Carybé
Conheça as diversas facetas do pintor brasileiro Carybé e seu imenso legado cultural deixado para o país.
Hector Julio Páride Bernabó, artisticamente conhecido como Carybé, foi um dos mais importantes pintores brasileiros. Além de pintor, atuou também como escultor, gravador, desenhista, oleiro, muralista, pesquisador, historiador e jornalista.
É conhecido por suas caracterizações de mulheres negras, principalmente baianas, do período colonial e da cultura africana no Brasil.
Biografia resumida
Hector Julio Páride Bernabó nasceu no dia 7 de fevereiro de 1911, na província de Buenos Aires. Filho de Enea Bernabó e Constantina González de Bernabó, é o caçula de cinco filhos. Com apenas seis meses, mudou-se com sua família para a Itália, onde ficou até 1919.
Em um cenário de pós-Primeira Guerra Mundial, a família decide retornar ao Brasil, especificamente, ao Rio de Janeiro. Desde muito cedo, teve contato com a arte através da mãe. Em 1928, ingressa na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro.
Escoteiro do Clube de Regatas do Flamengo, seu bando era caracterizado por apelidos de nomes de peixes. Hector escolheu o peixe amazônico Carybé, apelido o acompanhou pelo resto de sua vida. É nesse período que deixa a Escola de Belas Artes e retorna com a família para a Argentina.
É em sua terra natal que Carybé começa a desenvolver seus primeiros trabalhos artísticos. Devido à crise econômica, começa a desenvolver pinturas e desenhos para jornais, buscando uma fonte de renda. É nesse período também que trabalha como pandeirista de Carmen Miranda.
Como desenhista do jornal El Pregón, viaja para diversos países para enviar ao jornal desenhos e uma breve reportagem sobre os lugares que visitara. Em 1939, faz sua primeira exposição conjunta, com o artista Clement Moreau.
Sete anos depois, casa-se com a argentina Nancy Colina Bailey, um ano depois, teve seu primeiro filho: Ramiro. No final de 1949, Carybé retorna ao Brasil devido a uma bolsa de trabalho na Bahia. É em Salvador o local de sua mais importante obra de arte.
Atuou em um filme de Lima Barreto como diretor artístico, desenhista e figurante. Em seguida, participa da III Bienal de Arte de São Paulo, onde recebe o 1º Prêmio Nacional de Desenho.
Já nos anos 60, publicou os livros As Sete Portas da Bahia e Olho do Boi. Além disso, participou de exposições nas cidades de Bagdá e Roma e produziu diferentes painéis em Salvador, Rio de Janeiro e Recife.
Conhece o escritor Gabriel García Márquez, com quem inicia uma parceria, tornando-se o ilustrador oficial dos livros do autor.
Desde então, começa a ilustrar livros de Jorge Amado, publica seu primeiro álbum de xilogravuras, produz duas esculturas no Rio de Janeiro para o Aeroporto Internacional do Galeão e participa de inúmeras exposições por todo o mundo.
Deixando um imenso legado para a cultura brasileira, Carybé morre em Salvador no dia 1° de outubro de 1997. O artista nos deixou como herança cultural mais de 5 mil trabalhos, entre pinturas, desenhos, esculturas e esboços.
Estilo artístico
Apaixonado pela Bahia, suas produções revelam muito o espírito baiano, revelando o dia a dia do povo, sua cultura popular, folclore e belezas naturais.
A arte de Carybé é marcada principalmente pela simplicidade de seus traços e pelo domínio de diversas técnicas. Além disso, as obras possuem fortes traços realistas.
Por frequentar terreiros de candomblé, produziu diversos trabalhos voltados para a cultura afro-brasileira, com enfoque nos ritos e orixás. Devido à magistralidade das obras, conquistou um importante título de honra do Candomblé, o Obá de Xangô.
Embora pintasse com realismo, Carybé também desfrutava de uma imensa liberdade criativa, privilegiando sempre as formas humanas. Essas figuras apresentam características únicas, são esbeltas e longilíneas.
Pinturas
Traços leves, cores vivas e religiosidade baiana são as características marcantes das obras de Carybé. O sincretismo religioso, os rituais africanos, a capoeira, o candomblé, tal como as diversas manifestações culturais da Bahia inspiravam o artista.
Os personagens de suas obras eram pessoas comuns e cotidianas: lavadeiras, pescadores, jogadores de capoeira, entre outros. Parte de sua produção artística se encontra no Museu Afro-Brasileiro de Salvador, totalizando 27 painéis que simbolizam os orixás baianos, produzidos em madeira de cedro.
Uma de suas obras mais conhecidas é o conjunto de painéis Os povos afros, os Ibéricos e Libertadores, de 1988. Os painéis fazem parte da decoração do mural do Memorial da América Latina, situado no bairro da Barra Funda, em São Paulo.
Murais e painéis
Além de ilustrações, pinturas e esculturas, Carybé também produziu inúmeros painéis e murais. A temática é a mesma das pinturas: o estado da Bahia. Os murais se localizam quase sempre no hall ou na parte externa dos edifícios.
Carybé é sem dúvidas o artista com maior número de obras integradas aos mais variados empreendimentos, como: edifícios comerciais, residenciais, escolas e casas de particulares. Em seus murais, percebe-se sempre a valorização e exaltação de algumas imagens da cidade de Salvador, sua história colonial e matrizes culturais.
As obras encontram-se espalhadas pelo Comércio, MAM-BA, Praça Castro Alves, Piedade, Pelourinho, Liberdade, Campo Grande, Graça, Barra, Centro Administrativo da Bahia (CAB), Iguatemi, Pituba e Caixa D’Água.
Outras produções
Em suas obras, Carybé apresentava o domínio de diversas técnicas. Em uma mesma obra, mesclava concreto, pintura sobre azulejos e mural em cimento e madeira. Essa mesclagem é percebida principalmente em seus murais e painéis.
Além das marcas realistas presentes em suas pinturas, Carybé apresentava também características do Surrealismo em algumas obras. Na pintura abaixo podemos observar personagens transfigurados em peixes, aves, bois e cavalos, o que nos remete ao realismo fantástico latino-americano de Gabriel García Márquez.
Sua versatilidade e identidade o transformaram em um dos maiores artistas brasileiros. O pintor baiano nascido na Argentina nos deixou mais de 5 mil trabalhos, entre pinturas, desenhos, esculturas e esboços.
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