana Viegas, professora de língua portuguesa, contou à BBC que os alunos estavam cada vez mais distantes da escola e do ensino:
O que tivemos foi a desistência: os alunos e as famílias desistiram de estudar. A gente vê a desigualdade social gritando na nossa cara. Tenho alunos convivendo com agressores em casa. Ou com parentes que acham que o ensino não é tão importante. (…) Ou são crianças que precisam ir para a rua vender bala no farol. A gente (professores) está se reinventando todos os dias, mas fica de mãos atadas. A criança que tem que escolher entre trabalhar e estudar não vai estudar.
Para Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (Ceipe-FGV), um dos maiores pontos é a desigualdade social. “Pais de classe média puderam trabalhar de casa, enquanto outros tiveram que ir à luta. As crianças também estão sob mais riscos de exploração sexual, trabalho infantil e sem a rede de proteção social da infância que é a escola”, concluiu.
Pesquisas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que os primeiros 12 anos de vida escolar são fundamentais para o aluno, e se houver algum tipo de impacto durante esse período, eles poderão ter uma renda cerca de 3% menor durante toda a vida.
Em um comunicado recente, a Unicef afirmou que esse momento poderá afetar a vida dos alunos. “O longo tempo de fechamento de escolas e o isolamento social têm impactado profundamente a aprendizagem, a saúde mental e a proteção de crianças e adolescentes”.
O ano letivo de 2021 é uma incerteza para milhares de estudantes e professores. As redes e os sistemas de ensino locais que decidirão sobre o futuro das aulas presenciais pelo parecer do Conselho Nacional de Educação. Com isso, a volta às aulas deverá acontecer gradativamente.
Claudia Costin afirma que o ano foi de descoordenação: “Inicialmente (no governo Bolsonaro), o ministério estava mais preocupado com a guerra ideológica do que com a coordenação geral da educação. (Durante a pandemia), em vários países, o governo federal teve papel muito importante em coordenar aulas online”.
Os ganhos de 2020
O esforço individual de professores, alunos, e pesquisadores trouxeram ganhos para um ano tão difícil como 2020.
Em Manaus, a escola municipal Waldir Garcia teve um grande desafio para iniciar as aulas remontas. “Nas casas de 27 alunos não havia nem televisão, nem celular nem internet, e eles estavam passando fome”, conta Lúcia Santos, diretora da escola.
A equipe da escola montou uma vaquinha para ajudar os alunos carentes a comprar materiais eletrônicos para dar continuidade aos estudos.
Lacerda, que é diretora da fundação educacional SM no Brasil e ex-secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), comenta sobre a inclusão digital em 2020. “Isso nos faz refletir sobre como a escola em geral está defasada e que não podemos simplesmente voltar ao que era antes (da pandemia). A escola precisa refletir sobre o tipo de aprendizagem — só decorar fórmulas não dialoga mais com esta geração (de crianças)”.
Veja também:
- Ministro da educação defende o homeschooling, mas ressalta a importância das aulas presenciais
- Ministério da Educação autoriza ensino remoto enquanto durar pandemia
- Curtas-metragens de animação que auxiliam na Educação Infantil
Os comentários estão fechados, mas trackbacks E pingbacks estão abertos.