Próxima grande pandemia pode surgir no Brasil, revela cientista

Alerta vem do pesquisador, o ecologista David Lapola, como consequência da interferência humana e a devastação na Amazônia.

A história já é familiar: a interferência humana na natureza pode acarretar no desequilíbrio ecológico e transmitir doenças do coração da floresta. Como alerta o cientista David Lapola, com a degradação da Amazônia, a próxima grande pandemia pode surgir no Brasil.

Segundo o pesquisador, “a Amazônia é um potão de vírus”. E ao devastá-la, estamos colocando a teste a nossa própria sorte, complementa. A maior floresta tropical do mundo ainda possui grandes áreas preservadas, porém “cada vez há mais degradação, mais desmatamento”, observa Lapola.

“Quando você gera esse desequilíbrio ecológico, você altera essas cadeias e nessa hora pode acontecer esse pulo do vírus [dos animais para os humanos]”, esclarece o pesquisador, em entrevista à AFP.

Com a formação em Ecologia, Lapola recorda que em décadas passadas o mundo já sofreu com o vírus HIV, o ebola e a dengue. “Foram todos vírus que acabaram ou surgindo ou se disseminando de uma maneira muito grande a partir de desequilíbrios ecológicos”.

E o ecologista afirma que, de acordo com estudos, essa transmissão acontece com mais frequência no sul da Ásia e na África, onde são localizados a maior parte das famílias de morcegos, mas que a biodiversidade da Amazônia poderia qualificar a região como “o maior repositório de coronavírus do mundo”.

“A culpa não é dos morcegos, não é para sair matando morcego por ali”, elucida o cientista do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“É mais uma entre ‘n’ outras razões pra gente não fazer esse uso irracional que agora está aumentando ainda mais da Amazônia, a nossa maior floresta”, salienta.

“Refundar” a relação com a floresta
Lapola lembra que o cenário atual, com a disseminação do coronavírus, que já acarretou em 13,2 mil mortes no Brasil (dados atualizados em 14 de maio), complica ainda mais a guarda da floresta tropical, já em ameaça.
“Primeiro a gente tem que atacar essa crise sanitária e todo o esforço tem que ir para isso (…) Mas é preocupante porque a gente está tendo um aumento muito expressivo agora, não sendo ainda a estação de desmatamento”, exprime.
De acordo com os dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), entre janeiro a abril de 2020 foram desmatados 1.202 km² de floresta.
O número representa o aumento de 55% se comparado ao mesmo período de 2019, quando o presidente Jair Bolsonaro recebeu duras críticas no Brasil e mundo por minimizar o progresso dos incêndios que atingiram extensões recorde de floresta.

Bolsonaro, que legitima a abertura da Amazônia à exploração de minério e à agropecuária, encaminhou esta semana um contingente militar para frear o desmatamento. Os números irão comprovar se esta foi uma estratégia bem-sucedida, declara Lapola.

“A questão mais grave é a gente usar o Exército pra tudo e qualquer questão no Brasil. Isso mostra um pouco uma certa crise das nossas instituições e um Ibama desaparelhado”, evidencia.

“Está provado que a questão do desmatamento é suscetível a quem nos governa. A boa notícia é que os governos são passageiros. Eu espero que numa próxima gestão se dê mais atenção a essa questão e a gente trate com mais zelo esse enorme, talvez o maior, tesouro biológico do planeta”, expõe.

Na perspectiva do cientista, também é preciso “refundar a relação da sociedade com as florestas”. Lapola enfatiza que, ainda que a disseminação de novas doenças a partir do coração da floresta seja “um processo muito complexo pra gente poder prever, é melhor usar o princípio da precaução e não testar muito a nossa sorte”.

*Com informações de AFP

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